Minha hora de meditação pós-banho foi um fracasso. Fiquei assustada pela previsão de Anne de que iríamos ter visões esta noite, e ainda estava nervosa e traumatizada com o pesadelo de ontem com Incy, por me lembrar da minha família hoje, com o incidente no trabalho sobre o qual eu não estava mais pensando, e com toda a coisa acontecendo com Reyn.
Ainda assim, a obediente Nastasya fez um círculo de sal, acendeu uma vela e ficou sentada ali até a bunda ficar dormente. Por fim, suspirei, apaguei a vela e espalhei o sal, como fui instruída. Peguei a vassoura no corredor e varri o quarto, depois joguei tudo pela janela.
Olhei para a túnica na cama. Eu me sentiria idiota usando aquilo. Era tão... clichê: bruxas de túnica dançando ao redor da fogueira à meia-noite. Talvez eu pudesse ter alguma coisa do nada. Infecção estomacal. Talvez eu devesse ir para a cama e ficar lá a noite toda. Talvez eu devesse...
Toc, toc.
Era Brynne. Senti a energia vibrante dela.
— Sim? — gritei.
A porta se abriu. Brynne estava ali, linda, em uma túnica vermelha. Ela era o único membro negro; não éramos um grupo muito variado (estou falando especificamente de River's Edge; os imortais em geral eram sim bastante diversificados. Praticamente todas as culturas têm imortais). Para mim, ela era quem mais tinha jeito de adolescente. O rosto bem estruturado era lindo, e ela era magra e alta, como uma escultura de Brancusi. Só que mais macia. Eu me sentia baixa, pálida e sem graça ao lado dela.
Ao me ver sentada na cama, ela riu.
— Eu sabia que você estava aqui sendo covarde!
— O que se usa por baixo disso? — perguntei, mostrando o vestido. — Estou pensando em roupas de baixo compridas.
Brynne sorriu.
— Por que usar qualquer coisa? Meus olhos se abriram, alarmados.
— Ah, não. Não, eu tenho que usar alguma coisa por baixo disso. Brynne colocou as mãos debaixo dos braços.
— Có, có, có — cacarejou ela.
— Vai estar gelado — observei.
— Você não vai sentir — prometeu ela.
— Você não quer dizer realmente nua por baixo disso?
Brynne fez cacarejos irritantes e saiu. Ouvi um último có quando ela estava no corredor. Trinquei os dentes.
No jantar, me senti idiota e envergonhada com a túnica, apesar de todos estarem usando uma. Eram de todas as cores: a de River era cinza-prateada, como seu cabelo; a de Anne era de um azul-celeste profundo. A de Daisuke era cinza-chumbo bem escuro. A de Charles era verde-esmeralda. A de Brynne, é claro, era vermelha, e ela ergueu as sobrancelhas de forma significativa para mim ao tomar um longo gole de champanhe. Fiz cara feia para ela.
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Cair das Trevas
FantasyDepois de 450 anos esperava-se que Nastasya já tirasse de letra essa história de imortalidade. No último outono ela buscou refúgio em River's Edge, uma espécie de retiro espiritual onde ela e outros imortais tentam estabelecer a paz com o seu passad...