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Era um dia ensolarado, completamente normal. Eu me levantei, escovei os dentes, me troquei e, por alguns minutos, fiquei fitando meu reflexo no espelho. Meus olhos negros passeavam pelo meu rosto de características latinas, me fazendo sorrir levemente. Olhei para a roupa que que estava usando, me perguntando se estava boa.

Uma saia plissada, com um shortinho por baixo, uma cropped regata e meus coturnos. Estava ótimo.

Saí do quarto, ajeitando minhas pulseiras, que me lembravam todos os dias da minha origem mexicana.

- Buenos días, abuelita - cumprimentei a senhora do quarto 12, que gostava de ser chamada assim. Apenas um de seus netos a visitava, que por acaso era Felipe, um dos enfermeiros do Asilo. Todos acostumaram chamar ela de Abuelita, por causa de Felipe, e ela não se importava.

- Buenos días, mija - sorriu. - ¿Como estás?

- Mui bien - pisquei, continuando a andar.

Cumprimentei quase todos os idosos que estava ali antes de chegar no refeitório, encontrando os outros sendo ajudados pelos cuidadores a comer.

- Buenos días - falei alto para que todos pudessem me ouvir.

Praticamente todos responderam, me fazendo sorrir, antes de ir pegar o meu prato para o café da manhã.

- Você está atrasada para a escola - meu tio falou em inglês, me fazendo virar para ele. - Perdeu o ônibus e a vai perder a primeira aula.

- Desculpa, tío. Eu fiquei lendo para a Abuelita e perdi o horário - abaixei a cabeça. - Não vai acontecer de novo.

- Mas só dessa vez você não vai ficar de castigo, escutou mocinha? - colocou uma das mãos na cintura e a outra no meu ombro. Concordei com a cabeça, e saltitei até o meu lugar.

Eu morava com o meu tio no asilo que ele tinha fundado, e era administrador e cuidador. Era um asilo para Latinos, que muitas vezes não eram aceitos em asilos comuns por sua nacionalidade, e adolescentes que os pais foram deportados. Eu o ajudava também a cuidar de alguns dos idosos, lendo ou apenas conversando, fazendo-os se sentirem acolhidos e amados.

- Mija - Tito, um dos senhores, me chamou. - Mira se tiene más un huevo para mi.

Assenti, indo até a cozinha. Quando vi que realmente não tinha, voltei para avisar Tito, indo fazer meus afazeres para que eu pudesse sair de tarde. Arrumei o meu quarto, limpei meu banheiro e fui trocar a roupa de cama dos idosos que estavam na aula de yoga. Depois, levei o carrinho com as roupas de cama sujas para a lavanderia, deixando ali para que pudessem ser lavadas.

Fui ajudar a moça da cozinha a fazer o almoço, depois arrumar as mesas. Teríamos taco, minha comida favorita. Quando o cheiro se tornou insuportavelmente bom, a moça da cozinha saiu de lá, trazendo a bandeja. Depois, entrou na cozinha de novo, trazendo o mingau para alguns idosos que não conseguiam mastigar direito. Fui chamar todos para almoçar, ajudando quem precisava de ajuda.

- Miguelito! - fui até o garoto, que era alguns anos mais velho e o abracei. Eu o considerava como um irmão, já que quando meu pai me expulsou de casa tive que cortar os laços com meus irmãos de sangue.

- Pirralha - abraçou de volta. - Não foi à escola hoje?

- Perdi o horário - frazi o cenho. - E você não deveria estar na oficina? - Me referi ao lugar onde ele trabalhava.

- O chefe pegou aquela nova doença misteriosa, então me liberaram mais cedo. O que vai ter de almoço? - Passou o braço pelo meu ombro, começando a andar em direção ao refeitório. Aquela altura todos os idosos estavam no refeitório, provavelmente já comendo.

RED LINGERIE - Sophia Peletier (HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora