Prólogo

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"Karma é uma vadia sem escrúpulos, Olivia White. Uma ainda pior do que nós duas." 

Ela conseguia se lembrar perfeitamente do dia em que dissera aquela frase, alguns anos atrás. O mundo era uma caixinha de surpresas, realmente. Um dia, você está na posição de vilã; noutra, na de vítima. Se não fosse trágico, seria cômico.

Karma era mesmo uma vadia ainda pior do que ela. Pior do que qualquer outra pessoa. Segundo a religião, Karma significava a somatória de suas ações, – fossem elas boas ou más, – praticadas em uma de suas vidas, apta a determinar o que acontecerá em seu futuro, numa possível reencarnação.

Outra vida... Realmente parecia outra vida. Outras vidas. Já havia vivido várias delas. E então, quando pensou ser a última, retrocedera à sua primeira. Ao ponto inicial de sua jornada.

Um choque, paralisando-a por completo.

A mulher sentiu o peito queimar, fazendo-a perder a força das pernas. Karma, Brooke. Um incêndio se irradiou em sua pele, impedindo-a de reagir verdadeiramente. Se é que existia alguma reação passível.

O outro franziu o cenho, confuso, aproximando-se cauteloso. Tinha certeza de que não haviam se passado mais do que segundos desde que tudo acontecera, mas parecera horas. Dias. Tantas informações, tantos sentimentos, tanta amargura... Tanto, em uma simples imagem. Em um simples sorriso familiar.

Brooke segurou o lábio inferior entre os dentes, sentindo a dor transformar-se em ódio. Em retaliação. A morena olhou uma última vez para o homem à sua frente e o enxergou perfeitamente.

Ela conhecia o olhar que ele carregava, desde que o vira pela primeira vez.

Agora, conhecia as suas ações, suas motivações, a sua sede. O ódio, capaz de deslegitimar todo e qualquer sentimento bom, que não envolvesse o seu objetivo final.

Conhecia, pois havia estado em sua pele.

Também havia deixado que a afastassem do que lhe era mais precioso. Do que pensava ser.

Vingança.

Brooke engoliu a seco, sentindo as lágrimas acumuladas no canto de seus olhos sumirem, à medida em que sentia o mesmo ódio do outro se apossando do seu próprio corpo. Após respirar fundo – pela primeira vez desde que o seu mundo virara de cabeça para baixo –, ela buscou o porta-retrato nas mãos dele e assentiu, friamente. Se algum dia havia prometido nunca mais deixar o desejo de vingança consumi-la, pois sabia o custo, já não mais se lembrava. Estava cega, mais uma vez. Dessa, com razão. Com ênfase.

Havia tantas perguntas para fazer, mas não naquele momento. Naquele momento, só lhe restava uma promessa.

- Eu... – começou, ganhando mais firmeza na voz, em seguida. – Ela... Não importa quem seja. Onde esteja. Vamos encontrar os culpados, e quando isso acontecer, eu prometo... Não haverá volta.

*

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