Detetive P.

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- Todo mundo no chão agora, se não vão levar bala no meio da cara! - ordenou uns dos policiais apontando a arma pra todo mundo. - Ou melhor, quem trabalha aqui encosta na parede e os clientes no chão.

Não tivemos escolha a não ser encostar na parede conforme orientado, muitas garotas estavam começando a entrar em desespero porque é a primeira vez delas no meio de tantos policiais e já pensam em morrer aqui mesmo. "Por que eles não abrem logo a boca pra contar o porque disso tudo?", pensei enquanto observava os passos dos policiais e da única mulher no meio com quem conversei antes do tiroteio.

- Acredito que todos vocês estão se perguntando o que está acontecendo, né? Como detetive fui encarregada em resolver o caso dessa casa noturna onde vocês trabalham e enlouqueceu o chefe desses caras. - disse a mulher de jaqueta retirando o chapéu e pegando um cigarro do bolso da calça. - Vocês vão ficar paradinhos na parede e no chão porque vou fazer algumas perguntas, e caso contarem qualquer mentira sobre eu vou descobrir.

Quando ouço a palavra detetive pela boca da mulher fico eufórico e tento não transmitir a emoção no momento, entretanto terei que esperar ser o próximo para a detetive fazer suas perguntas. Demorou um pouquinho mas chegou minha vez, um policial conferiu se não tinha nenhuma faca ou algo do tipo escondido em alguma parte da minha roupa e então ele me levou onde estava a detetive.

- Senta nessa cadeira aí e responda as seguintes perguntas. - a detetive cruzou as pernas e ficou me encarando. - A, você é o garoto com quem falei antes dos policiais começarem o tiroteio?
- Sim, sim, sou eu! - respondi eufórico e com um sorriso no rosto.
- Tá legal, qual o seu nome, sua idade, dá onde veio e como conseguiu trabalhar aqui?
- Nossa, tantas perguntas. - soltei uma risadinha quando vejo a expressão dela de séria. - Me chamo Roberto da Silva Santos, completei 15 anos tem poucos dias, sou de uma cidadezinha do interior de Ceará e consegui esse emprego com o Sr. Burgees, a fim de ser assistente dele mas aí acabei trabalhando nesse cabaré...

A garota não disse nada enquanto anotava tudo em seu caderno, com certeza ela é uma detetive. Tentei me segurar para não perguntar uma coisa de que preciso da resposta, mas não teve jeito.

- Você é aquela menina que passou trezentas notícias sobre ter desvendado um crime no ano 2000?
- Nem era pra você estar perguntando nada, mas sim, sou eu.

Sorri como nunca antes e voltei a ficar eufórico, fechei os olhos e comecei a agradecer por ter conseguido encontrá-la. Quando abri os olhos não consegui olhar para mais lugar nenhum além da garota de pele moreninha como café com duas colheres de leite, os olhos parecendo a noite e os cabelos ondulados como ondas do mar calmo.

- Ei, Roberto.
- Sim, detetive? - parei de encarar tão fixamente a garota e olho um pouco para o lado.
- Poderia parar de ficar me olhando e tirar logo a sua bunda da cadeira? Tenho mais gente pra interrogar.

Levantei depressa da cadeira e voltei para onde estão os outros com a espera de serem interrogados, resolvi sentar perto de uma das garotas com quem fiz amizade e fiquei imaginando se a detetive me chamar para ser seu assistente.

- Tomara que ela me chame pra sair e pedir pra que eu seja seu assistente. - sussuro pra mim mesmo enquanto viajo na maionese.
- Você tá falando da Detetive P. Roberto?
- Añ? Sim, estou falando dela mesma, você viu como ela é tão linda? Ainda mais quando faz aquela carinha de séria...
- Tá ficando doido moleque? - a garota me encarou e soltou uma risadinha. - Aquela ali não é nem doida de perder tempo com gente como você, conforme fiquei sabendo a dona Sybil odeia gente curiosa e intrometida, daqui deu pra ouvir ela te dando uma "bronca", cuidado da próxima vez.

Sybil. Então é esse o nome dela, não é um nome comum de se ouvir e com certeza ela deve ter descendência de algum lugar do mundo pra ter esse nome, mas isso não importa agora. Quando estava prestes a cochilar a detetive aparece batendo palmas pra chamar atenção de todos, e mais uma vez não consegui olhar pra mais ninguém além da detetive.

- Parabéns para todos ter dito a verdade, eu espero, e aliás muito de vocês são menores de idade então tomarei providências. - Sybil me percebeu no meio da multidão e deu um sorrisinho. - Provavelmente vocês, principalmente as garotas, não se lembram como chegaram aqui mas conheço alguém que sabe.

Os policiais empurraram um homem grande e gordo para próximo de Sybil e ela tirou o saco da cabeça dele, sendo ele o Sr. Burgees com o rosto machucado e um dos olhos inchados.

- Pelo visto você sofreu um pouquinho nas mãos dos policiais, mas diga logo para essas "crianças" a verdade. - a detetive deu tapinhas nas costas do homem e colocou o cigarro na boca já aceso.

Quando o grandalhão contou como todos chegaram ali, menos eu, todos ficaram perplexos e então a ficha caiu sobre os quadros no escritório dele - com certeza isso vem acontecendo a bastante tempo. Minha única dúvida era o porque de tantos corredores repletos de tantas portas com cores e números diferentes.

- Sr. Burgees. - levantei a mão. - E aquelas tantas portas nos corredores? O que tem atrás delas?

A detetive parou de fumar e ficou me encarando com um olhar sério, assim como ela me olhou durante as perguntas. O Sr. Burgees contou a verdade sobre as portas, as cores e os números tudo começou a fazer sentindo na minha cabeça. A porta onde ele me jogou, cor vermelha vinho e número 2668, significa quando o cabaré foi aberto ao público e onde tiravam as garotas pra assassinar atrás das outras portas. Porta azul, maconha. Porta laranja, produção das roupas. Porta preta, lugar do assassinato das garotas. Falando da porta preta me lembrei que no escritório do homem tinha um armário onde continha várias mãos segurando bebidas e outras coisas, ou seja, as mãos eram das vítimas.

[...]

Acabei descobrindo mais um pouco sobre a detetive e pedi para ela me ajudar a arrumar um lugar pra ficar, porque sou de menor e não participei diretamente nos crimes cometidos pelo dono da casa noturna, no começou ela inventou várias desculpas para mim voltar para o Ceará mas nenhuma delas funcionou. Sybil me levou até o apartamento onde atualmente mora, e onde também irei morar, imaginei um lugar pequeno mas na verdade é ao contrário do que imaginado.

- Bem vindo a minha casa e minhas regras: não deixe roupas largadas pela casa, não entre no meu quarto, se quiser comer alguma coisa peça só pra você e pague com o seu dinheiro e pra mim ajudar a pagar as contas terá que procurar um trabalho. - disse a garota jogando a jaqueta no braço do sofá e indo até a cozinha. - Sinta-se em casa, mas nem tanto assim.

Solto um sorriso e olho para os porta-retratos em frente a televisão, pego um parecendo ser a foto de Sybil abraçando um homem com a parte do rosto na foto rasgada. "Ela era tão fofinha mais nova, na verdade ela continua sendo fofa." Coloco o porta retratos no lugar e ando mais um pouco observando os quadros pendurados na parede.

- Sybil, esses quadros e porta-retratos é você neles? Achei muito parecida contigo. - sento no sofá e espero uma resposta.
- Na maioria sou eu sim, principalmente a que tá na frente da televisão. - a garota se aproximou e me entregou um copo d'água.
- Obrigado, e falando naquele ali é você e seu pai? - bebo um pouco da água e aponto para o porta retrato.
- Um conhecido. - respondeu sem muita emoção e pegou seu caderno dentro da mochila.

Sybil parece ter um passado mistérioso o que me deixa curioso mas não ao ponto de obriga-lá a dizer sobre, contudo pretendo pergunta mais alguma coisa quando fizermos amizade. Fiquei a observando escrever algumas coisas no caderno e então soltei um sorriso de canto de boca, queria poder fotografar ela daquele jeito mas meu celular tinha sido pego pelos policiais.

- Ei, branco de neve. - chamou minha atenção. - Por que você está me olhando desse jeito e sorrindo assim? Tá apaixonadinho? - ela soltou um sorriso malicioso e parou de escrever no caderno.
- Añ? A, desculpa, desculpa! - fiquei vermelho quando a olhei nos olhos. - Você é muito bonita, por isso!

Meu corpo esquentou quando nossos olhares se encontram, mas aí ela começou a rir da minha cara avermelhada. Não sabia onde me enfiar e resolvi olhar pro lado esperando o tempo de riso dela passar. Quando voltei a olha-lá ela estava próxima ao meu rosto, me deixando mais vermelho.

- Sabia que você fica fofo vermelho desse jeito? - Sybil apertou minhas bochechas e fingiu me beijar. - Não, melhor deixar você apenas na vontade.

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(Gif na capa do capítulo é apenas uma representação da detetive.)

Detetive até o fimOnde histórias criam vida. Descubra agora