⭐2-Janela

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   Finalmente chego a casa depois de um longo dia de aulas, que basicamente foi apenas de olhos em matéria e mais matéria. A minha cabeça está apenas concentrada em uma pessoa: Harry. Não sei o porquê. Depois do encontro inesperado com o mesmo no corredor que não consigo parar de pensar nele e nos seus lindos olhos. E isto fez com que me distraísse do que havia ao meu redor desde então.
  Tento esquecer desses brutos sentimentos e entro na sala e vejo duas malas de viagem. Entro na pequena, mas confortável sala e fico confusa com o cenário que me é apresentado. Pouso a minha mochila em cima do sofá creme mesmo em frente à lareira apagada. Dirijo-me até à cozinha e vejo o meu irmão a fazer um café. Fico surpreendida já que não o via há imenso tempo por razoes óbvias.

- Mano – gritei
-Olá, Aurora. - deu-me um abraço
- Como correu a viagem? -pergunto e procuro uma cadeira. Ambos sentamos em duas cadeiras junto da mesa em que Finn possa o seu café e olha para mim.
-Longa e cansativa. -responde suspirando. Um suspiro longo e cansativo.
-Então vai descansar. -digo dando-lhe um leve sorriso.

   Depois do meu irmão sair da cozinha, lanchei qualquer e caminhei para o meu quarto. Sento-me na minha cama pego no meu computador, que se encontrava pousado no mesmo, e ligo-o pronta para fazer as minhas tarefas da escola. Olha de repente para a minha janela. Arregalo os olhos e paraliso. Harry encontra-se seminu, pronto para começar os seus diários exercícios físicos. Continuo dominada por esta imagem sem poder mexer nenhum membro do meu corpo. Ele não se apercebe que o observo e eu na minha perfeita inocência pego no meu caderno de desenhos e começo a desenhar cada pormenor do seu corpo. Desde do contorno do mesmo até a cada cabelo encaracolado. Os meus movimentos são automáticos como eu fosse feita para desenhar naquele momento sem parar. O único som que paira naquele ambiente é o lápis grosso a passar pela folha grossa e a minha inconstante respiração. Minutos passaram e nem me apercebi com o tempo a passar. Sem me dar conta o desenho estava completado. Fecho o pesado caderno com os meus rabiscos e pouso em cima da minha cama. Levanto a cabeça em direção à janela e constato que Harry já não se encontra no seu quarto. Respiro fundo e deixo-me cair de costa para cama levando as minhas mãos à minha cara sorrindo parvamente.

*

   Passo os meus olhos por cada letra de cada palavra, lendo-a automaticamente. Passo o que acho importante através de uma simples caneta preta para a folha ao lado do livro. Posso confessar que o estudo não estava a ser nada produtivo, já que a minha mente não saia daquele cenário de Harry no seu próprio quarto. Como poderia esquecer-me de algo tao bonito e erótico ao mesmo tempo... Paro a minha circulação de ar pelos meus pulmões só de pensar nisto. Os meus estudos foram interrompidos quando alguém bate à minha porta. Sem que eu pudesse dizer qualquer coisa a porta abre-se e, imediatamente, a personagem que me trouxe ao mundo aparece pela abertura.

-Aurora, o jantar fica combinado para amanhã. - adverte-me e eu dou-lhe um sorriso postiço.

   Tenho de começar a pensar em pôr o meu plano em prática.
   Não quero encarar Harry. Não sou capaz. Vou acabar por me lembrar dos desenhos, das antigas lembranças que passamos juntos e vou-me lembrar o quanto incompetente eu sou por não ter tentado que as coisas fossem diferentes. Quem me dera que as coisas fossem diferentes. Mas nem sempre tenho total posse da minha vida e dos seus caminhos. Há escolhas que me levaram a caminhos diferentes e fizeram-me que me afastasse daqueles que mais gostava ou melhor dizendo daqueles que mais gosto.

-Assim será... - digo suavemente tentando disfarçar o pesado suspiro no final da minha frase.

   A minha progenitora sai do quarto, arrumo o material que tinha usado para estudar e visto o meu pijama. Desligo a luz do candeeiro pequeno para poder ir dormir. Tento não penar mais nada. Tento esvaziar a mente sem palavras, músicas ou até mesmo lembranças, mas nunca o consigo fazê-lo. As lembranças estarão sempre presentes para nos atormentar até ao final dos nossos dias. Podemos ignorar o facto de elas existirem, mas nunca podemos apaga-las das nossas memórias. É algo que nós, seres humanos, não teremos a capacidade de desfazê-los, ao menos que algum acidente aconteça. Por vezes, até ficamos agradecidos por estas terem sido bloqueadas, mas no fundo sabemos que sempre nos fará falta. São com essas memórias que recordamos alguns momentos como também olhamos para os nossos erros e lembrar-nos de nunca mais voltar a fazê-los. Ao fim de contas, são as memórias que por vezes nos fazem continuar a nossa vida. Olhar para trás para apenas recordar, mas nunca hesitar. Seguir em frente em função do nosso passado. Abrir um caminho limpo para podermos escrever uma nova história. Esta é minha conclusão da noite.
   Chego a um momento que me deixo cair num sono profundo.

Draw //H.S (Reescrevendo)Onde histórias criam vida. Descubra agora