Edward Wonner

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Mais uma apresentação. Mais uma vez observando minha próxima vítima. Enquanto faço os movimentos da dança, naquele placo enorme, tento obter mais informações a respeito de Edward Wonner. Mais um desses velhos barrigudos cheios de grana que ficam rodeado de garotas novas. Um nojento.

Cada movimento da dança é gracioso, e às vezes até me perco na música, mas não foi pra isso que vim aqui. Meu objetivo principal era encontra-lo. E espioná-lo. Mas percebo que ele está ocupado demais olhando para o decote de uma garota que poderia, com certeza, ter sido filha dele. Ocupado demais para ver que tem mais um par de olhos em cima dele, o observando atentamente.

Idiota. Idiota demais.

E quando chega ao ápice da música, me movo como se estivesse em uma briga com o ritmo. Meus braços sobem e descem como se estivessem duelando com a música. Às vezes confundo os meus trabalhos e acabo fazendo dois em um, as vezes dá um bom resultado e uma comissão boa.

Mas aquele ritmo de repente para, sendo substituído por um mais calmo. Minha música então termina, e todos me aplaudem, até mesmo Edward, na quinta fileira. As pessoas aplaudem como se já estivessem de saco cheio e quisessem ver o próximo. Mais um, mais um, como se estivéssemos em um zoológico. E EU, logo EU fosse a atração mais chata, tipo um peixe pequeno em um aquário de tubarões.

Saio pela lateral do palco, só para dar de cara com os próximos dançarinos. Balé dessa vez. Coisa mais brega e antiga que tem, mas ainda sim é o que mais dá dinheiro e sustenta aquele teatro maltrapilho. O teatro onde costumo fazer os shows nem se compara a esse, é mil vezes melhor, com bancos estofados, com um diretor de luz e som maravilhoso. E a situação desse teatro é o que me deixa com uma pergunta na mente: o que Edward estaria fazendo aqui? Logo aqui?

Troco de roupa e sigo para a plateia. Oitava fileira, para conseguir ver bem para onde Edward iria. Não que ele fosse à um lugar tão cedo, mas eu tive que pagar para entrar, então nada mais justo que ver as outras apresentações, não é mesmo?! Quase matei aquele segurança da fila por ter me cobrado o pagamento, mas sabia que não daria pra fazer isso com mais de 20 pessoas atrás de mim, então dei um sorriso de boa moça e paguei. Mesmo no fundo querendo ter dado pelo menos um chute nele.

Uma pena que para eu ter comprado o ingresso, uma pessoa da fila tivesse que ser roubada. Mas ela nem percebeu. Pelo menos não até cinco minutos depois de eu ter entrado. Mesmo eu estando no camarim, conseguia ouvi-la reclamando com o guarda, e eu quase fiquei com pena por ele. Quase. A mulher não parava de gritar para o guarda do teatro que a bolsa dela tinha sido aberta e que a furtaram – adivinha só - um anel. Nem mesmo percebeu que 50 reais haviam sumido da carteira dela. Só falava de quando o anel dela era caro e que ia meter o teatro na justiça e todos esses blá-blá-blás de gente rica.

"Mas anel deve ser bem caro mesmo. Principalmente com esse diamante no meio", penso enquanto o giro na mão, apreciando os brilhantes dele e vendo o quão, mesmo com bastante detalhes e bem grosso, ainda assim, é leve nos meus dedos, e lindo também. Aquele anel podia me render uma grana boa se eu não conseguisse tanto com essa missão.

Ou talvez ficasse comigo como um prêmio. Ou por pura vaidade. O que importa é que ninguém mais deu bola para aquela mulher, depois que o marido tentou acalmá-la dizendo que ela só devia ter esquecido em casa e que depois comprava outro que ela quisesse.

E então, quando as luzes se apagaram, Edward se levantou.

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⏰ Última atualização: Jul 06, 2021 ⏰

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