Capítulo 1

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Capitulo 1


Anjos são enviados a terra de duas maneiras para cumprir missões especificas que lhes são dadas. Em suas formas etéreas eles protegem de maneira indireta, com sussurros, pensamentos indicando o que a pessoa deve ou não fazer, há quem diga que é tudo parte da intuição, mas na verdade são esses seres que tentam resolver de maneira que não interfira na capacidade de escolha do ser humano.

Já a segunda maneira, é quando um anjo recebe uma missão mais ampla, nesse caso ele abandona sua forma espiritual e nasce como um humano e vive como um, desempenhando um papel nas vidas das pessoas a sua volta que por muitas das vezes são cirúrgicas para a resolução de algumas coisas...

Em um dia desconhecido, de um ano mais desconhecido ainda, afinal, o tempo dos homens é extremamente diferente do nosso, um anjo recebeu a missão de nascer como um homem e desempenhar seu papel no mundo carnal, mas assim como em qualquer lugar, em nosso plano também acontecem coisas que seria um tanto quanto complicado de se explicar... Mas, por algum motivo naquela noite, algo de errado aconteceu no caminho para o corpo que ele habitaria, e eu me lembro como se fosse hoje...

A noite era chuvosa, e a cidade iluminada como sempre... Os carros seguiam seu curso, uns estavam a caminho de casa, outros começariam sua rotina de trabalho ali, enquanto vários outros procuravam por afogar o estresse na bebida e nas coisas fúteis que a vida terrena proporciona.

Em um hospital, os corredores estavam movimentados, afinal de contas, é o único lugar do mundo inteiro que ao mesmo tempo que pra alguns são o alivio de suas dores, é para outras somente o inicio delas.
Um homem negro estava sentando do lado de fora de uma da ala de maternidade, ele esperava aflito, cigarro entre os dedos e batendo constantemente os pés no chão o que demonstrava sua ansiedade. Dali de fora, as únicas coisas que ele conseguia escutar eram os gritos de sua esposa, que entrara em trabalho de parto a algumas horas, mas ao que tudo indicava o bebê estava tendo dificuldades para sair...
Dentro da sala a mulher gritava de dor, e com os gritos ela tirava força para empurrar pra fora a pequena criatura que ela gerou durante 9 meses... Ansiosa por ver o rosto do tão esperado filho...
O obstetra ditava as ordens.

- Força! Eu já estou vendo a cabeça! – dizia o médico enquanto pressionava a barriga da mulher de leve para ajudar na saída do bebê.

O médico tinha um olhar estranho, aquela criança estava demorando demais para poder sair. Ele cochicha algo no ouvido da enfermeira, que logo em seguida sai em disparada da sala, ela passa pelo homem que estava do lado de fora, que de pronto se coloca de pé segura a enfermeira que estava com os as luvas todas sujas de sangue.

- Moça por favor, me de notícias! Minha esposa e meu filho... Como eles estão?!- o homem estava aflito, com um olhar extremo de preocupação em seu rosto...

A enfermeira por sua vez abaixa a cabeça e uma sombra cai sobre seus olhos. Ela se solta do homem, e volta a andar de maneira rápida para o outro lado.
O homem naquele momento sabia, que o parto não estava acontecendo como deveria, ele sentia um gosto amargo em sua boca, mas não era a nicotina, mas sim o medo... Medo da perda.
Não demora muito para que a enfermeira voltasse de lá acompanhada com outro médico e mais 2 enfermeiros... Eles entraram, enquanto o homem que aguardava ansioso só podia observar e fazer suas preces.
A mulher lá dentro continuava a gritar, mas seus gritos foram ficando cada vez mais fracos, até que o silêncio total tomasse conta do ambiente.
Aquele silêncio era estarrecedor, a ponto daquele pai que esperava por sua esposa e filho, ouvir as próprias batidas do coração.
Algum tempo depois o médico sai... Roupas ensopadas em sangue, ele naquele momento se parecia mais com um açougueiro do que com um médico propriamente dito.
O homem se levanta de seu assento, com um cigarro entre os dedos e pergunta esperançoso:

- Doutor... Que bom que o senhor veio! Como minha esposa está? -disse ele aflito de preocupação, ele abre um sorriso esperançoso...
O médico que tinha um semblante abatido, retira sua máscara cirúrgica.

- Sua esposa, está bem, mas está muito cansada...- disse ele desviando os olhos do homem.

- E meu filho doutor? Nasceu bem? Ele está bem?

O médico pareceu congelar diante da pergunta, mas ainda sim respondeu em um tom triste e desamparado.

- Infelizmente, tivemos complicações sérias durante o parto...- ele engoliu a seco. – Nos perdoe, mas não conseguimos salvar a criança...
A expressão do homem naquele momento ficou congelada em um sorriso, mas estava longe de ser alegria, aquilo se parecia mais com desespero...
O cigarro cai de seus dedos, ele invade a sala de parto onde as enfermeiras estão limpando todo o sangue que a mulher havia perdido.
A mulher estava pálida, extremamente fraca, com um seu bebê morto nos braços... Ela chorava, e sentia um vazio imenso em seu peito, como se o seu bem mais precioso tivesse sido roubado bem diante de seus olhos.
O homem vai até a mulher, olha para seu estado, e para o neném sem vida nos braços dela, e entra em um choro inconsolável, como se ele tivesse perdido um ente a qual ele havia convivido por uma vida inteira. Entre as lágrimas ele beija a testa de sua esposa, afaga a cabeça daquele pequeno e frágil corpo, enquanto ela embala a criança e sussurrava um nome entre os soluços causado pelo choro.

-Steven... Meu pequeno Steven...

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