II

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Eu te amo, Alan!

Kyra sentiu como se aquelas três palavrinhas tivessem refletido na parede cinza do elevador e a acertado em cheio. Em uma verdade necessária.

Havia lutado tanto contra si mesma durante meses, ignorando aquele vazio incômodo em seu peito, a saudade e todo o amor.

Não que não amasse Rafael.

A verdade é que ser Kyra Romantini, a decoradora renomada, noiva, futura esposa e com todo um futuro inteiro planejado era muito mais simples do que ser a Cleyde, a babá cujo único aspecto da original era ser atrapalhada. Quando teve de escolher, Kyra fez a escolha fácil e segura. Gostava de saber todos os próximos passos de sua vida, principalmente depois de tudo que passou. E estar Rafael era exatamente isso. Teriam uma vida perfeita. Casariam em uma linda cerimônia, depois uma inesquecível lua de mel, seus quatro filhos, sucesso em vários âmbitos da vida e um futuro esplêndido. Com Alan ela não tinha ideia do que vinha a seguir... e tinha medo de toda essa incerteza. Medo porque era imprevisível. Medo por cogitar aquela felicidade e planos que ela nem sequer sabia quais seriam. Mas foi só ali, a um passo para a morte, que a morena se deu conta de como foi tola ao temer algo tão bonito. Amava Alan com todo o seu coração e nunca quis tanto estar em seus braços como agora.

Não soube exatamente quanto tempo ficou em silêncio, mas percebeu a respiração apressada e ofegante no outro lado da linha.

Esperava qualquer coisa, menos o que veio a seguir.

— Kyra... É a Júlia.

A voz era abafada, mas soou em alto e bom som nos ouvidos de Kyra. Sua testa enrugou em confusão e toda a adrenalina de seu corpo pareceu sumir em segundos. Como assim "Kyra... É a Júlia."? O que ela estava fazendo com o telefone de Alan?

— Eu tô com as crianças. Alan soube do furacão e correu par — a ligação foi interrompida de repente.

A bateria tinha acabado.

E ainda por cima estava com eles... Com os pestinhas que ela demorou tanto para conquistar e ganhar a confiança.

Um solavanco e um estrondo enorme no elevador fez com que Kyra se encolhesse ainda mais. Era agora. Iria morrer.

Fechou os olhos com toda a força que conseguiu, agarrando a mala e a fotografia em suas mãos como se sua vida dependesse unicamente daquilo. Tentou pensar em coisas boas, mas tudo que vinha em sua mente era Alan e Júlia juntos. Não que não soubesse daquilo. Claro que tinha conhecimento do envolvimento dos dois, tinha-os visto no casamento de Alexia. A ruiva comentou com ela que eles estavam mais próximos e se conhecendo. Sentiu no tom da amiga uma certa cautela, como se esperasse alguma coisa. Mas Kyra soube disfarçar bem, disse que estava contente por eles e esperava que Alan fosse feliz. O que, de certa forma, era verdade. Desejava toda a felicidade do mundo para ele. Só não pôde controlar a pontada de... ciúmes? Não! Não pôde controlar o incômodo que aquilo lhe causou.

E era esse mesmo incômodo que invadia cada centímetro de seu corpo ao pensar nos dois compartilhando os momentos e uma vida que ela abriu mão. Devia estar feliz por ele, por estar seguindo em frente, afinal ela o libertou para isso, né? Para que ele fosse feliz. Então por que diabos estava tão incomodada com o romance dos dois?

A porta foi aberta em um solavanco.

Kyra tentou abrir os olhos, mas uma claridade absurda a impediu de completar a simples tarefa.

— Vamos, Kyra!

A voz um tanto sem paciência fez um eco no ambiente.

— Meu Deus, foi tão rápido assim? — a morena de cabelos curtos estava apavorada — Nós morremos, Alexia?! Isso aqui já é o céu?! — questionou baixinho, tateando a parede e tentando ficar de pé — Ou o inferno?! Afinal, cê tá aqui comigo.

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⏰ Última atualização: Jul 25, 2021 ⏰

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