Ouro, prata e sangue

7 2 0
                                    

As chamas de dez anos de treinamento arcano me forjaram como uma Bruxa que aprendera a controlar completamente o poder do olho das trevas. Não apenas isso, pude desenvolver o meu próprio Domínio Arcano, desenvolvendo habilidades mágicas no campo psíquico. Mesmo assim, ainda não poderia me considerar uma Mestra nos feitiços, encantamentos e magias psíquicas, mas minha capacidade se tornara notória.

Infelizmente, na minha vida social eu não havia progredido muito em todos esses anos. O fato de ser proprietária de uma relíquia das trevas gerava um forte estigma, mesmo dentro da Legião da Magia. As pessoas preferiam evitar a minha companhia, pois mesmo com o olho das trevas sob controle, ainda sentiam a atmosfera opressiva emitida pelo artefato maligno.

Katrina Muon, minha Mestra, amiga e mãe de consideração, era a única que sempre me aceitou inteiramente. Ela até mesmo desenvolvera um tapa-olho mágico que funcionava como um selo místico muito eficiente para conter boa parte dos poderes das trevas de minha relíquia. Todavia, mesmo com essa grande ajuda, ainda dependia bastante do meu autocontrole para manter o olho das trevas totalmente seguro para as outras pessoas ao meu redor.

Havia me tornado mulher, podendo até mesmo ser julgada como bonita e atraente por várias pessoas, o que não seria um motivo forte o suficiente para quererem se aproximar de uma pessoa maculada pelas trevas.

Meus longos cabelos brancos com fios que reluziam como prata sob a luz do sol, eram um oposto aos cabelos loiros que reluziam como ouro sob o sol de minha Mestra Katrina Muon, acabando por representar nossas personalidades distintas. Katrina como o sol vibrante, era uma pessoa calorosa, afetuosa e querida; eu como a lua álgida, era uma pessoa frígida, desinteressada e solitária.

Ao atingir a maioridade, pude escolher o meu caminho, sem a tutela integral de Katrina Muon. O caminho mais saudável seria seguir carreira na Legião da Magia. Poderia ser uma defensora oficial da ordem e da paz no universo, mas minha decisão acabou sendo algo bem diferente. Constatei que o estigma das trevas, que se firmava na forma de outras relíquias como a minha, deveria ser totalmente apagado do universo.

Por não desejar que outras pessoas passassem pelo mesmo que tive que passar, assim como o meu forte desejo de encerrar de uma vez por todas as calamidades provocadas pelas trevas, assumiria para mim uma grande missão: caçar todas as relíquias a fim de destruí-las, quando finalmente restasse apenas a minha, pensaria no próximo passo a tomar. Todavia, em meu íntimo já saiba que passo seria esse, mas até lá, um propósito me moveria, sendo o suficiente para mim, por hora. Evidentemente que minha Mestra não concordara com essa minha decisão.

— Aijiro, o caminho que escolheu de solidão e sofrimento apenas a arremessará diretamente nas trevas. — disse Katrina, com tom de profunda decepção em sua voz. — Quando nos conhecemos, disse-lhe que poderia seguir por outro caminho. Com todas as minhas forças tentei lhe mostrar uma alternativa que apaziguasse suas trevas. No entanto, parece-me disposta a abdicar de todos os meus ensinamentos para insuflar sua natureza mais escusa.

— Não abdicarei de todos os seus ensinamentos, minha Mestra. — Retruquei, sem me abater com a evidente decepção expressa naqueles olhos verde-esmeralda que tanto me estudaram por todos os anos que passamos juntas. — Justamente por ter entendido seus ensinamentos que sei que devo escolher meus desígnios. Se minhas vontades me levarem diretamente para as trevas, será a consequência do equilíbrio do Karma. Como a senhora mesmo me disse, somos agentes do movimento e equilíbrio do Karma, mas pacientes de suas consequências. Portanto, serei a agente de um propósito, aceitando todas as suas consequências irremediáveis. — Concluí, decidida em minha decisão.

— Caso cometa crimes, não a absolverei, caso tenha que detê-la, assim o farei. — Prometeu minha Mestra, sem conseguir mais me encarar nos olhos, dando-me as costas.

A caçadora de relíquias das trevasOnde histórias criam vida. Descubra agora