Margot Green
7 de Outubro
01:54
A filha perfeita do casal perfeito.
Como eu odiava a máscara que se moldou em mim desde que me lembre.
Ser filha de Caterina e Dante Green não era uma tarefa fácil e não digo isso atoa, quer dizer, todos os olhos do país estão em nossa família.
A primeira-família é composta pela adorável primeira-dama Caterina, os primeiros-filhos, Margot Green e minha irmã mais nova, Isabelle e o pomposo presidente republicano Dante Green, mais conhecido por mim como papai.
Lembro-me vagamente da minha infância, se é que podemos chamar assim. Passava a maior parte do meus dias em aulas instrumentais, de etiqueta e de diversas línguas.
Meu futuro já estava definido antes mesmo de meus pais escolherem qual nome me dariam.
Eu seria a perfeita diplomata Margot Green, a filha exemplar.
Não esperavam menos de mim, afinal, essa não era a carreira que minha mãe sonhava antes de se apaixonar perdidamente por Dante e formar uma primeira-família perfeita?
Com certeza não estava nos planos deles meu amor pelo balé, a única coisa que bati o pé durante toda minha vida.
Meu dever era ser excepcional em canto, violino, piano e fluente em inglês, francês, alemão, espanhol, japonês e quantas línguas mais eles decidissem. Nunca reclamei, nem uma única vez, sequer revirei os olhos com toda a bagagem sendo jogada para cima de mim.
Mas piorou a três anos, meses após o aniversário de 1 ano de Issy, não me lembro o motivo da briga, se é que realmente teve um. Foi o último momento que passaram em harmonia, isso é, longe das câmeras. Meus pais nunca deixam seus problemas pessoais afetarem a imagem que o povo tem da nossa família, afinal, somos perfeitos e temos a vida perfeita.
- CHEGA DANTE, EU ESTOU CANSADA DISSO! - Minha mãe gritava do andar debaixo. Eu mantinha Issy no meu colo com os ouvidos tampados, minha irmã não merecia isso.
- VOCÊ SABIA QUE SERIA ASSIM, CATARINA, NÃO OUSE JOGAR A CULPA EM MIM! - Coloco os fones de ouvido e puxo Issy para se deixar comigo, as brigas estão cada vez piores. Se não fosse pelo isolamento acústico da cada isso já estaria em todos os jornais. Não se tem muita descrição quando se é parte da primeira-família.
Minha irmã ergue os olhos para mim e faz uma careta.
- Nana, porque eles brigam o tempo todo?
- Shii! Está tudo bem, pituca - Afago seus cabelos beijando sua testa. - Já vai passar.
Não sei quanto tempo se passa, mas em algum momento meu pai entra no meu quarto. Retiro os fones e lhe ofereço um pequeno sorriso fechado.
- Ela dormir a muito tempo? - Pergunta se sentando ao nosso lado e beijando os cabelos grossos de Isabelly.
- Sim, já faz um tempo - Confirmo simplesmente. Estou cansada demais dessa situação para me obrigar a fingir normalidade.
- Ela...
- Não ouviu muito, a trouxe para cá logo no início - O tranquilizo.
Papai se preocupa muito em privar Issy ao máximo dos nossos problemas, mas tem sido difícil nos últimos tempos.
- Eu sinto muito querida, estamos nos estranhando mais do o normal.
Não sinto raiva dele, de nenhum dos dois.
Deve ser frustrante governar um país inteiro com perfeição, mas não conseguir resolver problemas no seu casamento.
- Tudo bem papai, eu entendo.
Ele sorri e me abraça antes de beijar meus cabelos.
- Vamos melhorar, tá bem? Eu prometo - Apenas sorri para ele e assinto.
Sempre a mesma promessa, as coisas melhoram por três ou quatro dias, com sorte uma semana, mas logo volta ao mesmo padrão.
Eu já me acostumei, não me importo. As vezes a casa até fica estranha sem os gritos e coisas quebrando. Minha maior preocupação é a mesma do meu pai, Issy. A pequena é muito nova para entender como nossa vida funciona.
- Não se preocupe, Sr. Presidente - Brinco fazendo-o sorrir. - Vou garantir que ela esqueça isso, depois de um dia divertido nem irá se lembrar.
- Foi é a filha perfeita Margot, sua mãe e eu te criamos bem. Tenho orgulho de você querida. - Eu o agradeço, mas por dentro mais um pedaço da verdadeira eu se estilhaça.
Não sei se alguém um dia entenderá o peso dessas palavras, como é difícil suportar toda a pressão que vem com todo esse orgulho e confiança.
Nunca tomei uma bronca ou fiquei de castigo, sempre fazia meu melhor antes mesmo que precisassem me pedir. No início era fácil, agora? Uma tortura cada vez que algo sai minimamente errado.
Dante Green leva a pequena Isabelly para o quarto como um pai amoroso faz e suspiro torcendo que a vida de Issy seja diferente da que conheço.
- Boa noite querida - Oferece parado na porta do meu quarto - Durma bem, amanhã temos uma coletiva.
- Está bem pai, boa noite - Ele apaga a luz e puxa a porta.
Assim que ouço a porta do seu quarto se fecha me levanto correndo e acendo a luz. Calço os coturnos escondidos debaixo da cama e pego meu celular e mochila. Abro a janela e escalo até o chão, ponho o capuz e olho para os dois lados me certificando de não estar no radar dos seguranças.
- Boa noite Senhorita Green - A voz sussurrada de contra meu ouvido me faz pular de susto.
- Está tentando me matar do coração?- Murmuro sorrindo e tentando me recuperar de sua aparição repentina.
- Outro passeio noturno, primeira-filha? - Zomba sabendo que vai me irritar.
- Sim, Vittorio, estou precisando tomar um ar - Me esquivando dos outros sigo para uma fenda escondida na cerca viva nos fundos.
- Margot - Ele me para puxando-me delicadamente. - Só um segurança, por favor.
- Não! - Vittorio sempre insiste nessa merda.
- Então você não sai daqui. A última fez já foi perigoso o suficiente - Se refere a minha última saída não autorizada em que quase fui... presa.
É, não iria cair muito bem nos noticiários.
- Tudo bem, mas só se for você - Imponho vendo-o levemente chocado por ter sido tão fácil. - Se tentar me empurrar um dos soldadinhos de papel...
- Você que manda primeira-filha, estou a sua disposição o tempo todo - Ignoro suas gracinhas e passo pela fresta saindo para o ar quente das ruas de Nápoles.
Agradeço por meus pais optarem a uma casa normal ao Palácio de Quirinal, seria bem mais difícil de escapar.
Enquanto a cidade dorme tranquila, sem saber que o vândalo que tanto odeiam é a filhinha perfeita do presidente.
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Take me with you - Spin-of de Ti avrò per me
Roman d'amourMargot Green A vida é feita de escolhas, mas nunca me contaram que as escolhas dos outros poderiam me afetar tanto assim. Meus pais são casados a 35 longos anos, as pessoas de fora podem ver isso como prova de que o amor ainda existe. O que realment...