Take care of me: Chapter 1

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Espreito pela janela partida da casa em que me encontro, procurando algum movimento. Nada. Outra vez. Faz já 1 mês que não encontro nem uma pessoa, nem um sinal de vida. O sentimento de solidão toma cada vez mais conta de mim, consumindo-me quase por completo. Mas não posso deixar-me levar. Não posso perder. 

Decido entrar na casa, muito devagarinho, empunhando a minha arma com força. Agarro a maçaneta da porta e esta abre-se com um ranger. Nuvens de pó voam pelo ar, empurrando-me para fora. A casa cheira a mofo, o que mostra que há muito que ninguém aqui entra. Observo tudo ao meu redor. As paredes estão cobertas por um papel de parede bege que se encontra rasgado em muitos locais. Os tapetes que aquecem o chão revelam tons variados de vermelhos, condizendo com os sofás cor de coral da sala. Teias de aranha unem os candeeiros entre si e a televisão mostra tons acinzentados. Os quadros abstratos expostos, sugerem que esta moradia seria de alguém com muito dinheiro. Nem os mais ricos se conseguiram salvar. Continuo a caminhar pelo chão de madeira, sempre atenta a qualquer barulho que se faça ouvir. A porta do que seria uma casa de banho encontra-se totalmente destruída e gotas de um líquido vermelho tomam conta do branco pérola do espaço. O que é que terá acontecido aqui? Avanço pelo corredor em mau estado, onde a luz do sol pouco se mostra. O chão e as paredes estão partidos, em espaços irregulares. No final, encontro uma porta de ferro intacta. Para minha satisfação, mal empurro a porta com o pé, esta abre-se de livre vontade. Dentro do cómodo encontro uma cozinha. 

É um espaço pequeno, com pouca mobília, que se encontra num estado totalmente perfeito. A primeira divisão que encontro não destruída. Como é possível? Parece que não chegaram a entrar aqui. É impossível não terem destruído esta zona, a não ser que esta fosse secreta, o que explicaria a distância a que está do resto da casa. Mas uma cozinha secreta? Não faz sentido. A não ser que esta família já estivesse pronta para o Apocalipse. Então onde estarão? Dirijo-me rapidamente ao frigorífico em perfeitas condições, com esperança de encontrar alguma comida. Os únicos mantimentos que tinha acabaram há dois dias. Ao abrir o frigorífico, os meus olhos enchem-se de esperanças e lágrimas de alegria. Pequenas garrafas de água, latas de atum e de feijão estão perfeitamente arrumadas dentro do eletrodoméstico. Agarro em todas as que consigo e guardo-as na minha mochila amachucada. Se gerir bem já tenho comida para as próximas 3 semanas. Deixo algumas latas expostas na prateleira, ainda com a esperança de que alguém possa passar por aqui em busca de comida, tal como eu fiz. 

Quando me preparo para sair, oiço um barulho ao de longe. Foi quase inaudível, mas já é suficiente para despertar a minha atenção. Levanto-me devagar e ergo a minha arma bem firme, enquanto caminho em direção à porta de ferro. A cada passo meu escuto mais um no corredor. Engulo em seco e encosto-me à parede. Respiro fundo duas vezes. Rastejo a arma pela parede até chegar à umbreira e num movimento rápido viro-a para o corredor. Os meus olhos seguem o seu movimento e vão encontrar ao fundo da casa uma silhueta. Mostra-se imóvel, quase descontraído, até se virar para trás e reparar na minha presença. Disparo três tiros mal se moveu na minha direção, e corro. Corro o mais depressa que posso, passando pelo corpo. Tenho 10 segundos até que este se levante de novo e me persiga. As latas pesam nas minhas costas e eu atravesso o mais rápido que consigo os destroços da sala. Desloco-me depressa até à porta da rua e agarro-a mal a alcanço. Porém, é quando a tento puxar para mim que reparo que está presa por fora. Que momento à filme. A porta a ficar empenada mesmo no momento errado. Por amor de Deus! Começo a entrar em pânico e puxo com toda a minha força, sem querer pensar no barulho que estou a fazer. Os passos começam a ouvir-se atrás de mim e parecem voar na minha direção. Puxo mais uma vez com o pé na parede. Os passos aproximam-se. Arrasto todo o meu peso para trás até que a maldita porta cede. Corro o mais velozmente possível para a estrada e acelero sorrateiramente pelo cemitério de prédios.

  Ao fim de alguns quarteirões que percorri pela longa avenida, encosto-me a uma esquina e agacho-me no chão. Respiro fundo. Observo a cidade à minha volta. Os bancos de rua perderam a batalha contra a gravidade e estão caídos no chão. As ciclovias estão com mais crateras do que a própria lua. A sujidade esconde as cores das calçadas e os carros quase não são reconhecidos como tal. O mundo caiu, a sua vida morreu.

Agachada no chão, as emoções percorrem a minha mente, o meu corpo. O pensamento do que poderia ter acontecido à minha vida se não tivesse apostado tanto no atletismo quando mais nova, percorre todos os meus sentidos. Então, fico encostada a uma caixa que se encontra ao meu lado até não aguentar mais, e quebrar. Lágrimas escorregam da minha cara para as minhas pernas, enquanto agarro o meu corpo, confortando-me a mim própria. Quem mais me poderia confortar? Estou sozinha. Completamente sozinha. Não sei que mais fazer. Há um mês que procuro por alguém, qualquer ser que seja. Ninguém parece ter sobrevivido. Como posso ter sido a única? O meu corpo treme. A minha família. Os meus amigos. Morreram todos? Morreram todos graças a uma estúpida ameaça paranormal, que nem sei de onde veio ou o que é? A minha dor divaga silenciosamente pelo meu corpo. Os barulhos atraem a morte, atualmente. Aquelas criaturas monstruosas guiam-se pelos barulhos da vida, e depois roubam-na, sem mais nem menos. 

A natureza parece que tenta reconfortar-me. As brisas quentes dos dias de verão rodeiam-me e sopram secando o que resta do oceano que as minhas lágrimas deixaram na minha face. O meu otimismo recomeça a sua luta desenterrando-se de debaixo destas nuvens escuras que parecem pintar a minha vida. Suspiro uma vez. Depois mais uma. Não posso desistir. Ainda não. Os tons alaranjados do pôr-do-sol atravessam pelas ruas da avenida, transformando o céu num espetáculo de cores e sombras. Observo esta magia que me relembra da minha antiga vida. Por mais que queira ficar mais um pouco, a noite começa a cair, e jamais andaria pelas ruas à noite. Com cuidado, levanto-me devagar, e o mais discretamente possível, observo a rua à minha volta. Nem um sinal de vida, nem um movimento. Hora de partir. Começo a andar, rápido, mas em silêncio, em direção do que tem sido a minha casa no último mês. Um sítio que transformei num género de bunker, que me protege à noite e me mantêm escondida de dia. Apenas saio de lá quando preciso de comida ou decido partir na missão «em busca de algum sinal de vida». Quando não faço nenhuma dessas duas coisas, apenas passo os dias fechada naquele claustrofóbico espaço. Imagino cenários, relembro memórias, penso em maneiras de escapar, de sobreviver. É isso que faço, é isso que farei. Só não sei por quanto mais tempo.

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Obrigada friends!
O próximo capítulo estreará dentro de uma semana e meia, fiquem atentos!!🤍

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