02: O Príncipe Congelado

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Gusu é um país congelado

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Gusu é um país congelado.

Mesmo no período do verão, o vento frio se espalhava entre as montanhas e os poucos raios de sol existentes não eram capazes de aquecer a terra. Não houve um único dia quente, nem há previsão de haver, como se a região norte tivesse se isolado do resto da humanidade com a sua população pálida como a primeira nevasca. A queima de madeira e a lareira em casa era um conforto, apesar da pedra esculpida estivesse se certificando de absorver esse frio ao mesmo tempo que era a responsável por reter o calor. O palácio era uma fortaleza em branco, uma visão quase mística e digna de contos, como se um ser sagrado vivesse ali; para os plebeus, a monarquia era uma classe divina enviada pelo Imperador de Jade para guiar e governar o povo de Gusu.

Mas eles eram apenas homens e mulheres de carne e osso, que sentiam o mesmo frio em seus corpos.

Lan Wangji estava envolto em peles quentes e luvas grossas, tentando não ser afetado pelo ápice do inverno. Seu pequeno nariz era um botão vermelho e sua pele clara estava seca e sem cor, mas como todos que nasceram em Gusu, ele era um habitante resistente às temperaturas. O Segundo Príncipe Lan ainda estava naquela tenra idade em que precisava levantar o queixo para olhar no rosto dos adultos e como um membro da família real, ele tinha que olhar os outros nos olhos e com o direito e superioridade que só um Príncipe teria. 

Mesmo com os seus oito anos de idade, Lan Wangji já havia sido doutrinado sobre a sua importante posição. Ele tinha consciência sobre os deveres e sacrifícios que um Lan tinha que cumprir e seguir, eles haviam sido colocados na terra com o propósito de serem aqueles que iriam proteger, como reis e rainhas de um povo abençoado pelas graças dos céus. Lan Wangji precisava se manter sob os ensinamentos do taoísmo e ser reto e bom de coração, compreensivo e altruísta. Ele se mantinha silencioso, apesar de querer falar e ser uma criança.

O Segundo Príncipe não entendia, mas não questionava o porquê de precisar se afastar de sua mãe. Ele segurava a mão de seu tio enquanto olhava para a Rainha deitada na cama, o rosto magro e os olhos fundos deixavam explícito o quão doente estava. A face de Sua Majestade se virou para olhar o seu caçula que estava próximo do leito enfermo, dor e sofrimento estavam estampados em seu semblante quando a mão ossuda acariciou a bochecha gorda da criança. O jovem Príncipe nunca havia visto a sua mãe assim, entendia a sua doença, mas não imaginava tal cenário tão crítico.

Apesar disso, a fita da casa Lan ainda rodeava a testa da monarca, o suntuoso anel imperial se encontrava em seu dedo indicador e os seus cabelos ainda estavam no mesmo tom ébano profundo. A Rainha era linda, mas parecia tão cansada e triste... Mesmo sendo uma criança, Lan Wangji já sabia diferenciar o que era a tristeza. Seu peito doía e agora, olhando para a sua mãe, ele por fim entendeu que, após sair daquele quarto com o seu tio, nunca mais a veria. Seus olhos redondos se encheram de lágrimas, mas ele selou os lábios sob o toque gelado da mão da mulher, o dedo capturando a gota que escorreu por sua bochecha. Ele amava tanto a sua mãe. A sua garganta se apertava, seus olhos ardiam e seu peito doía e tudo aquilo parecia sofrimento demais para um corpo tão frágil e tão pequeno como o do Segundo Príncipe.

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