Difesa Siciliana

4. Non sai chi è lei

Dayane Mello

Era indescritível a sensação de liberdade que me invadia quando eu estava em frente às câmeras. Ali eu não era Dayane Bernardi, uma esposa que servia de alegoria para que o marido se vangloriasse. Eu me sentia como Dayane Mello em sua própria essência, posando sem precisar sequer de instruções vindas do fotógrafo ou de quem quer que fosse, eu ditava as regras. Era dona da minha imagem e de todas as atenções, me sentia como uma deusa encontrando com meus súditos. Foram necessários apenas mais alguns cliques para que o fotógrafo estivesse satisfeito e pedisse uma pausa para tomar uma água e descansar um pouco, as pessoas não costumavam acreditar no quão cansativas são as longas sessões de fotos que temos. Hoje, mesmo o dia estando frio devido ao horário da manhã, eu estava de biquíni ignorando completamente a brisa congelante que se chocava contra a minha pele.

– Aqui está senhora Bernardi... – Minha assistente veio correndo ao meu encontro assim que a sessão foi pausada, ela carregava um casaco felpudo e me envolvia no tecido confortável, me fazendo relaxar finalmente com a sensação de aquecimento tão bem vinda. – Os editores da revista acabaram de ligar e disseram que realmente gostariam de fazer aquela sessão com a senhora e o senhor Bernardi. Talvez se ele estiver disponível amanhã...

– Não conte com isso Stella. – Cortei a minha assistente abruptamente. – Meu marido está comprometido apenas com a sua empresa, infelizmente terei que desmarcar o ensaio.

Era verdade. Por mais que eu não gostasse de misturar o meu casamento com a minha carreira profissional, era inegável que eu e Vincenzo somos o casal do momento, um empresário dono de uma conta beirando aos bilhões é uma modelo famosa, formam perfeitamente o casal que as pessoas gostam de invejar e acompanhar, por mais que não saibam o que possa estar escondido embaixo dos panos.

– Mas senhora... – A assistente tentou argumentar.

– Se eles querem realmente uma sessão, será somente comigo. – Falei um pouco cabisbaixa, me frustrava não ter o apoio de Vincenzo nesses momentos, realmente parecia que para ele existiam mil prioridades, mas eu nunca sou uma delas.

O resto da sessão seguiu tranquilamente, eu me libertei de quaisquer pensamentos os frustrações com meu casamento e procurei apenas focar no flash das câmeras. Demorou cerca de duas horas para que concluíssemos o ensaio e eu não poderia estar mais satisfeita com os resultados, mesmo com a exaustão dando sinais em cada pedaço do meu corpo, eu sempre me sentia renovada após um trabalho concluído.

Eu precisava espairecer depois do meu trabalho, e era óbvio que eu já tinha o lugar certo em minha mente. Me apressei o máximo possível para ficar apresentável e entrei em meu carro, no qual o motorista já estava a postos para me levar, essa é uma das regalias que eu possuo. Ele já sabia o destino sem que eu precisasse falar, ir ao café de faixada azul tornou-se um costume de todos os meus dias.

Assim que saí do veículo, fui em passos rápidos até a entrada, o movimento parecia agitado devido ao horário, por isso não foi fácil encontrar quem eu estava procurando.

Rosalinda atendia alguma mesa e não pareceu ouvir o som do sino quando eu adentrei o estabelecimento. Ela anotava os pedidos de um casal simpático de idosos e conversava com eles com sua simpatia de sempre, conforme as minhas idas a Caffeteria se tornaram um hábito, eu percebi que gostava de observar a siciliana, por isso optei por sentar-me no balcão ao invés da mesa afastada que eu sempre escolhia anteriormente. Ali eu estaria mais próxima dela nos momentos que a simpática atendente não estivesse ocupada com ninguém.

Eu trambolhava meus dedos ansiosamente no balcão de madeira, apenas esperando o momento que ela se aproximaria, eu realmente não entendia essas reações estúpidas do meu corpo.