Eu tinha dezesseis anos e aquela rebeldia, tão comum aos adolescentes. Mamãe não permitiu que eu saísse de viagem, com uma amiga do colégio. Fiquei brava, muito brava. Falei coisas, da qual me arrependi, amargamente.
-Jennie, já disse que você não vai! -Mamãe gritou, já impaciente.-Se o papai estivesse aqui... Aposto que permitiria. -Exprimi, com a voz alterada.
-Engano seu, mocinha...Falei com Charles, ao telefone. Ele a proibiu de ir. -Retrucou, virando de costas.
-Odeio vocês! Nunca me permitem fazer nada. Minha vida seria muito melhor, se não tivesse pais! -Gritei, enquanto lágrimas de raiva, escorriam pelo meu rosto.
-Jennie, você não sabe o que está dizendo. Vá para o seu quarto! Não saia de lá, até eu mandar! -Proferiu, com o indicador apontando em direção ao cômodo.
Cuidado! Muito cuidado, com o que deseja!
11 de setembro de 2001
Era uma linda manhã de sol. O céu mostrava-se limpo e claro. Adultos deixavam suas casas, para ir ao trabalho., crianças caminhavam resmungando, por ter que ir para a escola. Ninguém imaginara o que viria a ocorrer, em uma terça-feira, tão bela, de céu reluzente.
Desde o momento em que saí de casa para ir ao colégio, senti um aperto no "peito", uma inesplicável angústia. A razão para tal sentimento, eu desconhecia. Nunca fui supersticiosa, porém, aquilo parecia um sinal indicando que alguma coisa ruim, iria acontecer.
Na sala de aula, eu nem estava ouvindo o que a professora de matemática dizia. Mais tarde, veio a notícia: O atentado ao World Trade Center. Em total desespero, levantei e fui correndo à diretoria. A TV estava ligada no noticiário. Apavorada, gritei com funcionários da escola, exigindo que me deixassem sair. A minha mãe trabalhava justamente, em um daqueles prédios. Agi como louca e acabei sendo medicada na enfermaria do colégio. E para agravar ainda mais a situação, fui informada que Charles Williams, meu pai, estava voltando para casa, em um dos aviões sequestrados. Foi informação demais, para a minha cabeça, em tão pouco tempo.Acordei com a senhora Debby ao meu lado. A vovó Sarah, chegou logo depois, para cuidar de mim. Ela usava um vestido preto e carregava um rosário nas mãos. Os olhos estavam vermelhos, inchados. A diretora Debby a cumprimentou e cinco minutos depois, retornou à escola. Vovó beijou minha cabeça e segurou minhas mãos. Sharon, sua única filha, já não se encontrava entre nós. Vovó sempre demonstrou ser forte, porém, aquele acontecimento, talvez fosse o pior da vida dela. E da minha também. Ela e o vovô Paul, era tudo que eu teria, dali por diante. Ela me abraçou forte e não demorou muito para que voltasse a chorar. Choramos e sofremos juntas, compartilhando nossa dor.
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No hospital, era grande a quantidade de pessoas gravemente feridas. No corredor, médicos, enfermeiros, técnicos e gente que precisava urgentemente de atendimento, corriam de um lado pro outro, indo e voltando. Mais uma vez, precisei ser medicada. Minha vozinha ficou no quarto, rezando. Ela pedia auxílio para os sobreviventes e perdão, para os que partiram.
No rádio, na TV, na mídia impressa, não se falava em outra coisa. A Torre Norte, fora atacada às 08h46min. O avião da American Airlines, vôo 11, foi jogado na parte mais alta do edifício. Atingiu do 93 ao 99 andar. Não demorou muito, para que a construção começasse a arder em chamas. Diversas pessoas ficaram presas. Dos andares 100 ao 110.
O meu pai, voltava de viagem, no vôo 175, da United Airlines, que às 09h03min, atingiu a Torre Sul.
Quatro aviões, foram sequestrados, naquela inesquecível data. Duas aeronaves, chocaram-se com as Torres Gêmeas, outra, com o Pentágono e a última, com o Capitólio.O meu maior desejo, era sair correndo do hospital. Precisava ver com meus próprios olhos, os destroços no local e poder ter a certeza de que, meus pais não haviam sobrevivido. Acontece que, o meu corpo, estava sem domínio algum. Uma enfermeira, precisou aplicar um tranquilizante, para que eu conseguisse me controlar. Após a medicação, não sei por quanto tempo dormi. Tenho uma vaga lembrança de alguém entrar no quarto e beijar meu rosto. Acredito que tenha sido a minha avó. Pois, sei que ela não saiu do meu lado, por nada.
-Senhora, faz horas que não come nada. É melhor sair e fazer um lanche! -Kênia, uma das enfermeiras, aconselhou.
-Não quero comer nada. Obrigada, mesmo assim. -Respondeu, passando um lenço ao redor dos olhos.
-Não está certo! Se ficar doente, quem cuidará da sua neta? -Kênia tentava convencê-la. -Vou trazer-lhe uma sopa. -Abriu a porta e saiu.
Tudo estava sendo bastante difícil. Com o cansaço e sofrimento do dia, o tranquilizante, não acordei durante a noite. E na manhã seguinte, surtei. Não foi nada fácil, me acalmar. Me recusei a comer, não quis tomar banho, fiz questão de cuspir o remédio que Kênia tanto implorou que eu tomasse e quase espetei outra enfermeira, com uma seringa. O que teria sido apenas rebeldia da adolescência, sem os meus pais, tornara-se algo pior.
A minha avó Sarah, esperava que parentes do meu pai, fossem ao hospital. Acontece que, ninguém apareceu. A minha avó paterna, deveria ter esquecido que o filho dela, deixara alguém por aqui. Se não fosse pelo estado em que me encontrava, teria dado importância ao fato. Mas, a verdade é que, não pude notar a ausência de ninguém.
♥️♥️♥️♥️
Após uma semana, no hospital...
-Jennie, levanta! Já estamos indo para casa. -Vó Sarah, chamou pela quinta vez.
Olhei para ela com indiferença. Confesso que é uma mulher muito paciente. No lugar dela, eu teria dado uma bela de uma surra, em uma neta tão trabalhosa. Mas, acho que minha avózinha sabia, que fazia parte do processo.
-Se não quiser ir, pode ficar mais tempo, aqui no hospital! -Ela disse, querendo me testar.
Depressa, saí da cama. Prendi o cabelo num coque bagunçado e peguei a mochila com minhas roupas. Kênia despediu-se de nós duas. Porém, permaneci em silêncio. A médica que cuidou de mim, afirmou não ser necessário, eu continuar internada. A minha doença, não era no corpo. A mente é que estava perturbada. Ela só pediu para não me deixarem sozinha por muito tempo. Além disso, exigiu que eu não ficasse sem comer.
A casa dos meus avós, não era em Nova York. Portanto, San Antonio, no Texas, era o nosso destino de viagem. Geralmente, o clima da cidade é quente, durante o ano todo. No verão, a temperatura passa dos 35 graus.
Chegamos à cidade e o vovô nos aguardava. Ele me abraçou forte e acariciou meu cabelo.-Estamos com você, minha princesa! Vamos para casa!
Os dois se olharam com ternura. Vovó sentou no banco da frente, ao lado do assento do motorista. Fiquei no banco de trás. Deitada de olhos fechados, desejei que tudo fosse diferente. Queria poder dizer que não passara de um pesadelo, mas... Era tudo real!
♥️♥️♥️♥️
Boa noite, minha gente!
Por favor, digam se gostaram do primeiro capítulo! Espero poder continuar contando com vocês.
Até logo!
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Recomeçando a viver
Historical FictionUma tragédia, leva aquilo que Jennie tinha de mais importante na vida. Uma adolescente, tendo que lidar com algo tão doloroso, precisa do apoio daqueles que a amam. Talvez assim, consiga superar o ocorrido. Mais tarde, ela vê em Andrew, um motivo a...