Reino Sombrio

O reino do Norte

Lauana acordou no meio da noite com uma necessidade insana de beber um copo d'água. Seu corpo tinha um sério costume de fazer aquilo quando já estava de madrugada e por mais que ela tentasse não conseguia se livrar daquele maldito hábito. Por isso ela sempre mantinha ao lado de sua cama um cantil com água fresca, mas devido aos acontecimentos da noite anterior, sua vontade de fugir para bem longe de Dan, ela havia esquecido completamente de se equipar.

Ela tentou fazer com que sua mente desistisse da ideia e que não era necessário beber água naquela hora, mas a mente teimosa ganhou a batalha e ela se viu tirando o lençol que cobria seu corpo, se levantando até que seus pés tocassem o chão de madeira.
Uma brisa fresca soprava para dentro do quarto, pois havia esquecido também de fechar a janela para dormir. Não tinha o costume de esquecer coisas tão banais, era sempre muito centrada, mas não se culpava por aquilo e sim pela presença inapropriada do seu novo instrutor.

Lauana foi até a cômoda e riscou o fósforo para acender uma vela que ela sempre mantinha ali para iluminar o quarto. Com tudo feito abriu a porta e olhou para ambos os lados encontrando somente um corredor vazio. Era estranho a casa estar tão silenciosa assim visto que estando tão cheia Lauana sempre esperava encontrar alguém zanzando pelo corredor em busca de água, ou no caso de sua tia Laynei, para fazer um lanchinho na madrugada.
Procurou não fazer muito barulho, pois se não havia ninguém acordado não tinha porque acordar todos e as madeiras reagentes no andar de cima costumavam fazer um som incômodo ainda mais para sua mãe que tinha um sono leve.

Com apenas a pouca iluminação proveniente da luz bruxuleante da vela que segurava, Lauana desceu as escadas devagar já vislumbrando a cozinha que também encontrava-se iluminada. Ela franziu o cenho pensando que poderia ser sua tia, mas qual não foi sua surpresa ao ver que se tratava de Dan sentado em uma cadeira olhando com uma expressão contemplativa para a luz da lua que entrava pela janela aberta. Lauana quase derrubou a vela ao chão o que iria ocasionar em uma desgraça visto que chamas costumavam se propagar com uma velocidade preocupante. Para a sua sorte seus dedos se mantiveram firmes segurando o pequeno suporte, mas o som que saiu de sua garganta não pôde ser impedido e aquilo chamou a atenção de Dan para a jovem, logo que ela queria evitar a todo custo.

— O-oi. — Lauana praguejou internamente por ter gaguejando na frente dele ficando desconcertada por ter visto um vislumbre de um sorriso em lábios tão atraentes.

— Oi. Perdeu o sono também? — Ele perguntou-lhe dirigindo um olhar com aquelas orbes amareladas que causavam uma sensação estranha na boca do seu estômago. 

Ela ficou tanto tempo observando calada que Dan inclinou sua cabeça bem devagar para o lado a analisando, esperando que a jovem lhe respondesse. Lauana balançou a cabeça lembrando da pergunta feita.

— Ah não, não. Só vim beber água, um péssimo costume que tenho. — Lauana começou a caminhar lentamente até a pia da cozinha que costumava ter uma garrafa de água, agradecendo aos deuses por não continuar parada ali como uma abobalhada. 

— Você perdeu o sono? — Ela perguntou baixinho enchendo até mais da metade do copo, sorvendo todo o líquido de uma só vez como se ele fosse capaz de acabar com aquela secura em sua garganta.

— Sim, onde moro costumo estar acordado a essa hora, me esqueci que aqui é tão tranquilo que meu corpo está estranhando.

Lauana continuava de costas, colocou mais um pouco de água no copo e tomou pequenos goles, teria tomado tudo de uma vez, mas a presença de Dan a deixava tão afetada que ela sentia que não poderia engolir com tanta facilidade assim.

— Sente-se aqui, é terrível ter que virar o pescoço para falar com alguém. — Ela não deixou passar o tom de voz que mais parecia uma repreensão.