《 Capítulo 3 》

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Orion já estava na clareira quando cheguei ao alvorecer. Com os cachos presos para trás com ajuda de um arco e o habitual gibão por cima da camisa verde musgo, no qual as mangas estavam dobradas até o cotovelo. Parecia fazer uma dança com o machado, movimentos perfeitos e alinhados um atrás do outro. Com suor brilhando e escorrendo pelo pescoço, qualquer um poderia cair de joelhos com tal visão.

Me aproximo lentamente com um pequeno galho em mãos e o cutuco por entre suas nádegas.

-- Mas que porra... -- ele se vira abruptamente mirando o machado em minha cabeça. Arregalo os olhos com o movimento e largo o galho instantaneamente -- Sabe, Rieka? Não é uma boa ideia enfiar um galho na bunda de alguém que está com uma arma que pode te cortar ao meio.

-- Mas esse galho nem é tão grande comparado aos dos bruxos que você aguenta diariamente -- coloco minhas mãos na cintura e sorrio descaradamente sabendo exatamente como inflamar seu ego.

-- Não vou mesmo pegar leve com você depois dessa palhaçada -- ele abaixa o machado e me encara levantando uma sobrancelha em desafio.

-- A mas eu contava exatamente com isso. -- dobro as mangas da minha camisa até o cotovelo e tento imitar uma de suas posições de luta -- Por onde eu começo? Dando uns socos ou separando sua cabeça do corpo com o machado?

-- Se você conseguir me acertar um soco ou carregar o machado vai ser um bom começo -- ele solta o machado no chão e cruza os braços duvidando das minhas habilidades.

Tento dar o primeiro soco e sem esforço ele desvia instantaneamente. Tento novamente acertá-lo, mas sem sucesso. Desisto dos socos e tento o machado. Nem consegui carregá-lo 3 centímetros antes de escorregar das minhas mãos.

-- Quantos quilos essa coisa pesa? -- ponho a mão no ombro e o giro lentamente tentando amenizar a leve dor que começara.

-- Muito mais do que seus músculos de recém-nascido aguentam -- ele retira os sapatos e os deixa perto do machado -- Vamos começar com exercícios para os pés.

-- Pés? Como assim? Eu achei que você iria me ensinar a lutar -- imito seus movimentos e retiro meus sapatos.

-- Sua postura está toda errada, você não consegue se firmar no chão e se manter estável, fechou o punho de maneira horrenda e esses são só alguns dos seus erros.

-- Então...sem socos e machados? -- solto um longo suspiro acompanhado de um biquinho com os lábios.

-- Sem socos e machados. -- e assim ele começa uma série de exercícios para os pés.

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O sol estava em seu ápice e eu tinha acabado os exercícios em alguns minutos. Coisas tão simples para Orion, mas que me fizeram suar e me deixaram com o mindinho latejando. E esses são apenas os exercícios iniciais, nem quero imaginar quais serão os próximos quando finalmente conseguir firmar meus pés.

O fato de que eu consigo ficar horas encima de uma árvore sem dar de cara no chão por conta da caça, ajudaram bastante hoje. Mas essa talvez seja minha única habilidade, preciso melhorar em absolutamente todo o resto. Que A Mãe me ajude!

-- Preciso ir agora, é o meu turno para patrulhar a floresta -- ele fala enquanto põe os sapatos e assim que termina pega o machado, prendendo no cinto -- Pode voltar sozinha daqui?

-- Claro que posso, não precisa se preocupar e nem agir como uma galinha protetora -- permaneço deitada observando o céu azul, limpo de nuvens acima -- Se conseguir chegar cedo, pode encontrar as sobras do almoço la em casa.

-- Obrigado pela consideração, bruxinha -- ele retira o arco da cabeça e os cachos caem em cascata pela sua testa.

-- Considere um pagamento pela aula -- dou uma piscadela em sua direção e admiro a linda curvatura do seu cabelo.

Sempre tive inveja de Orion por conta do seu cabelo, sou fascinada por cada cachinho e os sempre quis para mim.

-- Se eu amanhecer careca amanhã, já sei que jogou o mau olhado -- ele se vira preparando para ir embora e pego um dos meus sapatos jogando em sua cabeça.

Ele se vira assustado com uma das mãos no lugar do impacto.

-- Você ta maluca? -- ele se agacha pegando meu sapato e o lança bem no meio do meu rosto. E sai correndo sem olhar para trás

-- Da próxima vez que eu o ver, não vai ser só um mero sapato na sua cabeça! -- esfrego o rosto com a mão tentando minimizar a dor. Aquele maldito me paga.

Descido ir nadar no lago para amenizar o calor antes de voltar para a vila. Quando chego lá, felizmente não tem ninguém.

Retiro minhas roupas e entro na água cristalina. Estava na temperatura ideal, extremamente gelada. Enquanto solto meu cabelo da trança apertada vejo algo brilhando no fundo do lago, dou um mergulho profundo afim de pegar o objeto. Assim que retorno a superfície observo o que peguei.

Um anel de ouro com uma pedra de rubi no meio, de um vermelho tão intenso que se assemelha a sangue. Gravado por dentro estava uma palavra em uma língua desconhecida. Perguntaria o significado a Sacerdotisa depois.

Ouvindo o ronco de fome vindo da barriga, resolvo voltar para casa.

Devika estava no berço babando em uma das bonecas de pano e minha mãe estava pondo o almoço no prato.

-- O que temos para comer hoje? -- falo pegando um prato e indo verificar a panela.

-- Sopa de batata com carne de carneiro da semana passada -- ela fala se sentando a mesa e saboreiando a comida em seguida. -- Como foi o treino? Ele pegou muito pesado?

-- Não precisava me lembrar esse detalhe do carneiro -- faço uma careta mas ponho a carne no prato mesmo assim. Melhor do que nada. -- Foi bem legal, estou aprendendo a como firmar os pés.

-- Não faço a mínima ideia para que serve isso, mas que bom que está gostando -- Assim que termina de falar põe uma colher cheia na boca -- Hoje é noite de história, querem a sua ajuda para montar as fogueiras.

-- Por que sempre eu? A filha de Raia nunca ajuda em nada

-- Você deveria se sentir honrada por ser escolhida pela Sacerdotisa para ajudar, sabe como as tradições são importantes -- ela da a última colherada na sopa e se levanta para deixar o prato na bancada de barro.

-- Preferia não ser escolhida, nunca tenho tempo de fazer nada -- começo a comer a sopa e tento não pensar no carneiro.

-- Vai chegar um dia que seu ego e ingratidão não vão mais caber nesse vilarejo, e reze para que não fique sozinha quando este dia chegar.

Não preciso de ninguém mesmo, assim que tiver idade vou sair desse lugar maldito e nem olharei para trás.

The heiress's curse - O renascimento Onde histórias criam vida. Descubra agora