"a Floresta nunca esteve tão verde, ou pelo menos nos meus olhos inexperientes. folhas que vão secando quanto mais se aproximam da janela da associação chamam, gritam pela minha atenção, mas não conseguem competir com a árvore a secar -vítima do calor infernal- na porta. a cor gasta e fraca apela mais aos meus demónios do que eu gostaria de admitir. na verdade, é assim que me sinto também: usada, sem qualquer interesse, ansiosamente à espera do fim. fim este que pode ser material como temporal ou espiritual, mas sempre o fim, nunca o início. inícios carregam responsabilidades, memórias e, pior que isso tudo, esperanças que não sei se algum dia estarei pronta para enfrentar.
as vozes da minha cabeça batalham com as vozes animadas lá fora, sempre risonhas, barulhentas e sempre com um tom de gozo no que toca à minha insensibilidade nesse aspeto: sentir-me inteiramente e despreocupadamente feliz. desejo ser como eles; pelo menos uma vez. libertar-me do fardo que carrego desde que nasci e ser, apenas por um momento, feliz. acho que é um pedido um tanto egoísta e imprático, mas continua a ser o que desejo à noite enquanto admiro a lua e as estrelas.
Estou de volta a casa: ao silêncio ensurdecedor e às conversas afiadas e astutas que me fazem sangrar. de onde? não sei. apenas dói. apenas vejo um líquido quase preto de tão escuro que o seu vermelho é. mas não valeu a pena. acaba sempre por ser tudo igual, quer aqui, quer na associação, onde as vozes risonhas dormem e as minhas vozes eufóricas se consomem."