Capítulo 4

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Era outono quando cheguei a River's Edge pela primeira vez. As árvores estavam cor de chamas, com tons de vermelho e dourado e laranja, e o mundo estava começando a se fechar para o inverno. Agora, enquanto eu dirigia meu carro velho pela longa estrada de terra que levava à casa de River, as árvores estavam desoladas e nuas, como esqueletos apavorantes com apenas algumas poucas folhas marrons penduradas aqui e ali. Dois meses antes, o bosque parecera denso e impenetrável; agora, eu podia ver vinte metros adentro. Ficaria lindo na primavera.

Parei de repente, fazendo o carro balançar um pouco devido à inércia. Minhas mãos estavam ao volante. Eu me dei conta, surpresa, que planejava estar aqui na primavera. Queria estar aqui, queria ver as mudanças. Isso se minha pequena besteira na cidade não tivesse um efeito borboleta e destruísse completamente minha vida e as de todos ao meu redor.

Ei, se eu fosse um poço de otimismo, você acha que eu estaria aqui?

Quando fiz a última curva, a casa surgiu, grande e quadrada e branca. Ela tinha parecido austera e hostil quando cheguei, mas agora eu sentia um calor gentil dentro do meu peito enquanto me aproximava e parava ao lado da picape vermelha de River.

Fiquei sentada no carro um minuto "com meus sentimentos" — como Asher vinha tentando me ensinar —, coisa que eu odiava muito, de verdade. Tenho uma enorme habilidade em reprimir qualquer emoção. Mas ao que parece, mesmo que você reprima uma emoção tão bem que acabe não percebendo tê-la, ela ainda está dentro de você. Essa foi uma das percepções mais odiosas que tive desde que cheguei aqui. Todas as emoções que eu nem sentia estavam na verdade encolhidas dentro de mim como uma bile negra, consumindo minha alma até eu ficar muito, muito perto de enlouquecer. Nos últimos dois meses, eu vivenciei — e expressei — mais emoções do que nos cem anos anteriores.

E apesar de eu conseguir meio que entender a realidade de que era melhor assim, mais saudável, eu não conseguia me afastar da convicção arraigada de que, na verdade, era uma droga.

O que eu estava sentindo? Encostei a cabeça no volante e fechei os olhos. Pânico, é claro, como sempre sentia assim que meu cérebro se dava conta de que eu estava tentando encarar algo em vez de fugir. Eu ficava muito mais à vontade com a ideia de fugir.

Eu estava... feliz, eu acho, de estar aqui. Principalmente agora que Nell tinha ido embora e não estaria esperando para lançar seu próximo desejo raivoso contra mim. Eu estava ansiosa para entrar e ver todo mundo. Menos Reyn.

Mentirosa. Seu coração se acelera quando você o vê, suas mãos doem, seus lábios...

Está vendo, é por isso que reprimir emoções funciona tão bem para mim. Quem não ia querer evitar isso? Suspirei, e então alguém bateu na janela do carro, me dando um susto enorme. Eu não havia sentido ninguém se aproximar.

Virei a cabeça rapidamente, e ali estava ele: Reyn. Um metro e oitenta de desastre viking dourado.

No dia em que cheguei, eu parei desse jeito, apoiei a cabeça desse jeito e Reyn bateu na minha janela. Ele me deixou sem fôlego, de uma maneira ríspida, antipática, linda e duvidosa. Aqui estava ele, fazendo a mesma coisa de novo.

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