Capítulo 22 - Cafés com debates, e pós lágrimas telefônicas.

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Eu nem podia acreditar que estava em solo brasileiro. Aquele ar totalmente pesado da minha cidade enchia-me os pulmões e as vozes ao redor me davam a certeza mais que absoluta de lar.
Desde a farpa que trocamos, eu e Ucker estávamos em silêncio. Ninguém daria o braço a torcer, porque éramos extremamente orgulhosos.
Estávamos aguardando Poncho chegar para nos buscar, parados no lado de fora do aeroporto com as malas. Uckermann estava no celular e eu olhando o nada. Às vezes o observava de canto de olho.

O silêncio ficava cada vez maior, e a vontade de falar estava na ponta da língua. Podia ver que Christopher estava sem se aguentar toda vez que, disfarçadamente, ele chegava mais perto de mim. Certo momento, ele colou as costas na minha, como fazíamos a tempos atrás quando estávamos brigados. Ficávamos por horas assim, em silêncio, apenas com as costas coladas. Hora ou outra, deixávamos nossas mãos se segurarem despretensiosamente.

Aquele era nosso movimento de semi-trégua. O sinal de que estava tudo bem, ainda que faltasse alguma posição de um dos dois. Não pude evitar de sorrir quando o senti ali e soltei uma risada baixa que não fugiu de sua atenção.

— Tua malvadeza me mata todo o dia ruiva, ainda assim não consigo deixar de amar você - ele disse rabugento

— Tudo bem, desculpa? - respondi tentando olhar ele no rosto, apoiando minha cabeça no seu ombro - Não quis falar aquilo... É que você me pressionou demais. - minha voz saiu engraçada porque a posição fazia meu pescoço se esticar.

— Eu fiquei assustado pequena, porque você ficou pelo menos uns 30 minutos daquele jeito! - ele levantou minha cabeça para poder me abraçar

— Você sabe que, pra mim, foram 5 minutos né?! - eu ri e virei de frente para ele

— Entendi, senhora meditações, você só desligou e ficou estática. Eu não precisava surtar... - ele disse resmungando e rindo junto

Pouco depois disso, Poncho chegou todo feliz, buzinando bastante para fazer barulho

— Por Hekate meu irmão, precisa dessa algazarra? - lhe disse entrando no carro enquanto Ucker colocava as coisas no porta malas

— Porque DULCE MARIA IS IN BRASIL! - ele disse rindo e buzinando mais um pouco

— EU JÁ VOU CARAMBA - Ucker resmungou do lado de fora do carro fechando o porta-malas

Eu e Poncho nos olhamos e caímos na risada, porque a buzina não era por Ucker estar demorando.

Ucker entrou no carro rápido e assim que fechou a porta reclamou

— Tu acha que eu sou o relâmpago marquinhos pra fazer tudo rápido cara?!

— Nem era com você a piada, mas agora é, senhor RELÂMPAGO MARQUINHOS! - Poncho respondeu rindo, aumentando o volume do som e saindo do estacionamento

— Meu Deus, eu cheguei mesmo em casa - comentei sorridente.

Estávamos relativamente perto de casa e a cada rua que passamos, meu coração se alegrava. Era bom estar ali, era bom não sentir dor ao voltar e deixar as lembranças tomarem minha mente sem que aquilo fosse um peso. Dado momento, Ucker esticou a mão para trás e eu uni meus dedos ao dele. A sensação de pertencimento, de certo, de destino bem terminado, era muito viva.

Paramos em um farol, e Poncho abaixou o som para falar

— E ai mano, tu vai encarar dona Blanca agora ou quer esperar para mais tarde?

— Nossa, tem isso né... - ele respondeu fazendo um carinho leve no meu dedo, evidenciando seu nervoso

— Oh e como tem! Ela vai vir com 3 pedras... - Poncho respondeu um pouco preocupado

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