Capítulo 3

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Depois do que eu fiz, meus avós acharam que seria conveniente, contratar alguém que cuidasse de mim (Para não dizer, vigiar) na ausência deles. Minha avó tinha uma amiga, cuja filha, estava cursando enfermagem. Anna, era o nome da jovem. Enquanto vovó cuidava da casa, pela manhã, Anna ficava no quarto, a fim de evitar que eu tentasse suicídio novamente. Devo confessar que, ela era muito divertida. Mesmo sem ânimo algum para qualquer coisa, admito que as piadas dela, eram bastante engraçadas. Dias atrás, vovô Paul colocara um telefone no quarto. Na verdade, achei desnecessário. Pois, de nada me serviria, uma vez que, não tinha interesse em falar com ninguém.

-Anna, como está se comportando, a nossa garota? -Vovó indagou, ao entrar no quarto.

-Está como sempre, senhora Williams. Não responde a nenhuma pergunta que faço. Ah! Ela também não ri das piadas que conto. -Retrucou, cruzando os braços.

-Não leve para o lado pessoal! -Vó Sarah, sugeriu. -Assim como está, não verá graça, nas piadas de ninguém. -Concluiu, com um meio sorriso.

Anna fez um gesto positivo, com a cabeça. Enquanto isso, vovó examinava a bandeja, sobre a penteadeira.
-Pelo menos, está tomando as vitaminas que trago. -Observou.

-Sim, senhora... Jennie tem ingerido a todas. Ela sabe que se não obedecer, terá que ser internada. Estava ficando desnutrida. -Anna exprimiu, com o dedo apontado em minha direção.

-Preciso ir ao mercado, comprar algumas coisinhas. Você pode ficar mais um tempinho?

Anna balançou a cabeça, em um gesto afirmativo. Em seguida, ela pegou a poltrona e pôs próximo à janela. Afastei o cobertor para o lado e levantei. Anna arregalou seus grandes olhos verdes, na minha direção. Quando me viu abrindo a porta do banheiro, deu a entender que viria atrás de mim.
-Será que não tenho direito nem, de usar o banheiro? -Questionei, antes de entrar.

-Bom... É que... Da última vez...-Eu a interrompi.

-Já sei o que fiz. Não precisa ficar me lembrando, o tempo inteiro! -Pronunciei, com um certo nervosismo. -Quero privacidade!

Anna machucou o pé esquerdo ao caminhar de costas e batê-lo em um móvel. Irritada, pronunciou um palavrão. De dentro do banheiro, eu conseguia ouvi-la reclamando. Alguns minutos depois, a encontrei sentada na poltrona, alisando o local da pancada. Exibi um olhar questionador e logo ela explicou o que havia acontecido minutos antes. Ouvi a resposta sem dizer nenhuma palavra e voltei a deitar.

Ela ainda esfregava o pé, quando bateram na porta do quarto.
-Pode abrir! -Afirmou, levantando-se logo em seguida.

A porta do quarto foi aberta e um garoto de olhos verdes, apareceu.
-Blake? O que faz aqui? Como você conseguiu entrar na casa? -Anna tinha os olhos bem abertos.

-A senhora Williams, permitiu que eu entrasse. Esqueceu que ela me conhece, desde quando eu era só um muleque de três anos? -Ele retirou uma maçã do bolso e deu uma mordida.

-Você não pode ficar aqui! Estou trabalhando. Volte para casa! -Ela apontou para a saída, com o indicador.

Enquanto eles tentavam se entender, eu permanecia deitada, cobrindo metade do rosto com o cobertor, deixando somente os olhos à vista. Ele ficou me encarando, com curiosidade e espanto.
-E ela? Quem é? -Perguntou, ainda olhando para mim.

-Neta, da senhora Williams. -Olhou em minha direção. -Jennie, ele é o Blake, meu irmão aborrecente.

Ele exibiu a língua, em protesto, após ser chamado de aborrecente. Desta vez, Anna caminhou até à entrada do quarto. Empurrando-o e ameaçando chamar o vovô, ela o fez sair. O meu avô Paul, tinha sempre uma expressão que assustava, quem pouco o conhecia. Embora tivesse um coração de ouro.

♥️♥️♥️♥️

Eu estava tão suada, quanto alguém que havia corrido muitos Km. A febre já se aproximava dos 40 graus. Gritei diversas vezes, acordando a casa inteira e talvez, a vizinhança também. Meus avós vieram correndo, entraram no quarto, apressados e cheios de preocupação. Encontraram-me de olhos fechados, o que mostrava que eu ainda dormia.
-Acorde, Jennie! Acorde! Você está tendo pesadelos. -Vovó proferiu, tocando em meu braço, balançando-o de um lado pro outro.

-Acorde-a, Sarah! Acorde-a! -Vovô Paul exprimiu, impaciente.

-É o que estou tentando fazer. -Retrucou, enquanto eu ainda dormia.

A tragédia daquele dia, perseguia-me até em sonhos. Era sempre uma situação diferente, que terminava da mesma forma: A morte dos meus pais. Todas as vezes em que sonhava com eles, tentava devolvê-los à vida. Era sempre inútil. Quando finalmente despertei, estava com o pijama molhado, de suor. Ofegante, fervendo por dentro. Minha avó, pôs a mão em minha testa, verificando a temperatura. Logo em seguida, retirou da gaveta, um termômetro. A febre estava alta. Vô Paul, foi à cozinha e voltou com um remédio para baixá-la. Fiz careta, quando senti o gosto amargo, na língua.
-Nem pense em cuspir! -Ele disse, com a voz um pouco alterada.

Engoli o líquido de gosto ruim, mesmo contra minha própria vontade. A expressão séria do vovô, me causou medo. Abriram a janela do quarto, para que entrasse um pouco de vento. Todavia, eu estava morrendo de frio. Pedi para deixarem fechada.

Saindo da faculdade, Anna passou para me ver, mesmo não sendo horário de trabalho, dela.
-Ela está tremendo. O que houve? -Perguntou, com espanto.

-Febre muito alta. Já demos a medicação. Ela teve novos pesadelos. -Vó Sarah, esclareceu.

-Você vai melhorar, Jennie. Deveria tentar dormir, novamente! -Anna aconselhou. -Tenho que ir, agora. Melhoras, pra você!

Ela alisou o meu pé, por cima do cobertor. Depois, caminhou até à saída e se foi. Por conta da alta temperatura corporal, comecei a delirar. A febre não havia baixado. Quando olhei para meus avós, juro que foram meus pais, quem eu vi. Entrei em total desespero: Gritando, esperneando, chamando por eles.
Por sorte, vó Sarah, era experiente. Ela sabia como aplicar uma injeção, caso se tornasse necessário. E assim que comecei os acessos de loucura, recebi uma dose eficaz de tranquilizante. Senti os olhos pesarem, quase fechando. As vozes ao meu redor, foram ficando cada vez, mais distantes. Lembro que a última imagem projetada em minha mente, antes de eu adormecer, foi a figura daquele garoto, o Blake, com seus belos olhos verdes, cabelos pretos e aquela camiseta suada, do time UTSA Roadrunners, de San Antonio.

♥️♥️♥️♥️

Boa noite, minha gente!
E aí? Estão gostando? Kkk
Espero que gostem. Desde já, agradeço por tudo. Beijos!

Recomeçando a viverOnde histórias criam vida. Descubra agora