mandona e má

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Eram 5:30 quando eu o acordei.

Sakura: bom dia, Sasuke -kun.

Ele abriu os olhos lentamente, sonolento e confuso.
Ficava lindo daquele jeito.
Não importava que Sasuke estivesse internado a mais de uma semana, que passasse mal absolutamente todos os dias, ou que estivesse pálido. Terrivelmente pálido na verdade.
Ele era lindo.

Sasuke: Sakura? O que ta fazendo? Que horas são?

Sakura: são 5:30 da manhã e nós dois vamos fazer uma caminhada.

Sasuke: nós...o que?

Sakura: você é tipo um vampiro agora, não pode nem chegar perto da luz do sol. E daqui a pouco você precisa tomar as primeiras doses das suas medicações do dia, que vão deixar você enjoado e com sono. E ai você vai comer e vai vomitar, e então vai ficar irritado e com dor. Ou seja, temos que fazer isso agora.

Sasuke: eu não vou levantar.

Sakura: eu não lembro de ter te pedido nada.

Fui até ele, levando a mão por baixo de seu pescoço pra arranca - lo da cama.
Meu toque era extremamente cuidadoso, mas não vacilava.

Sasuke: aí!

Sakura: que foi? - a coragem vacilou por um momento, se eu tiver machucado ele...

Sasuke: sua mão ta gelada!

Sakura: ah pelo amor de deus, vira homem Uchiha!

E então, empurrei ele na direção do banheiro.
Sasuke ia ao banheiro sozinho, mas eu tinha que ajudar a passar protetor solar, trocar de roupa e vigiar enquanto ele escovava os dentes pra que não se machucasse e causasse uma hemorragia.

Sasuke: eu não concordei com isso.

Tínhamos dado literalmente dois passos pra fora do quarto, um dos braços de Sasuke estava entrelaçado ao meu, e ele apoiava parte do peso nele e na minha mão estendida.
O meu outro braço estava nas suas costas, dando apoio.
Puxei o capuz do moleton azul do Uchiha sob a cabeça dele, estava muito frio aqui fora.
Mas a gente ia continuar.

Sakura: eu tentei ser legal, você sabe que tentei. Fui carinhosa, atenciosa e cuidadosa. Mas você não quis colaborar.

Sasuke: então agora o que? Vai deixar de ser tudo isso?

Olhei para aquela carinha emburrada e raivosa, e pelos deuses, eu só queria poder morde -lo.

Sakura: não, senhor Uchiha, eu vou continuar sendo paranóica, super protetora, super cuidadosa, atenciosa, preocupada e etc. Mas também vou fazer o que eu preciso fazer. E isso seria manter você vivo.

Sasuke: o que caminhar tem haver com me manter vivo Sakura?

Sakura: não se faz de burro pra cima de mim não, você sabe como exercício físico é importante.

Sasuke: aí!

Sasuke vacilou, quase caindo em cima de mim.
Levou a mão ao estômago se curvando um pouco pra frente, cerrando os dentes e fazendo careta de dor.
Quase desisti de tudo ali mesmo.
Mas não podia.

Sakura: levanta devagar, isso - ajudei ele a se endireitar de novo - ta legal, agora se apoia mais em mim - tirei praticamente todo o peso do corpo dele pra mim - ok, agora deixa eu ajudar - fiz uma massagem de leve onde estava doendo.

Sasuke: será que eu posso voltar pra cama agora?!

Sakura: não você não pode! Inferno Sasuke, eu juro que se pudesse te batia. Cadê aquele garoto que mandou aumentar a velocidade do soro? Aquele garoto era corajoso! Preciso dele de volta!

Sasuke: aquele garoto passou por inúmeras sessões de quimioterapia, por uma cirurgia, e agora não consegue ficar nem meia hora sem passar tão mal que considere morrer de uma vez!!

Sakura: esse não é você! O meu Sasuke tinha tanto ódio dentro de si que jamais se deixaria subjulgar! Você está doente a menos de um ano, e aguentou a sua família por 18! Será que dá pra ter ódio da leucemia também?! Desse hospital, desse tratamento, dessa situação toda??

O Uchiha me encarava, e eu quase suspirei de alívio quando ele sorriu pra mim.
Era um sorriso de canto mínimo, mas ainda era um sorriso.

Sasuke: você me amoleceu Haruno.

Sakura: bom, então seja assim só comigo. Você ainda pode odiar o resto do mundo.

Ele me roubou um selinho, e deu o próximo passo por vontade própria.

Sasuke: anotado.

Demos duas voltas inteiras pelo andar da oncologia, tivemos que parar três vezes pra Sasuke respirar, e até uma vez pra ele vomitar em uma lixeira.
Pra que ele não ficasse com vergonha, eu decidi usar a técnica combinada Gaara e Ino.
Falar coisas inconvenientes com um toque de malícia e segundas intenções.
Então quando ele parou de vomitar, ajoelhado ao lado da lixeira, eu o soltei e me sentei do outro lado como se estivéssemos na mesa de um bar.

Sakura: lembra daquela nossa conversa sobre fetiches?

Sasuke: lembro que começou porque eu queria vomitar, e estou vomitando agora...isso te excita Haruno?

Esse desgraçado sabia jogar.
E eu tive que engolir a minha vergonha junto com a minha risada.
Pelo menos...era o antigo Sasuke de novo.

Sakura: não era bem esse o rumo que eu queria tomar mas...o que você acha de uma fantasia de enfermeira?

Sasuke levantou as sombrancelhas pra mim, levemente surpreso mas querendo muito entrar naquela provocação.

Sasuke: não, você já é minha enfermeira durante o dia, quero ver uma coisa diferente a noite. Alguma coisa tipo o que você ta fazendo agora.

Sakura: flertando com você ao lado de uma lixeira? - achei melhor nem citar o que tinha nela.

Ele riu.
Riu de verdade.
Jogou a cabeça pra trás e gargalhou.
Como eu sentia falta desse som...
Até fechei os olhos pra aproveitar.

Sasuke: quero dizer algo do tipo mandona e má.

Não queria corar, ou ficar vermelha, mas foi totalmente impossível.
E ficou pior ainda quando eu vi o olhar que ele lançava pra mim.
É..realmente era o antigo Sasuke de novo.
O Sasuke conquistador.
Plenamente confiante, e até arrogante porque sabia que o mundo inteiro ajoelharia diante daqueles olhos ônix levemente fechados...

Sakura: achei que você ia querer ser mandão e mal.

Sasuke: você não faz ideia.

Desviei o olhar, respirando e mordendo os lábios pra impedir a risadinha nervosa que queria sair.
Me levantei puxando ele comigo, lhe dando um chiclete.

Sakura: o que uma simples caminhada não faz hein. O que acontece se a gente sei lá, começar a treinar corrida?

Ele gargalhou de novo, e eu acompanhei aquela risada.
Mais leve do que estive em dias.

de sempre, pra sempre (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora