O quarto que um dia pertenceu à minha mãe, na casa de meus avós, fora ocupado por mim. No jornal, ainda não se falava em outra coisa, que não fosse o atentado de 11 de setembro. Vovó abriu a porta e entrou. Deitada na cama, olhando para a TV, ela me encontrou.
-Por que está assistindo isso? Não vai lhe fazer bem. -Deu dois passos à frente e desligou o aparelho.Virei para o lado, coloquei um travesseiro entre as pernas e outro, cobrindo o rosto.
-Eu trouxe suco de laranja e algumas torradas com queijo. -Depositou copo e prato, sobre a penteadeira.Eu não queria comer nada. Só necessitava, ter os meus pais, de volta. O estômago roncava de fome, enquanto eu me segurava, para não ingerir nenhum alimento.
-Se não comer o lanche, vou ter que trazer um médico aqui, para tomar as devidas providências. -Ela disse, em tom de ameaça.-Não vou comer nada! Pode levar isso, para quem quiser! -Respondi, sem ao menos, retirar o travesseiro de onde estava.
Vovó Sarah, saiu do quarto. Pude ouvir a porta bater. Naquele mesmo instante, levantei da cama e caminhei em direção à penteadeira. Abri a única gaveta que a mesma possuía e peguei um gilete. Logo em seguida, corri para o banheiro. Parei em frente ao espelho por alguns minutos e logo depois, sentei no piso úmido. Com o pequeno objeto cortante em mãos, fiquei analisando, pensando se teria coragem suficiente, para realizar aquilo que a minha mente, planejava. Aquela atitude, causaria um grande desgosto, aos meus avós. Isto era um fato. No entanto, tudo que eu mais precisava, era acabar com a dor que estava me consumindo aos poucos.
Acontece que, a covardia havia me vencido. Deixei o gilete de lado e achei melhor, tomar um banho, pois em tão pouco tempo, as bactérias já começavam a agir, deixando o meu corpo, com odores indesejáveis. Enchi a banheira, retirei a roupa e entrei. Senti a água fria, fazer minha pele arrepiar-se completamente. Apoiei as mãos e sentei. Peguei o frasco de sabonete líquido, despejei uma pequena quantidade nas mãos, esfregando-a em seguida, por todo o corpo. Acontece que a ideia tentadora, voltou. Olhei para o lado e não demorei a pegar o gilete outra vez. Girei o objeto entre os dedos, estendi os braços por segundos e o deslizei sobre os pulsos. Foi uma ação extremamente rápida, pois tinha certeza de que se demorasse mais, não teria coragem. Como consequência, quase morri de verdade.
Vovó entrou novamente no quarto e ao ver que eu não estava na cama, preocupou-se. Logo, notou a porta do banheiro, aberta. Ela chamou por mim. Sem ouvir respostas, achou melhor entrar. Desacordada dentro de uma banheira com água, a qual estava cheia de sangue, estava eu, com os punhos cortados. A primeira reação da minha avó, foi gritar, pedindo ajuda. O vovô veio às pressas, ver o que estava acontecendo.
-Paul, não entre! Ela está nua. -Advertiu. -Depressa... Chame uma ambulância! Temos que salvá-la.-Meu Deus, o que foi que ela fez? Será que está viva? -Ele falou, com as mãos sobre a cabeça.
-Rápido, homem! Não fique aí parado! Jennie precisa ser socorrida! -Ela gritou, aos prantos.
Vovô Paul, desesperado, foi correndo, buscar auxílio. A ambulância finalmente chegou, para verem o que ainda seria possível fazer, a fim de salvar a minha vida. Cobriram-me com uma toalha de banho. Meus queridos avós, fizeram questão de estarem presentes, enquanto ouviam uma desinformada dizer: -Quer somente, chamar atenção.
-O que foi que disse? -Vô Paul perguntou, irritado. -Guarde suas palavras, somente para si!
-Venha, Paul! Depressa, entre na ambulância! Não é o momento de discutir, com vizinha desocupada. -Vovó exprimiu, querendo que a mulher, ouvisse.
Em seguida, entraram no veículo, ignorando a desocupada vizinha. Ela ficara resmungando, sozinha. No hospital, fui atendida às pressas. Meus avós aguardavam impacientes, no corredor. Sempre com o seu rosário na bolsa, vovó Sarah, estava pronta em todas as situações, para rezar. Sentou-se e fechou os olhos, iniciando uma prece. Meu avô, começou a andar, indo e voltando. Alguém lhe ofereceu um suco. Ele disse que seria bem melhor, um café. Saiu para comprá-lo, retornando uns quatro minutos depois.
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Recomeçando a viver
Historical FictionUma tragédia, leva aquilo que Jennie tinha de mais importante na vida. Uma adolescente, tendo que lidar com algo tão doloroso, precisa do apoio daqueles que a amam. Talvez assim, consiga superar o ocorrido. Mais tarde, ela vê em Andrew, um motivo a...