T•W•O

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- Mirela! - A grito do andar de baixo enquanto preparo o café da manhã e um "Já vou" escuto.

Longos minutos depois Mirela desce toda arrumada pra ir à escola. O cabelo preso em um rabo de cavalo, calça jeans e a blusa da escola, sua mochila e seu tênis branco nas mãos.

Tinha preparado um suco de laranja e um bolo de baunilha.

- O cheiro tá' ótimo. - Ela dizia enquanto calçava-se os sapatos.

- O carro já está esperando há dez minutos. - Falo e ela come às pressas.

Por bastante tempo consegui pôr Mirela em uma escola particular no asfalto, tudo que eu não posso ter ela pode. Minha vida pela dela.

Minutos depois ela acaba o seu café da manhã e escova os dentes. Se despede de mim com um beijo molhado e sai correndo em direção ao carro.

Acompanho com os olhos até ela entrar no carro.

Mais um dia de luta.

***

Estou indo ao salão, já estou mega atrasada.

- Bom dia, meninas! - Digo enquanto adentro o salão.

- Fala comigo, patroa. - Letícia pisca

- E aí, Lia - Nanda me manda beijo. - Você acredita que aquela mona do sábado passado veio com as unhas faltando? Ainda queria desconto. - Ela fala me fazendo rir.

- Mas ela não é a fiel de Nandinho? - Pergunto me sentando na cadeira. - Fiel tem que ter molote. Não é assim que vocês falam?

Conversamos mais um pouco. Era umas cinco e dez e fechamos o salão. Paguei as meninas o dia e fui para casa.

Logo que cheguei Mirela chega em seguida.

- Nada disso, banho!

Menina folgada chega cheia de suor da escola e já ia sentando no sofá. Ela sobe as escadas bufando.

Tomo um banho no banheiro de baixo. A água gelada me faz relaxar.

Preparo a janta: Bife, arroz, feijão e salada.

Jantamos enquanto assistimos algo na tevê. Quando dá umas nove horas Mirela adormece. Acordo ela para escovar os dentes e dormir, ela resmunga um pouco mais obedece.

Dez horas da noite alguém bate a porto. Olho no relógio de parede, "Quem será que bate a essa hora na minha porta?" penso.

- Me ajuda... - Um menino, digo... homem, está todo machucado em minha porta quase desmaiando, sua camisa de branco esta suja de sangue.

Sem pensar duas vezes o ajudo-o o colocando em meu sofá.

- O que aconteceu? - Eu pergunto perplexa, não sabia o que fazer.

O homem tentava falar mais os seus olhos fechavam a cada segundo. Deus!
Com muito esforço o carrego até o banheiro do andar de baixo e o coloco sentado no vaso.
Ele está bastante machucado e alguns cortes mas nada muito ao extremo.

Tiro suas vestes o deixando apenas de cueca, pego o chuveirinho e começo a limpa-lo. Pego uma blusa que era do meu pai e uma bermuda e o visto. Ele estava sonolento mas consegui o colocar no sofá. Vou até a cozinha em buscar de remédio e ataduras.

Dou um remédio a ele que bebe lentamente. Limpo seus machucados e enrolando com as ataduras. A todo momento me permanecia calma.

- Deita um pouco... - Ele não diz absolutamente nada só se deita e fecha os olhos.

***

Fico a madrugada todo o vigiando dormir e assim reparo em seu semelhante rosto. Parece que eu já o vi, mas não me recordo da onde...

Ele tem cabelos negro e cortados de um jeito que o deixa mais bonito, um tom de pele claro, seus olhos são castanhos e brilhosos, ombros largos e braços meio fortes. Media em torno de um metro e oitenta e pouco. Aparentemente tem lá teus vinte e cinco anos, talvez...

Na minha porta, bem na minha porta ele pediu ajuda... o que acontecera com ele?

***

Mirela. Quando eu penso nela meus olhos se arregalam já está quase na hora da sua escola e eu sei que ela vai me encher de perguntas. Passei a madrugada toda o observando que nem vi a hora passar.

Levanto em um pulo indo direto para a cozinha, molho meu rosto e vamos ao trabalho mas antes mando uma mensagem para Letícia avisando que não irei ao salão por motivos pessoais.

Preparo umas torradas e ponho a mesa; Torradas, manteiga, requeijão e suco de acerola.

Mirela desce as escadas correndo com seus cabelos pretos numa maria chiquinha. Ela para ao se assustar com o homem deitado no sofá. Faço um aceno para ela que falasse baixo.

- Quem que é essa, mana? - Me pergunta curiosa.

- Bom dia, né. - Falo - Um amigo, chegou tarde do trabalho e a casa dele é longe por isso está aqui. - Minto.

- Mas ele está todo machucado, Lia.

- Come, Mirela. Teu carro chega em dois minutos.

Mirela come calmamente enquanto encara o homem dormindo.

- Lia, teu amigo acordou.

Mirela dizia enquanto eu lavava os pratos de ontem, meu coração acelerou.
Ele estava sentado no sofá me olhando confuso. De repente escuto a buzina.

- Vamos, bebê. Teu carro chegou. - Acompanho Mirela até a porta e vejo ela adentrar o carro, aceno para ela que acena de volta.

- Como está? - Pergunto indo em sua direção.

- Minha cabeça dói... - Ele faz careta.

- Vem tomar café, daí conversamos.

Ele devora as torradas de uma vez sem hesitar, depois de longos minutos ele finaliza com um gole de suco.

- Então... - Gesticulo com as mãos..

- Tu que me botou essas roupas? - Ele perguntando arqueando as sobrancelhas.

- Você que não foi, né. - Reviro os olhos. - Comece!

- Só lembro que estávamos em guerra e uns cara me pegaram e me encheram de porrada. - Ele bebe um gole do suco e continua. - Não lembro como saí vivo e nem como cheguei aqui, mas conheço a casa e... você não é filha de Maria e Roberto?

Assinto com a cabeça.

- Te vi pequenininha. - Ele completava.

Sabia que ele não me era estranho. Sabia.

- Quantos anos você tem?

- Vinte e três. - Falava dando de ombros. - Você deve ter o que? Uns dezenove?

Gargalho.

- Quinze!

Ficamos conversando mais um pouco.

- Caralho, tenho que ir!

Ele fala se levantando aos pressas.

- Tenho minhas paradas para resolver, não posso ficar de papinho furado contigo!

E logo dito isso... sai esmurrando a porta.

Que filho da puta, nem obrigado deu. Na próxima deixo morrer.

Primeira Dama [Primeiro Livro]Onde histórias criam vida. Descubra agora