— Eu não quero voltar para o país das maravilhas!
Seu corpo enrijecia tentando evitar o seu desagrado em ser mandado novamente para aquele lugar, mesmo que apenas por suas memórias. Fazia tantos anos e seu corpo já não era mais acostumado com a diferença dos dois mundos; sendo um deles, puramente construído em sua imaginação.
— Sua vontade não é relevante neste momento, Armin. Deixe-se levar, não resista ao inevitável.
A voz de seu psiquiatra pareceu ecoar em seu cérebro, como sua consciência ou grilo falante. Parecia que sua realidade estava cada vez mais longe, mesmo sabendo que seu corpo físico nem sequer saiu do divã de couro, na sala de atendimentos do orfanato.
A escuridão que costumava ver em todas as sessões de hipnoses começou a se dissipar, tornando-se uma névoa escura que rondava seus olhos, o impossibilitando de distinguir o que havia em sua frente; essa que em pouco tempo se afastou lentamente e revelou novas formas sob seu olhar.
E lá estava: cogumelos gigantes, árvores estranhas e de espécies indistinguíveis, pássaros enormes voando sobre o céu límpido e sempre azulado, como um dia quente de verão. Tudo estava normal, mas parecia diferente. A essência não lhe corria pelas veias, tudo parecia tão quieto e sombrio, como um momento antes de lhe darem um grande susto.
— O que está vendo?
— É aqui. Mas... não sinto que de fato seja aqui, algo está errado.
Armin escutou mais uma vez a voz do médico, mas ignorou completamente ao perceber que não parecia mais que um sussurro baixo e incompreensível. Começou a andar pelo lugar, seguindo o caminho de tijolos escuros e desgastados que lhe foi apresentado, seu sapato fino e velho fazendo com que sentisse cada elevação da estrada. O vento estava gelado, atravessando suas roupas esfarrapadas e cinzentas, ao passo que movimentava livremente os fios longos e dourados de seu cabelo, causando-lhe um arrepio em todo seu corpo.
Continuou caminhando e observando atentamente a todos os lugares e coisas que passava, tentando ignorar que a mata parecia cada vez mais fechada, como se desejasse o encurralar. Um barulho alto entre as folhas o assustou, fazendo com que virasse para o caminho que veio.
Seu coração parou por alguns breves segundos ao ver que o caminho que seguia já não estava mais lá, agora só havia enormes árvores e moitas, como um beco sem saída. O céu antes azulado tornou-se cinzento, quase preto, deixando-o sem nenhuma fonte de luz. O seu coração acelerou com a adrenalina que corria fortemente em seu organismo.
Procurando uma maneira de sair daquele lugar, um zunido alto e agudo passou por ele, fazendo com que tampasse os ouvidos no mesmo instante. Mesmo apertando suas mãos, o som ainda estava alto e fazia sua cabeça girar acompanhada de uma dor que assolava seu crânio. Jogou-se de joelhos, segurando seu grito de agonia, fechando seus olhos com força e se encolhendo ao tentar evitar o barulho.
Ao retornar a abrir seus olhos, o barulho sumira e já não mais se encontrava na floresta e sim em uma canoa de madeira, navegando lentamente pelo lugar que conhecia como "O rio de lágrimas". Acreditou estar sozinho no meio do nada, mas ao olhar para uma pequena ilha, assustou-se ao visualizar um grupo de talvez 15 pessoas, todos vestidos com roupas antigas e de cores monocromáticas; suas faces eram brancas, como uma tela antes de se tornar uma bela pintura. Não possuíam olhos e não sabia como poderiam respirar sem um nariz.
Mas todos obtinham uma boca enorme, que carregava um sorriso amedrontador e pontiagudo, eles não tinham olhos, mas Armin sabia que observavam cada movimento que fazia no lago, principalmente em como a canoa se balançava sozinha de encontro a ilha. Estava tão espantado, com os rostos fantasmagóricos, que por pouco não soltou um grito ao ser puxado para frente.
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Armin in a Wonderful Madness
FanfictionAquele lugar estava morto para Armin. Estava farto de gatos sorridentes, exércitos de cartas e o tanto de chá que lhe obrigavam a beber. Sua saúde mental e fantasiosa o levou ao abismo, a tortura e solidão; não estava louco, apenas enxergava a reali...