Londres, 1843.
‒ Que prazer revê-la, Elisabeth.
Oh, não. Ela sabia muito bem a quem aquela voz pertencia e por puro reflexo, o aperto em seu leque se intensificou.
‒ Olá, milorde. O que o traz aqui? ‒ Elisabeth tentou esconder seu descontentamento da melhor forma que pôde.
‒ Isto é um baile, não? E Lady Dunford não me deixaria fora da lista. ‒ sorriu.
‒ Não foi isso que eu quis dizer, milorde. O que faz aqui, na Inglaterra, em Londres? Não deveria estar em algum lugar da China, ou Emirado do Afeganistão?
Colin observou enquanto Elisabeth estreitava os olhos pretos como a noite.
Colin Warwick, Visconde de Brighton, adiantou-se em dois passos, fazendo Elisabeth recuar até a mesa de limonadas.
‒ Para quem parece estar tão espantada por me ver, tem ficado bem ocupada acompanhando as guerras britânicas, minha querida.
Se eles tivessem sorte, apenas um par de pessoas desinteressadas teriam ouvido aquela troca de palavras. Nos ouvidos de fofoqueiras, o que estava acontecendo ali seria um trunfo.
Colin sabia que, se os olhos pudessem causar algum tipo de ferimento, ele já estaria com um buraco no meio da testa.
A expressão de Elisabeth, antes o chamando para uma discussão, endureceu-se. Ela guardou o pequeno leque em algum dos bolsos internos de seu vestido, virou-se e pegou um copo de limonada para si.
Colin olhou ao redor e ainda encontrou alguns rostos conhecidos.
Os poucos anos que passou no campo de batalha, colaborando em planejamentos táticos e operacionais, o fizeram recear se tinha perdido toda a sua capacidade de socializar fora do ambiente militar. Lutava para apaziguar a ansiedade que se seguiu desde seu retorno, ao mesmo tempo em que todos ao seu redor tentavam convencê-lo de que era capaz de retomar sua vida exatamente do ponto em que havia parado, antes de se juntar às forças de Sua Majestade.
Mas não podia esconder o quanto seu corpo e mente ansiavam por encontrar algo familiar. E quando pusera os olhos em Elisabeth, fora transportado para um tempo em que não precisava pensar na quantidade disponível de munição ou na qualidade de uma baioneta ou se estaria vivo para ver o próximo nascer do sol.
A mulher à sua frente terminou a limonada em míseros três goles e se afastou dele sem cerimônia.
‒ Para onde vai? ‒ seu questionamento não obteve resposta, nem mesmo qualquer reação por parte de Elisabeth. E antes que pudesse segui-la, foi praticamente subjugado por um par de mães mais do que dispostas em apresentar suas filhas.
‒ Milorde, ‒ pronunciou-se uma delas, Lady Munford ou Mannford, não sabia ao certo, após todas as apresentações - sempre achei uma enorme perda para nossa sociedade quando se reuniu ao exército. Pense só, tanto carisma preso entre tanta violência! ‒ deu um sorrisinho ‒ Acredito que agora que retornou, finalmente irá se assentar, certo? Assumir seu lugar na Câmara dos Lordes e, quem sabe, casar-se? Ouvi dizer que Warwick Manor está fabulosa nessa época do ano.
Para ser sincero, Colin não tinha prestado tanta atenção à pergunta, a mulher batia os cílios freneticamente, fazendo com o que seu diabinho interior quisesse sugerir a diminuição de açúcar.
‒ Vim cumprindo meu dever para com Sua Majestade e o Império Britânico. Mas não sei o que me espera no futuro, milady. ‒ Colin sabia que essa não era a resposta que a senhora queria ouvir, mas era tudo o que ele estava disposto a falar. ‒ Me desculpem, senhoras, acabei de avistar um conhecido que não vejo à eras, preciso trocar algumas palavras com ele.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Amor de Lady Lisa
RomanceColin Warwick passou sete anos lutando pela coroa britânica, e fazendo coisas em nome de uma paz que ele não consegue mais enxergar nem dentro de si mesmo. Elisabeth Cavendish sempre foi apaixonada por Colin, porém ao se ver abandonada por ele aos...