Me diz o que é que eu faço agora.

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Altschmerz (n.): cansaço com os mesmos problemas antigos que você sempre teve-as mesmas falhas e ansiedades chatas que você vem roendo há anos, o que os deixa encharcados, insípidos e inertes, sem nada interessante para pensar, nada mais a fazer além de cuspi-los e passear até o quintal, prontos para desenterrar alguma dor mais fresca que você pode ter enterrado há muito tempo.

Era sempre assim: quando discutíamos e eu não a procurava para conversar, Ana voltava e agia normalmente, como se nada tivesse acontecido.

Apesar de ter falado que iria viajar com Cecília, ela estava na cidade até hoje.

Nos esbarramos em uma rua qualquer. Ela não estava dormindo em nossa casa, apesar de eu não ter perguntando, Cecília me disse que Ana estava dormindo na casa da irmã.

Ana estava sentada no sofá, de frente para mim, conversando comigo há horas. Conseguia sentir o pouco de desconforto que deixava transparecer. Em certo momento, ela para de falar.

- Estás tão quieta, Vitória... - ela comenta.

Engulo a seco, sentindo um nó se fazendo em minha garganta. Não fazia mais a mínima ideia do que fazer, estava a um ponto de implorar para que qualquer pessoa que me entendesse me dissesse o que fazer agora. Minha barriga gela com meu pensamento: e essa pessoa era Ana.

- Eu já pedi pra você ir embora, Ana.

A mulher abaixa a cabeça, começando a brincar com seus dedos. Após alguns segundos, ela direciona seu olhar ao meu.

- Queres que eu vá? - Ana me pergunta, cética, mas ainda sim com um tom de chateação em sua voz.

Essa era uma pergunta difícil de se responder. Muito difícil.

- Eu não consigo arrancar você daqui. - digo em um tom de voz praticamente inaudível, engolindo a seco enquanto sentia meu coração se partir um pouquinho.

Ana abre e fecha a boca várias vezes, pensando no que me falar.

- Eu tenho que...

- Não. - a interrompo quando ela ia pegar sua bolsa, fazendo-a me olhar confusa.

- Não?!

- Não. Tu me cobra respostas, mas nunca fica para ouvi-las, Ana.

Vejo ela relaxar um pouco sua expressão, se sentando novamente.

- Desculpa.

Ficamos nos olhando, em silêncio. Observo o lábio de Ana tremer, como sempre acontece quando ela não sabe o que dizer.

- O que tens pra me dizer? - ela pergunta.

- Primeiro: não quero que você vá embora, ok? - respirei fundo após a frase. Era difícil admitir em voz alta que mesmo se quisesse, não conseguiria ficar longe de Ana por muito tempo. - Segundo: tu me cobra respostas mas nunca fica para ouvi-las, Ana... Cê não faz ideia do quanto me dói te ver... - paro de falar antes de completar a frase.

- Dói o quê, Vitória? - Ana questiona, confusa.

- Dói te ver de longe e te querer perto.

Ela entortou seus lábios.

- Agora eu tô aqui, perto de tu...

- E eu não sei o que fazer. - confessei com a voz baixa.

te procuro.Onde histórias criam vida. Descubra agora