Choices 》Ten Chittaphon

#00 - the arrival

"Dedica-se a esperar o futuro apenas quem não sabe viver o presente."

- Sêneca

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Deitado sob um céu escuro e estrelado; vulnerável àquela brisa com o frescor do mar quase invisível naquele momento, lá estava ele, apoiado nos próprios braços olhando fixamente para o alto, sem se incomodar se aquela areia abaixo de si sujaria sua camisa azul ou a bermuda de pano que usava. Apenas aproveitava o silêncio, o bom clima, sem muito no que pensar.

Era começo de Novembro, a época ideal para manter a paz e o silêncio antes de toda a agitação que estava por vir. A falta de tempo, a correria externa mantinha as pessoas longe daquele lugar, mesmo que ansiassem sempre para poder voltar.

Chittaphon gostava de passar suas noites assim, sendo apenas um jovem aproveitando uma bela noite sozinho. Ainda não tinha um objetivo claro na vida, apenas seguia o que tinha que seguir e fazia o que mandavam.

Desde novo via seus pais trabalhando tão duro para manter aquele lugar. Uma pousada, mais especificamente, estabelecida em uma das milhares de belas praias da Tailândia, banhada por um lindo mar de águas mornas e cristalinas. Aquele lugar tinha um fluxo ótimo de pessoas principalmente nos finais de ano.

Não eram muitos estabelecimentos que rodeavam aquela praia, tornando o lugar silencioso, perfeito para aqueles que viajavam em busca de paz, em tentativas de colocar a cabeça ou a vida no lugar, por isso a maioria de seus visitantes eram adolescentes, adultos em crise, solteiros, divorciados ou até mesmo casais que precisavam fortalecer o relacionamento. A pousada era um perfeito lugar de cura, a qual Ten, como era chamado pela família e pelos funcionários, conhecia de ponta a ponta.

O rapaz costumava ansiar a passar suas férias ali, conhecendo pessoas mais velhas e praticando os idiomas que aprendia em casa. Por conta da quantidade de turistas vindos de outros países, Ten dominou idiomas como inglês, coreano e mandarim, além do tailandês.

No entanto, quanto mais crescia, menos empolgado ficava, principalmente quando fez 15 anos e começou a trabalhar com a sua família. Além de sentir na pele o que seus pais passavam, entender o que eram responsabilidades e como lidar com elas, passou a ter menos tempo para si e para pensar no que pretendia fazer.

Os anos passaram e ele continuava ali, sempre na mesma praia, desta vez mais frequente que antigamente, trabalhando mais horas por dia, juntando seu dinheiro mas sem intenções breves de utilizá-lo.

Ten não tinha muitos amigos, apenas alguns conhecidos que sempre voltavam à pousada nos mesmos meses, uma amiga próxima que trabalhava consigo, sua irmã mais velha que passou a ver bem menos quando esta ingressou na faculdade de direito e os funcionários, todos mais velhos que ele no mínimo uns 7 anos. Mas não sentia falta de mais amizades próximas, pois nunca soube o que era isso inicialmente. Apenas sentia um vazio indescritível, principalmente quando via aqueles casais dos mais diversos buscando privacidade ali, ou pequenos grupos de amigos de passagem.

Talvez por esse motivo Ten não sabia como sua personalidade se manifestava com outras pessoas que não fosse de maneira profissional ou familiar. A única coisa que tinha noção era da felicidade suprimida dentro do peito, esperando a primeira brecha para aparecer e simplesmente explodir; sorrir livremente para os quatro cantos e fazer coisas que nunca fez naquele paraíso que vivia monotonamente.

Naquela noite ele sentia exatamente a mesma coisa, mesmo que não estivesse pensando muito. Aquele frio vento noturno entregava a tempestade prevista para a madrugada, o que era um pouco preocupante levando em consideração que os viajantes do mês chegariam de barco, vindos do porto de outra cidade distante para chegarem de manhã cedo na pousada, sendo esse o acesso mais rápido.