Capítulo 17

26 5 1
                                    

Aviso: Essa obra de ficção contém cenas incômodas envolvendo abuso psicológico e gaslighting parental.

--

— Senhorita Dupain?! — O terceiro soldado exclamou mais alto que imaginava, chamando a atenção de todos.

Mylène sem entender como havia sido reconhecida tão rápido, engoliu seco. Ao levantar a cabeça, encontrou o olhar de ninguém mais ninguém menos que o alferes Renaud, o mesmo que fora informar Gaspard da explosão na Maison d'Argent em pleno festival da primavera.

Por alguns milésimos de segundo, ela não soube como reagir. A roda da fortuna estava girando. A coincidência de ter o alferes ali revistando o Refúgio poderia ser um raio de sorte ou de azar, precisaria agir da melhor forma possível para que fosse a primeira opção. Tudo na base do improviso.

— Oh! Alferes Renaud, não é mesmo? — Ela disse, levantando-se da poltrona e aproximando-se com sua melhor pose de dama da sociedade Beau.

— A senhorita se lembra do meu nome! — Renaud perdeu a compostura por um momento, mas logo se corrigiu e se endireitou. — Quer dizer, é uma honra que a futura Marquesa de Orléans lembre o nome deste simples soldado.

— Quer dizer que... — o soldado que conversava com Tanya se manifestou.

— Sim, ela é a noiva do Capitão do Oeste — o outro soldado completou a raciocínio e se aproximou de Mylène. — Senhorita Dupain, o que faz num local como este? Não é comum que damas do seu nível frequentem clubes de...

— Por favor, prefiro que não termine a sua fala — ela o interrompeu, usando uma voz autoritária para intimidá-lo. — Sei que muitas pessoas consideram o hábito de leitura uma perda de tempo. Mas veja bem, eu mesma me graduei em Literatura na Universidade Nacional. Não seria simplesmente natural que eu continuasse estudando e discutindo o objeto da minha formação?

— Claro, senhorita. Faz todo sentido do mundo — concordou, visivelmente envergonhado.

Após o último comentário, o homem se calou. Mylène interpretou aquilo como um bom sinal para continuar sua jogada.

— Não que eu não entenda de onde vem sua indagação, soldado. Afinal, por que a futura marquesa estaria num quarto escuro no subsolo do centro da capital? É no mínimo intrigante, não é mesmo? — Tentou soar compreensiva. — Por isso, preferi não me manifestar quando os senhores entraram. Esperava passar despercebida para não causar nenhum tipo de mal entendido ou constrangimento.

— Realmente foi uma coincidência nos encontrarmos justamente neste momento, senhorita — Renaud tomou as rédeas da situação quando percebeu que seu colega permaneceria calado.

— Não é? E acredita que os nossos encontros do clube nem ao menos acontecem a esta hora? — Mylène disse, usando parte da verdade. Não costumava frequentar o Refúgio naquele horário. — Como Gaspard... Perdão, é que com o casamento se aproximando, já estamos nos habituando a usar nossos primeiros nomes. — Ela usou a forma de tratamento errada para a situação de propósito, como já fizera com o pai. — Como Vossa Excelência precisou sair urgentemente em missão do exército, ele me autorizou a vir ao clube do livro neste horário.

O verbo "autorizar" fora destacado para que eles também sentissem a autoridade do capitão ali. E aparentemente funcionou perfeitamente. Nem Renaud ou outro soldado fizeram qualquer menção de pedir para revistar o Refúgio. Ela tinha os três soldados na palma da mão.

— Bom, como Tanya disse antes, os senhores devem estar exaustos procurando pelos tais fugitivos. Por favor, tomem um copo de água ou uma xícara de chá primeiro. Vocês podem revistar a nossa biblioteca particular à vontade depois. O que acham?

As Incertezas da FortunaOnde histórias criam vida. Descubra agora