a escritora

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Tudo que eu escrevo soa tão falso,
Eu não sinto um pingo de emoção nas palavras.
É como se eu fosse uma casca oca,
Sem artifícios ou adjetivos.

Talvez seja por conta do cotidiano.
As ações são falsas e sem vida;
Um papel brilhoso falso comprado na esquina;
O comércio fechado no Domingo.

Já faz mais de vinte anos que eu estou a serviço das palavras,
Elas me fogem e me voltam como doces que roubo.
A música melancólica que me deu ideias
Fugiu, antes que eu pudesse agarrá-las.

Estou rodeada por pessoas que não entendem que quero ficar sozinha,
Que a árvore que caiu na casa do vizinho é minha,
Que o meu gato é um ladrão de um reino paradisíaco
E quer me levar para conhecer seu país.

Eu adoro coisas hediondas e cruéis
Por isso adoro o que eu escrevo.
Apaguei cinco vezes o que eu escrevi hoje,
A mesma primeira linha.

Minha filha é muito melhor do que eu,
Ela cria e vive histórias, é uma flor viva e alegre da floresta mais encantada.
Já faz um ano que o Senhor
Sussurrou-me a história de sua vida em meu ouvido.

Para efeito de drama, não posso contá-la ao mundo.
Ela vai transcender o dourado e o obscuro do universo,
Quebrar minha árvore e roubar meu gato ladrão
Queimar todos os outros até que ache o que é ofuscante.

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Leia também Ofuscante, um capítulo novo que é sobre a filha da escritora mágica. Ele estará disponível em breve!

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