O nosso amor machuca.

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Ando calmamente pelas ruas da cidade, na tentativa de me espairecer. Paro por alguns segundos no sinal, logo começando a atravessar pela faixa de pedestres. Vejo do outro lado da rua uma silhueta bem conhecida por mim vindo na direção contrária.

Minhas pernas falham, me fazendo ficar parada – ou ficava parada, ou ia dar de cara no chão no primeiro passo que tentasse dar –, apenas a olhando se aproximar cada vez mais de mim.

Não sabia que ela havia voltado de viagem. Na verdade, não conversamos desde que Ana saiu de casa daquele jeito, citando Cecília na primeira oportunidade que encontrasse.

Quando estávamos há alguns metros de distância, ela arqueia suas sobrancelhas. Um mini sorriso se faz no canto de seus lábios enquanto ela vinha até a minha direção.

— Senti saudades, Vi. — é a primeira coisa que ela diz ao envolver meu corpo com seus braços. Mas meus braços não a enlaçam de volta, e nenhum som sai da minha garganta. — Tu não sentiu saudade minha? — Ana pergunta com a voz mais baixa, retirando seus braços por volta de meu corpo e direcionando seu olhar para meu rosto.

Ana, que me adivinhava sem tanto, me fitava com o olhar confuso, praticamente implorando silenciosamente por uma explicação.

Não ia dizer o que estava realmente acontecendo, não assim, tão diretamente. Talvez eu não iria conseguir falar em voz alta tudo o que estava vendo e sentindo. Um arrepio se espalha por todo meu corpo ao me lembrar das fotos que vi há três dias.

— O nosso amor machuca, Ana, eu quero tanto ir embora.

As palavras saíram sem eu nem perceber. Não sei se era exatamente isso que estava acontecendo, mas com certeza já era um bom começo para explicar essa confusão toda que existe dentro de mim.

Vejo a mulher abaixar a cabeça. Ela ajeita seu óculos no rosto, engolindo a seco enquanto enxugava rapidamente a lágrima que acabara de escorrer pela sua bochecha.

— Mas eu te procuro. Eu só sei te procurar. — digo, com o tom de voz mais baixo enquanto sentia meus olhos marejarem. Agora, Ana direciona seu olhar para mim, seu queixo começara a tremer.

Sinto um nó se formar na minha garganta, me dificultando ainda mais de impedir o choro que estou controlando desde que vi Ana do outro lado da rua.

— Acho que... — a mulher respira fundo, quebrando o contato visual que fazíamos — eu tenho que ir.

Ela se despede brevemente e vai embora. Era sempre assim. Ana exigia uma explicação, porém não aguentava ouvi-la.

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