Proteção

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Na manhã seguinte, percebi que Jason não apareceu para tomar café, e isso me deixou preocupada. Imaginei que ele poderia estar dormindo ainda, mas olhei para a porta do seu quarto e vi que ela estava aberta, e eu me lembro de tê-la fechado ontem a noite quando eu saí de lá.

Pra onde será que ele foi?

—– O que houve amor? — Christian pergunta — Parece preocupada.

—– Não, não é nada — Sorri um tanto sem graça.

Sua tia me encara com olhar de "Eu sei no que está pensando". E essa simples hipótese aumenta ainda mais a minha aflição.

Desvio o olhar para o Sr Dave.

—– O senhor está bem?

—– Estou sim, minha filha, obrigada por perguntar — Responde com uma voz cansada.

—– Que bom, fico feliz por isso.

Cristian sorri para mim, grato pela minha preocupação em relação ao  seu pai. Quando na verdade eu só estava procurando uma forma de fugir da vontade incontrolável de ter que ir atrás de Jason.

Não é possível que só eu esteja sentindo a ausência dele, ninguém nem sequer fala o nome dele nesta casa, é como se ele nem morasse aqui.

Aproveito que Cristian vai pescar com o pai, e decido procurar por jason,  dessa vez vou tranquila porque sei que minha intenção é apenas ajudar.

Vou no seu quarto e percebo que tudo está em devida ordem como se nada tivesse acontecido.

Eu até poderia acreditar que tudo não passou de um sonho, se não fosse a parede em branco e os estilhaços juntados em um canto.

Ele deve está muito mal mesmo, não é do tipo que arruma o quarto.

Procuro na mansão inteira, mas não o encontro, até que lembro do jardim.

Eu reconheceria aqueles cabelos dourados em qualquer lugar.

Ele estava sentado em um banco com uma rosa vermelha em uma das mãos.

Me aproximo com passos lentos, pra não correr o risco de assusta-lo.

—– Não quero sua pena, Nora —Ele diz sem me olhar — Guarde pra si mesma

Fico em silêncio porque tenho medo de dizer qualquer coisa e acabar piorando a situação.

Até porque eu tenho muitas perguntas, principalmente sobre a Ana.

Estico a mão para tocá-lo, mas ele se levanta subitamente e sai andando pra minha decepção.

Penso em ir atrás dele, mas me conformo em esperar, eu não quero parecer evasiva.

—– Não pode ajudá-lo.

Uma voz rouca e familiar fala atrás de mim, e o meu corpo estremece.

Essa mulher só pode está me perseguindo.

Finjo não me importar com sua presença.

Ela olha pra mim como se eu fosse errada em me preocupar com uma pessoa que está sofrendo.

Em seguida ela se senta no banco próximo a mim.

Continuo em pé, tremendo de raiva dela.

Há poucos dias que estou aqui, e parece que guardo mágoa dela há anos.

—– Acontece sempre quando chega a data do acidente, ele bebe, cai e depois chega quebrando tudo para descontar sua frustração de não poder mudar o que aconteceu — Ela fala sem eu perguntar.

Acidente? Fico surpresa, porque Jason não foi tão claro com as palavras.

—– Quer dizer que você ouviu tudo ontem a noite e não fez nada?

—– Como eu sei que sempre acontece, não adiantaria ir até lá, e você também deveria ter feito o mesmo.

Me sento do lado dela, chocada com sua insensibilidade e depois a encaro.

—– Você acha que sou igual você, que vou deixar ele lá se matando. E outra eu não sabia que isso acontecia com ele, e mesmo se eu soubesse ainda sim teria o ajudado.

—– Você gosta dele, é normal ficar assim — Ela provoca com um sorriso irônico.

Fiquei com tanta raiva que a minha vontade é de socar a cara dela e fazer ela engolir as próprias palavras, mas apenas respirei fundo e voltei a encara-la.

—– Olha, eu escutei o barulho e desci pra ver do que se tratava, só isso — Tento transparecer tranquilidade — Pra mim essa conversa já deu.

Levanto do banco e saio andando.

—– Isso é problema dele, não seu, deixa que ele resolva.

Me virei e a encarei.

—– Eu não fui lá pra resolver o problema dele, fui pra ajudar.

Sinto que a minha raiva só está aumentando, e eu tenho medo de como isso pode acabar.

Então sigo o meu caminho.

—– Nora? — Ela chama, me fazendo fechar os olhos e suspirar impaciente — Você está se enganando, é melhor que assuma de uma vez.

Me viro e a encaro.

—– Eu não me importo com o que você pensa, eu faria isso por qualquer um, mesmo que se repita centenas de vezes, e isso não precisa estar relacionado com eu gostar ou não, eu sempre tomo as dores das pessoas, seja quem for, até mesmo você, e eu não preciso da sua aprovação para fazer o que sinto e tenho vontade.

As lágrimas começam a jorrar dos meus olhos, porque é tanta coisa que estou sentindo que não cabe dentro de mim e então transborda.

—– Eu não sei como você consegue ser tão fria — Falo e ela mantém um rosto apático — Jason é como um filho seu, foi criado por você, e no entanto  vive desprezado, ele saiu sozinho, se acidentou e ninguém nem se deu conta, nem mesmo o pai dele, ninguém se importa com ele aqui além de mim.

Meu coração doeu com as minhas próprias palavras.

Eva me encara por um tempo, depois  vejo um sorriso sarcástico surgir em seus lábios.

—– Você acha que está com a razão, você que diz tanto que toma as dores dos outros, por que não está tomando as dores do seu namorado?

Sou pega de surpresa pela sua pergunta, e fico arrasada porque eu não tenho a resposta certa pra ela.

Fujo dali enquanto sou tomada pelas lágrimas e uma dor aguda no peito, eu não queria que Cristian sofresse, muito menos Jason, eu queria poder evitar isso de alguma forma, protege-los dessa dor, mas entendo que não tenho controle sobre tudo, e nem psicológico para amarrar os dois em mim.

Para ficar com um, é preciso machucar o outro.

A questão é.

Quem ?

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