Esconda tudo que for cortante.
Não respire, deixe de existir
Ou melhor volte pro útero
Pois ele vem vindo.Camisa suada, pescoço manchado
Sóbrio, fingindo embriaguez.
Chuta os cachorros, escarra na cruz,
Abre o zíper, pega o pau mole e mija
No sofá da sala.O silêncio é o seu grito preferido.
Zíper ainda aberto, deixa a sorba o mostra
Mão no bolso procura cigarros,
O que encontra são preservativos,
Usados com a gosma branca.Abrindo gavetas, procura objetos com a letra F
Quem diria fosse Força ou fé, ele mira nas facas.
Sua sina é cortar, perfurar.
Não encontra as Fs, mas encontra os Cs
Cadarços, cordas, coragem.São 3 horas da manhã, o mundo está dormindo
Maria dolorida do estupro anterior,
chamou a polícia mas retirou a queixa.
Aqui estou, um fantasma.
Entro no quarto, seu olho roxo, seu pescoço mordido, sono pesado eu a acordo, ela me olha sem ar.
Tenta gritar, mas sua voz não sai, beijo seu rosto:
Até breve meu amor.Ninguém está chorando, em breve chorarão.
Tem outra coisa com a letra A que nunca foi amor, Sempre foi aversão a vida.
Está em minha mão.
O batom está dentro e ele me beija para sempre.
Antes do beijo o choro da Luz desce as escadas.
A dor silenciosamente se apaga.