Take care of me: Chapter 2

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Ao chegar à minha nova casa, depois de um caminho ansioso, verifico se não há ninguém ao meu redor. Ultimamente, é só isso que faço. Antes, adorava estar rodeada de pessoas, dos meus amigos. Agora, qualquer sinal de movimento é capaz de me fazer tremer como nunca tremi.

Nesta zona da cidade, os prédios e as estradas ficaram muito destruídos. Esta era a minha parte favorita deste labirinto a que chamam Lisboa. Era um local sereno, por mais movimentado que fosse. Só tinhas de conectar-te com as ruas. Com os seus prédios coloridos, com a vida que as preenchia. Então encontravas o teu lugar. Agora, estas esquinas só transmitem emoções cinzentas e criam sombras capazes de assustar qualquer um. Dirijo-me então a uma rua pequena, sem saída, resguardada da confusão da cidade. No fundo, os destroços de um prédio escondem a entrada de um pequeno café. Para lá entrar é preciso escalar as paredes de betão caídas e escorregar por um pequeno espaço, tão apertado que quase nem uma criança conseguiria passar. Nem eu sei como o faço. Acho que o desespero faz-nos fazer coisas que pensávamos ser incapazes.

Ao entrar no café, chego ao sítio que tem sido a minha casa neste último mês. Nenhuma daquelas criaturas consegue aqui entrar. Neste espaço solitário posso descansar. Quem me dera que todos tivessem encontrado um sítio assim naquele dia.
No dia um deste pesadelo estava a andar pelas ruas do Chiado, com um grande copo de café na mão. Na altura, caminhava para a escola, pronta para a última semana de aulas do meu Secundário. Não podia estar mais ansiosa. A minha turma tinha inúmeras atividades planeadas, incluindo um baile de finalistas. Os temas de conversa não passavam dos pares para o baile, de encontros no verão e do que iríamos fazer no futuro. Agora, já nem sei se isso existe. Para variar, estava atrasada para a primeira aula do dia: português, às 8:15 da manhã. Lembro-me de parar numa passadeira e tirar o meu telemóvel da mala, para pedir à Francesca para avisar o professor do meu atraso.

Nessa altura, quando estava mesmo a chegar ao grande edifício que conhecia como a minha escola, recebi, juntamente com todos os que se encontravam ao meu redor, uma mensagem no telemóvel que anunciava uma emergência nacional, que declarava: "Atenção! Ataque paranormal. Abriguem-se num local seguro." De início, olhares confusos trocavam-se entre si, enquanto as pessoas tentavam decifrar o significado do alerta com o povo em redor. Ninguém parecia acreditar ou sequer perceber do que é que aquilo se tratava. Contudo, quando os alertas começaram a duplicar e as mensagens tornavam-se mais desesperadas, esses olhares confusos foram trocados por olhares de pânico. E foi aí que tudo começou. Havia gentes a correrem por todos os lados, em todas as direções. O terror, a confusão, o medo guiavam as pessoas nas suas buscas por algum lugar seguro. Mas isso existiria mesmo? Numa questão de segundos, pessoas começaram a tossir, desesperadas por ar. A confusão inundava a minha cabeça. As pessoas rastejavam por ajuda, por alívio, porém, eu só continuei a correr. Corri com todas as minhas forças. Corri em busca da minha família.

Não sabia o que é que estava a acontecer, mas sabia, no fundo do meu ser, que não iria acabar bem. As pessoas à minha volta continuavam a cair no chão. Não sabia o que fazer. Porém, no fim, sabia que já não iria chegar a tempo. Sabia que se quisesse sobreviver não tinha tempo de ir ter com eles, com a minha família. Como posso ter sequer colocado esta questão? A verdade é que em casos de desespero fazemos coisas impossíveis. O segundo que demorei a decidir pareceu uma eternidade, enquanto continuava a correr, sem conhecer do que fugia. Todavia, acabei por fazê-lo. Decidi refugiar-me. Nada me garantia que conseguiria chegar à minha família ou se eles já não tinham sido afetados pelo que é que fosse a ameaça. Portanto, virei na primeira rua que vi, a carregar o peso da dor, da atitude mais egoísta que alguma vez fiz. O meu coração corria à mil e as lágrimas que se formavam nos meus olhos inundavam a minha visão. Como é que os pude deixar para trás?

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