Cretino

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- Mia Narrando -

A última coisa que vinha na minha cabeça eram uns flashes da minha discussão com o Júnior mas para ser sincera nem lembrava do motivo da briga, abri os olhos e fechei novamente, as minhas vistas estavam turvas e eu me senti enjoada.

- Prinzessin - escutei a voz do meu pai ao fundo e só então abri os olhos

- Papa - sussurrei e ele apareceu na minha frente junto com a minha mãe - Mama

- Minha pequena - me abraçaram e escutei o choro da minha mãe, quando me soltaram ela tentou limpar o rosto mas não adiantou, o meu pai indo contra a frieza alemã estava com lágrimas descendo pelo rosto sem parar

- Onde eu tô? - perguntei confusa quando estranhei o quarto

- No hospital - minha mãe falou e passou a mão no meu rosto - Como está?

- Não sei - falei e o meu pai beijou a minha testa - De novo?

- De novo, princesa - minha mãe fungou e eu senti os meus olhos se encherem de lágrimas

- Eu sou fraca demais - senti as lágrimas escorrerem pelo meu rosto

- Para com isso - minha mãe limpou o meu rosto

- Você não tem nada de fraca - meu pai falou firme

- Nunca mais fale isso - minha mãe falou e eu notei o rosto dela avermelhado assim como o do meu pai

- Tudo bem - suspirei - O que aconteceu, mãe?

- Filha, depois falamos disso - falou e eu olhei para o meu pai

- Me fala, por favor - pedi e eles se entreolharam

- Você teve uma crise no clube - falou e eu fechei os olhos por um momento, eu odiava que todo mundo soubesse sobre os meus problemas - Não acordou e te trouxeram para o hospital

- Vocês estavam no Brasil - me lembrei - Eu fiquei 12 horas desacordada?

- 48 horas - minha mãe se sentou na cama - Os seus batimentos precisavam estabilizar

- Meu deus - sussurrei e entraram no quarto, quando vi quem era arregalei os olhos - Henrique? O que tá fazendo aqui?

- Pensou que iria fugir de mim? - brincou e eu revirei os olhos - Bem que você tentou, né?

- Não foi isso - neguei - Só fiquei sem tempo

- Você fica sem tempo pra se reunir com amigos mas para as nossas consultas isso não pode acontecer de jeito nenhum - se aproximou da cama - Eu olhei os seus exames e você suspendeu por conta própria os remédios. Enlouqueceu? Só pode

- Eu não gosto do jeito que eu fico quando tomo - me irritei e olhei pra ele - Fico dopada e isso não é nada legal

- E isso é legal? - olhou em volta - Você está nessa faz 10 anos e sabe muito bem que toda mudança na sua vida precisa ser acompanhada de perto

- Que saco - gritei - Me deixa em paz, ok? Volta para o Brasil e me esquece

- Mia, olha o respeito - meu pai repreendeu

- Não, tudo bem - Henrique falou e eu notei que ele tinha um sorriso de canto

- Seu cretino - falei incrédula e vi um celular apoiado no móvel ao lado da maca, peguei e taquei nele mas ele conseguiu desviar e o celular bateu com tudo na parede

- Misericórdia - minha mãe falou assustada - Quase que pega nele, Mia, para com isso.

- Extravazou? - perguntou e se sentou na maca

- Você é um idiota - resmunguei e respirei fundo

- Há 10 anos você fala isso - falou entediado, esse era o meu psiquiatra há 10 anos, demorou 1 ano para os meus pais chegarem nele e só então me acertei com um médico

- E você não mudou - falei dando de ombros

- E o seu estresse continua o mesmo - falou simples

- Não tô estressada - falei e ele pegou a mão minha mão e eu olhei pra ele

- As unhas roídas são o que mesmo? - puxei a minha mão - Corridas pelo parque, comidas em excesso e o melhor de todos; 1000 euros em compras na amazon em uma noite

- Eu não conseguia dormir - me defendi

- Os sinais estavam ali e você ignorou - falou simples e eu olhei para os meus pais

- Vamos deixá-los a sós, liebe - meu pai falou e eles saíram do quarto

- Abre o jogo - pediu e eu suspirei

- Eu tô cansada, Henrique - falei baixo - Parece que sempre quando está tudo indo certo eu acabo sendo derrubada e isso está me cansando, sabe? Vou ficar lutando porquê? Eu não tenho motivo para lutar

- Não tem mesmo? - questionou - Os seus pais, seus amigos e a vida que você tanto ama

- A vida - ri sem humor e as lágrimas desceram sem parar pelo meu rosto - Não sei se amo tanto assim

- Ama sim - pegou o celular, mexeu e me entregou, eu dei play no vídeo e funguei

- Eu que te mandei - passei a mão no rosto mas não adiantava de jeito nenhum

- É essa menina feliz da vida porque pintou todas as páginas de um livro de ilustração que eu quero ver - falou e eu larguei o celular - Não essa Mia que tem a audácia de falar que não ama a vida

- Seria tão mais fácil se eu - parei de falar e ele pegou um lenço na camisa e me entregou

- Não seria - falou simples - Você só pensa que seria fácil ou que resolveria os seus problemas só que por mais que pareça esse não é o caminho mais fácil. Eu sei e você também sabe que essa vontade não é real, você só está com medo e quer acabar com essa dor e esse medo de qualquer forma, mas entenda que essa não é a solução - finalizou calmo e ficamos por um tempo em silêncio - Repete comigo: A solução não é essa

- Henrique - resmunguei

- Repete - falou e eu respirei fundo

- A solução não é essa - repeti baixo

- Vamos recomeçar? - estendeu a mão pra mim

- Vamos - falei após uns 2 minutos e apertei a mão dele - Vou ter que voltar para os remédios, né?

- Todos eles - falou e eu fiz careta - Terapia todos os dias e tudo mais que precisar

- Tá bom - balancei a cabeça e ele pegou o celular

- Tem alguém querendo te ver - falou e eu olhei um pouco confusa pra ele

- Quem? - perguntei curiosa e após uma batida na porta entraram - Hugo - arregalei os olhos

- Amiga - correu em direção a cama e me abraçou - Eu fiquei com tanto medo de perder você

- Eu tô aqui - apertei ele no abraço e quando escutei o choro dele não aguentei mais segurar

- Promete pra mim que vai se cuidar - segurou o meu rosto e eu assenti

- Eu vou - falei e ele beijou o meu rosto

- Oi, Mia - escutei uma voz e quando ele me soltou eu vi o James parado na porta do quarto junto com o Cavani e o Thiago.

Mi amor Onde histórias criam vida. Descubra agora