Capítulo 1

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E os túmulos enchiam todo o campo,

E eram esteias funerárias as flores;

E Padres de preto, em seu passeio secreto,

Atando com pavores minhas alegrias e amores.

- Trecho de "O Jardim do Amor" de William Blake



Londres, 1843, duas horas antes do baile


A cada passo que dava para dentro da Warwick House, Colin sentia-se terrivelmente deslocado e cansado. Passara todos aqueles anos longe de casa, em guerra ou se preparando para uma. Seu pai nunca concordou em deixá-lo seguir carreira militar, afinal, era seu único herdeiro, nenhum nobre ajuizado correria esse risco.

Então, assim que recebeu o título de visconde, comprou uma patente e foi colocar em prática seus estudos estratégicos. Mas agora, em frente ao retrato de seus pais, sentia-se um perfeito tolo.

‒ Milorde, ‒ chamou Edward Roberts, eu administrador ‒ fiquei bastante surpreso com sua chegada, se tivesse escrito, certamente teríamos organizado uma melhor recepção. ‒ Apesar de soar solicito, Colin sabia que Edward o estava repreendendo educadamente.

‒ Sinto muito, meu amigo. Enviei uma carta há uma quinzena, temo ter sido mais rápido que ela. ‒ brincou.

‒ Perdoe-me pela minha impertinência, milorde, apenas...

Colin acenou com a mão.

‒ Deixe disso, certo? ‒ sorriu para o velho amigo ‒ Afinal, quais são as novidades? Não gostaria de me atualizar enquanto tomamos um bom conhaque?

Nesse mesmo instante, Claude, seu mordomo, entrou na sala de estar.

‒ Milorde, Sir. Edward, pedi que preparassem chá com alguns petiscos, estão servindo na sala de jantar menor. Os senhores gostariam de comer agora?

‒ Claude, mon amie, precisa me contar o segredo de sua eficiência. Só permita-me trocar o chá por conhaque. ‒ Colin riu. ‒ Obrigado, meu caro. Vamos, Edward?

***

‒ Recentemente, foi realizada uma reforma em Warwick Manor. Mas garanto que está tudo dentro do orçamento anual, previamente estabelecido por sua senhoria. Posso enviar os livros de contabilidade para seu escritório. ‒ Edward sabia da confiança que Colin depositava nele, assim como todos os Warwicks para os quais trabalhou durante sua vida. Ainda assim, fazia questão de ter uma relação transparente, até mesmo para que os senhores tivessem noção do quanto podiam gastar.

‒ Agradeço, meu amigo. Suas cartas eram bem detalhadas, tenho certeza que cuidou bem do patrimônio Warwick. ‒ anuiu ‒ Mas agora me diga, como está Elisabeth?

Ninguém tinha noção do quanto aquela pergunta fervilhava em seu peito. Elisabeth possuía cada fração de pensamento seu desde que era um rapaz, contudo, todos aqueles anos longe o fizeram questionar o quanto deles ainda estavam intactos. E o quanto deles ainda eram sãos.

Tentou preservar a lembrança de Lisa longe de qualquer brutalidade que via na guerra. Mas não foram poucas as vezes que se questionou: se eu separar tanto a luz da minha vida, ainda vou consegui-la enxergar em algum momento?

Edward limpou a garganta e olhou hesitante para Colin.

‒ Milorde me pediu que ficasse bem informado sobre a srta. Cavendish... De tempos em tempos...

O Amor de Lady LisaOnde histórias criam vida. Descubra agora