Ainda te procuro.

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Não sei há quanto tempo estou sentada no sofá encarando o porta retrato que fica do lado da TV. As lágrimas que sinto cair em minha perna me fazem voltar à realidade.

Ainda procurava Ana. Esperava que ela surgisse e limpasse minhas lágrimas, que me abraçasse e dissesse que tudo ia ficar bem.

Não reprimo um grito de sair da minha garganta. A essa altura meu lápis de olho já deve estar espalhado pelas minhas bochechas. Não me repreendo dessa vez, choro tudo o que estava guardando para mim todo esse tempo.

Me levanto do sofá, indo até o banheiro e molhando meu rosto com a água gelada. Olho meu reflexo no pequeno espelho, vendo meu corpo se balançar levemente com o soluço que só havia percebido agora, e meus olhos de panda.

Neguei com a cabeça, indo para o quarto e tirando minha maquiagem. Logo a refiz novamente: um delineado grosso em meus olhos, pesei mais no lápis de olho preto, batom vermelho em meus lábios.

Troquei minha roupa por uma calça wide legs e camisa de botões preta, calcei um coturno da mesma cor. Tirei algumas fotos minha e pedi um carro por aplicativo.

Suspirei enquanto adentrava o veículo, sabendo que agora não havia como voltar atrás. Não demoro a chegar em meu destino. Pago o dinheiro ao motorista e desço do carro.

Não consigo evitar o sorriso de canto que se fez em meus lábios quando entro no estabelecimento. Mordo meu lábio inferior, sorrindo ainda mais.

SELVA.

O letreiro grande em um ponto estratégico mostrava o nome do lugar. Esbarrando em uma pessoa ou outra que dançava na pista de dança, fui em direção ao open bar, pedindo uma caipirinha que logo é entregue a mim. Em poucos goles não resta mais nada no copo.

Continuei com o copo vazio na mão e me virei para frente, observando as pessoas que estavam ali. Tinha gente na pista, dançando sozinha, dançando com uma pessoa, duas, três... Tinha gente se pegando, menina com menino, menino com menino, e menina com menina.

Pedi mais um drink. Assim que ele chega vou para a pista da dança. Movimento meu corpo no ritmo da música, bebendo um gole ou outro da bebida. Quando Me Toca começa a tocar, toda a pouca vergonha que eu tinha desapareceu em um passe de mágica.

Sorri, dançando sem nenhum pudor. Fechei meus olhos, sentindo o ritmo da música acompanhar as batidas do meu coração. Terminei de beber o resto do líquido que havia no copo e continuei com ele na mão.

Manti meus olhos fechados durante toda a música, abrindo-os dando pequenos pulinhos quando ela terminou. Fui até o balcão e deixei o copo ali, logo voltando para a pista novamente.

Dou um gritinho ao reconhecer a introdução da música que se inicia, Mail de Mil. O refrão chega e eu boto cada uma das minhas mãos em um joelho, começando a rebolar no ritmo da música.

Não sei por quanto tempo fiquei dançando, mas saí da pista para o open bar meio ofegante. Pedi mais uma caipinha e me sentei em um dis banquinhos que tinha ali. Agradeço enquanto pegava o copo, dando um gole e o colocando de volta no balcão. Vi uma mulher vindo em minha direção, e assim que me alcança se senta do meu lado.

— Te vi na pista de dança. – ela diz. — Fiquei hipnotizada.

— É?

— É. – a mulher concorda com a cabeça. — Me chamo Julia.

— Vitoria. – sorri dando um beijo em cada bochecha dela.

— É nova por aqui, Vitória? Tenho a impressão de que já te vi antes.

— Vim aqui algumas vezes há alguns anos atrás. – sorri levemente, pedindo outro drink junto de Julia.

Assim que terminamos de beber nossos pedidos, a mulher me puxou para a pista de dança, logo começando a dançar. A observei por alguns segundos. Ela dança muito bem.

Dança comigo, pô! – ela brincou, se aproximando um pouco de mim. Comecei a dançar no ritmo da música, assim como antes, rebolando no ritmo.

Julia não disfarçou seu olhar em meu corpo, me fazendo sorrir de canto e me aproximar um pouco mais dela. Olhei em seus olhos castanhos, vi sua maquiagem escura e desci meu olhar para seus lábios.

— Melhor que pensar é fazer. – ela sussurrou, sorrindo minimamente com o canto dos lábios.

E então a mulher colou nossos corpos, olhando dentro do meu olho antes de me puxar para um beijo. Retribui no mesmo momento, levando uma das minhas mãos até sua cintura e apertando sem força. Separei nossos lábios quando a falta de ar se fez presente.

— Gostei do seu beijo. – Julia disse.

— Então prova dele de novo. – respondi, levando minha mão até sua nuca e juntando nossas bocas novamente. O beijo que antes era calmo se tornou urgente em um passe de mágica.

Talvez por conta da bebida, lembro dos acontecimentos seguintes como um borrão na minha mente. Continuamos dançando entre alguns beijos. Ela me convidou pra casa dela e eu fui.

Chegamos lá e fomos direto para seu quarto. Julia me deitou na cama e se sentou no meu colo, logo voltando a me beijar.

É um péssimo jeito de tentar esquecer alguém ficando com outra pessoa. A chances de você esquecer ela são pouquíssimas, ainda mais se você pensar nela enquanto fica com essa outra pessoa.

Porém cada tentativa é válida, mesmo que seja por caminhos tortos.

te procuro.Onde histórias criam vida. Descubra agora