Parte 4

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Nos últimos meses, as coisas têm sido mais calmas por aqui, assim dizendo. Deve ter se passado uns 5 meses desde do dia do meu aniversário, não sei ao certo, mas sei que no momento a coisa está piorando.

Tiffany, minha companheira em muitos momentos, foi demitida. Ela saiu daqui com os olhos cheios de medo e não foi pela porta da frente. Para sair de fato do castelo, precisa atravessar o labirinto e eu sei que ela não fez isso. A vi pela última vez, estava sendo guiada pela minha mãe até o riacho que tem atrás do castelo e desaparecerem na escuridão. Aquilo me causou medo mas tentei esquecer depois de algumas horas chorando em silêncio no quarto.

A primavera chegou. Devemos estar em abril de novo e com certeza é minha estação favorita. As flores ficam mais bonitas, o clima fica mais agradável e não o frio de cerrar os dentes como costumamos ter aqui.

Hoje quando acordei, minha porta estava trancada e por um segundo agradeci a qualquer ser que estivesse ouvindo por aquilo. Liguei a torneira da pia em frente ao espelho quadrado com detalhes em ouro ao redor e prendi o cabelo num coque consideravelmente forte. O barulho da água em corrente me fazia relaxar e aquilo me trazia conforto. Algo me dizia que as coisas iriam melhorar. Escovo meus dentes. Limpo meu rosto e vou para o box de vidro que eu tinha também. Acho que essa é a única vantagem de ter todos os privilégios de um reino. Tomo um banho quente e demorado, deixando meu cabelo seco até o último fio. Preciso me arrumar hoje pois meus pais vão fazer um pronunciamento real e, quando isso acontece, todos precisam estar no seu melhor. Saio do banho, me seco e vou ao meu quarto escolher meu vestido. Pego um cor-de-rosa, com detalhes em prata e bronze pela saia levemente rodada. Os ombros são duas alças que caem pelos meus braços suavemente, com um babado cor salmão perto dos pulsos. Meus sapatos são sapatilhas azuis. Um azul claro, igual ao céu de Veneza durante o verão.

Depois de me arrumar, solto meus cabelos meio ondulados e faço uma trança levemente frouxa da direita para a esquerda, caída em meu ombro. Coloco minha coroa de princesa, que é banhada a ouro, com pedrinhas de diamante e quartzo rosa.

Enquanto estou descendo a escada principal para o hall de entrada, ouço meu nome sendo pronunciado atrás de mim.

— PIETRA ROTHSCHILD!! — Me viro rapidamente apenas para ver Zoe correndo até mim. Aqueles cabelos loiros voando enquanto ela dava mais um passo. Seus olhos brilhando em minha direção. O vestido parecia o meu, pelo único detalhe dele ser verde e o meu rosa. — Por que você não me esperou? Temos que descer juntas.

Já tinha meses que eu não falava nem via minha própria irmã. Ela tinha o mesmo rosto mas algo tinha mudado nela. Automaticamente lembro do que Bianca havia me dito no porão e tento disfarçar o nervosismo.

— Eu tinha esquecido, me desculpa, Zoe ROTHSCHILD — Dou uma ênfase ao sobrenome pois ela tinha me chamado do mesmo jeito.

Fomos juntas para a entrada do jardim que na primavera ficava simplesmente esplêndido. Flores nascendo, a grama ficando mais verde. Como no início, parecia um filme de romance.

Nos sentamos e não deu muito tempo nossos pais aparecem juntamente de nossa avó. Zoe aparentemente fica calma, ao contrário de mim, que me jogo no chão, gritando e apontando para a idosa que caminhava em minha direção com o mesmo sorriso no rosto no qual ela me dava bom dia.

— Pedrita, querida, não precisa ter medo, sou eu, sua avó —  Eu estava com tanto medo que aquela voz que saía de sua boca não passou de um longe incômodo.

Eu acordei nos braços da rainha, minha mãe, com ela implorando para eu acordar de novo. Não entendia sua preocupação. Seu vestido da cor do fogo, vermelho alaranjado, no estilo vitorianos, cheios de babado e luvas que vinham até em cima de seu cotovelo, em uma bela concordância com seu cabelo. Zoe puxou sua genética. Cabelos lisos, loiros e longos, caído com leveza para trás, preso apenas duas mechas atrás de sua cabelos, como se fosse um mini arco feito de fios dourados. Seus lábios com um batom transparente, porém brilhante, refletia os feixes de luz que nele batiam. Aqueles olhos castanhos claro, quase cor de âmbar, exalando falsa preocupação ao olhar para mim. Eu sabia que estava, se ouso dizer, nos braços da morte.

Na beira da emoçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora