Acordo com o barulho do vento a tentar entrar no café. Claro que sim. A Natureza é a minha única companhia. Já se tornou um hábito. Levanto-me do monte de almofadas que se tornaram na minha cama, e respiro fundo duas vezes, enquanto me preparo mentalmente para um novo dia. Dirijo-me para o balcão onde deixei a comida e sento-me num dos bancos subidos.
Desde o momento em que vi pela primeira vez no que o mundo e as pessoas se tinham tornado, que pesadelos percorrem a minha mente e a minha barriga se sente de cinco em cinco segundos como numa montanha russa. Como eu odeio montanhas russas. Por isso, todos os dias, levanto-me ao som calmo do vento, sento-me ao balcão, coloco os meus braços ao meu redor, abraçando-me, e revivo memórias felizes do meu passado, enquanto respiro profundamente. Pode dizer-se que isto é o meu género de meditação, para acalmar esta ansiedade que quer desesperadamente tomar conta de mim. Mas não vou, não posso deixar isso acontecer. Só tenho que continuar a lutar. Resistir. Eu sei que vou resistir.
Depois de abrir mais uma lata e comer o seu conteúdo, decido que hoje é mais um dia de esperança, depois do sucesso de ontem. Ou seja, é tempo de voltar a procurar por alguém.
Decido não levar a minha mochila, para não me atrasar caso tenha de fugir. Pego na minha arma e coloco-a nas calças, e agacho-me junto à porta de entrada, fazendo silêncio. Procuro por algum som, qualquer um, mas nada se ouve. Isto significa, felizmente, que tenho caminho livre. Então, apoio os meus pés nos destroços de pedra, coloco as minhas mãos no buraco por cima de mim e ergo-me em direção à saída. Ao passar pela abertura, a luz do sol ofusca-me os olhos e uso uma das minhas mãos como alívio. Olho em redor. Nada. Seguro para partir. Empurro a parede para baixo enquanto me ergo ainda mais em direção ao exterior. Ao sair, salto em direção ao chão e caio com ambos os pés, procurando equilíbrio. Olho em redor novamente. Nada. Então, sigo caminho.
Não sei bem para onde ir, mas estou determinada a ir para um sítio novo. Pode ser que, assim, encontre alguém. Portanto, em vez de virar à esquerda em direção à avenida principal, como costumo fazer, viro à direita, caminhando para a zona mais fechada de Lisboa. Caminho devagar, discreta, enquanto fico atenta a qualquer sinal. As ruas são muito fechadas, escuras e desorganizadas, arrepiando a minha espina. Por onde quer que vá, apenas vejo destruição. No entanto, continuo a caminhar. Hoje, mais do que nunca, o meu otimismo procura destacar-se e tenho a sensação de que não vou sair desiludida. Pode ser influência da sorte de ontem, ou pode ser apenas uma sensação pura. Seja o que for, vou deixar-me ser envolvida por esse sentimento. Sabe bem, para variar.
Quando chego a uma rua fina e inclinada, desacelero o passo, e êxito antes de descer. «Se precisar de fugir, vai ser difícil de subir a rua», penso. Embora este pensamento me tente deter, prossigo pela rua ingreme, apoiando-me nas paredes que restam das belas casas de Lisboa. Ao chegar a um pequeno cruzamento de ruas, fico indecisa por qual lado seguir. O típico pensamento «se tivesse ido para o outro lado talvez tivesse encontrado alguma coisa», começa a provocar-me. Contudo, mantenho-me firme e, por alguma razão desconhecida, decido seguir em frente. Enquanto continuo a caminhar, nenhum som percorre a cidade. Apenas o pequeno barulho dos meus passos que tento silenciar o máximo possível.
Caminho durante horas, sem ver ninguém, percorrendo estradas vazias, apenas confrontada por destruição. Por onde quer que vá, lá está o caos de que tento fugir. Torna-se sufocante. O céu começa a mostrar os seus tons alaranjados. Tenho pouco tempo até ao pôr-do-sol. É melhor voltar se não quero andar por ruas que desconheço à noite. Dou meia-volta e tudo o que agora fiz a descer, vou ter que subir. Que trabalheira. Um sentimento de desapontamento assola-me. Estava tão certa de que hoje iria ser diferente. Sentia na minha barriga, um género de borboletas, mas como instinto. Bem, parece que estava errada, uma vez mais.
Ao subir as ruas de regresso, durante o que parece uma eternidade, oiço um som, como um mexer de folhas no chão. Paraliso. Medo e curiosidade misturam-se na minha mente, e uma pequena esperança, que ainda se manteve viva, faz-me desejar que seja alguém. Fico parada para ouvir de onde vem o barulho. Do som que me pareceram folhas, começo a ouvir passos. Oiço com toda a atenção de onde vem o tal som e descubro que vem do outro lado da esquina em que estou, no cruzamento em que segui em frente anteriormente. Encosto-me à parede. Seguro firme na arma que prendi nas calças, como os típicos ladrões dos filmes faziam, e deslizo até à beira da parede. Conto até três: «um, dois, três», e viro-me, apontando a arma para o vazio. Literalmente um vazio. Não está ninguém na rua.
A confusão espalha-se. Estou a ficar maluca. Podia jurar que tinha ouvido passos vindos de aqui. «Não pode ser. Eu ouvi alguém». A minha teimosia guia-me as ações e por isso decido explorar a rua, convencida de que está aqui alguém. Caminho silenciosamente, o mais sossegada que alguma vez consegui estar, enquanto olho para todas as janelas, portas e aberturas, sítios onde alguém se poderia esconder.
Dou um tiro no escuro, e digo baixinho: «Se estiver aí alguém, por favor, revele-se. Eu não estou transformada. Não vou fazer mal». Silêncio é a resposta. Baixo a arma quando chego a um beco sem saída, pronta a desistir. Que montanha russa de emoções. Num momento estou triste, noutro cheia de esperança, no a seguir desapontada. Porém, é no momento que me viro que avisto uma figura, mesmo perto de mim. O meu coração falha uma batida. A figura não parece desfigurada como todas as que vi até agora. O que só pode significar que encontrei alguém normal. Finalmente, não estou sozinha. Vai ficar tudo bem.
Lágrimas formam-se nos meus olhos pelo choque e começo a correr em direção à pessoa, movida pela emoção do encontro. Contudo, quando essa pessoa me vê, desata a correr na direção oposta de mim. «Ei! Espera! Eu não te vou fazer mal, não tenhas medo!», começo a gritar enquanto a pessoa que observo ser um rapaz alto e forte se afasta.
Tento acompanhá-lo o mais que posso, mas temo que o barulho que estamos a fazer atraía-a as criaturas. Por isso, abrando. Porque raio é que ele fugiu? Não percebeu que eu ainda estou normal? Lágrimas escorrem agora pelo meu rosto, nem sei bem porquê. Talvez de felicidade, porque agora sei que não estou sozinha, ou por tristeza, porque por alguma razão a minha esperança fugiu literalmente de mim. Talvez seja ambos. Seja o que for, não vou desistir agora e, embora devesse voltar para o meu abrigo, tenho de encontrar aquele rapaz, custe o que custar.
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Olá friends! Desculpem o atraso terrível de quase dois meses. Em justificação, tive um bloqueio de imaginação e inspiração e fui de férias. De qualquer forma, aqui deixo o terceiro capítulo! Espero que gostem :)O que fará Hannah, agora que encontrou um rapaz para a ajudar? Deixem sugestões para a história! O que acham que devia acontecer agora?
Se gostaram, partilhem com os vossos amigos e deixem uma estrela :))
Obrigada friends!
O próximo capítulo estreará dentro de uma semana e meia, fiquem atentos!!🤍
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Take care of me
Romance"Estou sozinha. Completamente sozinha. [...] Ninguém parece ter sobrevivido. Como posso ter sido a única? [...] A minha família. Os meus amigos. Morreram todos?" Graças a uma misteriosa ameaça, um pesadelo abalou o mundo. Criaturas monstruosas camin...