Desejo Iminente

Capítulo 2

Uma mesa enorme, luzes reluzentes, cheiro de comida e a fome que aperta a cada minuto.
Nossa editora havia dado um almoço em comemoração aos lançamentos e ótimas vendas do mês, passamos da meta esperada e era motivo de festejar, bom eu me sentia um pouco intrusa já que estava apenas algumas semanas.

Nos sentamos na imensa mesa, pessoas rindo, conversando, minha amiga e colega de trabalho atrasada como sempre e um homem que nunca havia visto antes sentado à minha frente. Ele não parava de me olhar, mas conversava com outras pessoas sobre vinhos e cerveja, parecia que queria que eu entrasse na conversa, porém não me interessei, estava mesmo era faminta.
Ele tinha um olhar penetrante, forte e sério. Pele morena, cabelos e olhos negros.

Jane
-Até que enfim chegou, vamos sair mais tarde?

Ana
-Beber? comer? Tá pensando em algo?

Jane
-Os dois?

Ana
-Perfeito! Direto do trabalho?

Jane
-Pode ser.

Saímos da editora e fomos direto para um boteco. Comemos e tomamos vários drinks.
Por incrível que fosse eu estava me sentindo bem, estava empolgada com o emprego, por mais que não fosse o que eu realmente gostasse e quisesse, aquilo era em termos uma ponte de solução.

Entre muitas risadas e conversa comentei sobre o homem
Ana
-Sério que você não sabe quem é aquele bonitão?! É membro do conselho da editora, tudo passa por ele e tecnicamente é chefe do nosso chefe o que faz dele nosso chefe.
Ele é um gato, né? As nossas coleguinhas de trabalho babam por ele, gentil, educado e simpático.

Jane
-Gentil e educado como todos que conheci até agora (disse com uma risada presunçosa)

Ana
-Calma, em breve os rabugentos aparecem, você é nova, só está aqui a algumas semanas e ainda não conhece nada nem ninguém aqui, por isso tudo parece ser tão incrível e diferente.

Por mais que eu quisesse eu não conseguia me envolver com ninguém, mesmo com tão pouco tempo, nem a ideia me animava, depois do que já tinha passado com um relacionamento frustrado, tantos anos, tantos planos para no fim descobrir que eu não conhecia a pessoa que estava ao meu lado, descobrir que eu realmente não vivia minhas vontade e sim de outra pessoa.
Um recomeço é sempre difícil e necessário.

Meu trabalho era basicamente atender telefone, anotar recados, agendar reuniões, levar papelada para outro setor, jogar dados em planilhas etc.... Era uma faz tudo.

As mulheres eram bem vestidas, maquiadas, cabelos arrumados, me sentia incentivada a me arrumar e sair lindamente. A fase em que eu me encontrava tirava minha vontade de fazer as unhas, por a melhor roupa, até mesmo coisas básicas como lavar meus longos cabelos... Um início de depressão talvez? Mas, estar ali fazia brotar uma vontade enorme de querer me cuidar novamente e isso significava muito.
Imagino a quantidade de mulheres que em algum momento da vida passam por algo difícil e se sentem tão mal a ponto de praticamente desistirem da sua vaidade, da sua beleza, do cuidado de si e vendo aquela mulheres me dei conta de que quando temos o auto cuidado nos sentimos poderosas, auto estima é e pode ser transformador.

Antes de me mudar eu trabalhava como administradora de uma grande agência de automóveis. Pedi demissão, cumpri meus 30 dias de aviso prévio enquanto pensava no que fazer, na verdade já tinha pensado em tudo, mudar de cidade, e me reencontrar. Ana me deu a ideia de ir para sua cidade, que iria conversar com sua chefe sobre alguma vaga de emprego e a única que teve foi assistente. Não fiz cerimônia e aceitei por mais que fosse uma grande mudança de salário e cargo eu precisava de algo novo ou então enlouqueceria.
Existia a necessidade de uma mudança, de liberdade para fazer as escolhas por mim.

-Alô? Mãe, como à senhora está? Como está todo mundo?

Ainda nem se passava um mês que me mudei, mas já estava com muita saudade da minha família. Eles demoraram para entender e aceitar o termino do meu relacionamento, mas me apoiaram de uma forma que nem imaginei que fariam. Confesso que senti receio em conta a eles o que estava acontecendo.