[1.5] Jungkook Version

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Morta.
Minha mãe estava morta!
Era bem difícil de acreditar naquilo.

Sou médico, lido com a morte em meu dia-a-dia, mas isso não me prepara para a notícia de que a mulher que me gerou, alimentou, me criou e que eu não via há mais de cinco anos, estava morta.

O primeiro a me ligar foi meu irmão. Eu também não o via faziam muitos anos, ele estava fora do país, e chorou muito ao telefone. Eu ainda não havia chorado. Na verdade tudo ainda parecia mais uma piada de mau gosto, do que qualquer outra coisa. Claramente algo que meu pai faria. Ele gosta dessas coisas. E lá estava eu novamente, perdendo o foco e somente ouvindo o choro em meio às lamentações de meu irmão mais novo.

Encerro a ligação assim que possível e ando até a sala de Namjoon, o diretor do hospital, abro a porta e ele me olha como se fosse me dar uma bronca por não bater. Eu apenas digo;

- Minha mãe faleceu.

E sua expressão muda. Do nada ele é o amigo mais gentil e atencioso que existe no mundo. Namjoon me abraça, ele até chora... Mas eu não, não consigo chorar, não consigo esboçar nenhuma reação. Seokjin, meu amigo pediatra e marido de Namjoon, diz que é normal que eu ainda não tenha conseguido colocar pra fora o que estou sentindo. Mas a mais pura verdade é: não estou sentindo nada.

Só tenho três pessoas para contar sobre a morte de minha mãe e a duas delas, já contei. O próximo é Min Yoongi, que encontro na cantina do hospital praguejando sobre a comida ser horrível e a cozinheira claramente estar querendo matar todos ali com "aquela bomba que ela chama de sanduíche". Sua reação é a mais aceitável para meus padrões. Ele para o "sanduíche bomba" na metade do caminho até a boca, diz "mas que merda, cara" e morde um pedaço generoso daquilo. Eu dou risada pela primeira vez naquele dia.

Namjoon me obriga a deixar o turno no hospital e "viver o meu luto", então ando até meu carro e dirijo até em casa. Recebo por email uma nota de condolências e o horário e local do funeral.

Não vou ao funeral.

Tomo um banho muito demorado e perigosamente quente, então coloco roupas pretas, um boné preto e máscara. Estou praticamente irreconhecível. Lutei contra aquilo o dia todo, mas preciso ver, tenho que conferir com meus próprios olhos se é verdade, então dirijo até o cemitério. Quando chego, a cerimônia já terminou e somente resta um garoto loiro e de olhos muito inchados, parados em frente ao túmulo.

Não chego muito perto, não sei bem se quero, nem sei como reagir. O garoto loiro parece muito novo, mas a julgar pela aparência exausta, ele chorava por minha mãe. Ótimo, ao menos alguém conseguiu chorar por ela.

Dou meia volta e dirijo até em casa, sem rumo, sem saber se agora faço uma pipoca e vejo um filme, ou me tranco em algum lugar e torço para que consiga chorar.

Ao chegar em frente ao meu apartamento, um policial de aparência cansada me espera. Eu o convido para entrar, quando ele diz que se trata de minha mãe. Ele senta em um dos sofás e eu no outro, enquanto espero. Ele me informa que minha mãe tinha um tutelado, alguma espécie de testamento em que ela foi mencionada e precisou ficar com a guarda de um garoto chamado Park Jimin... E que agora ele será minha responsabilidade, ao menos até o próximo julgamento.

Minha mãe sempre me odiou. Então nem estou surpreso por isso ter vindo parar em minhas mãos, no fim das contas.
Sigo a viatura da polícia até a casa de minha mãe, que ficava surpreendentemente perto da minha, mas eu nem lembrava desse fato.
Quando o garoto abre a porta, é o mesmo loiro que chorava no túmulo dela e agora tudo faz sentido. Me contenho para não revirar os olhos para ele. Jimin não tem nenhuma culpa por minha mãe o amar mais do que amou seu próprio filho. No fim das contas, até gosto de pensar que ela teve amor, em seus últimos dias.

Nossa interação é baseada totalmente em acenos de cabeça e palavras monossilábicas. Apresento brevemente a casa para ele e preparo o quarto de visita, onde ele vai ficar até que um juíz decida sobre sua guarda.

Vou para a cama.

Não consigo dormir.

Levanto e ando até a cozinha, sem saber ao certo o que quero. Tento comer uma maçã, mas desisto depois que a primeira mordida me causa náuseas. Pego um copo, o encho com água e bebo tudo de uma vez. Sinto outra dor estranha em meu estômago. Eu sei que aquilo não passa de dor psicológica. Namjoon teria muito a dizer sobre, mas Namjoon não está aqui. Ninguém está. Estou sozinho, exceto por um total estranho dormindo em meu quarto de visitas. Uma onda de raiva repentina me faz atirar o copo contra a parede. Sinto meu corpo inteiro suar frio e tremer. Aí está o tal do luto. Muito obrigado por me obrigar a viver isso, Namjoon.

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