Capítulo 19 - Flagra

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Eu sempre sabia quando eu não estava dormindo no meu próprio quarto.

Era a mudança nos ruídos, seja barulho de mais ou de menos.

Era a intensidade da luz, mais brilhante ou mais abafada.

Era o cheiro, o traço distinto do meu próprio aroma, ou a presença distinta do de outra pessoa.

Era a sensação de uma cama estranha debaixo do meu corpo, as ondulações, as denteações do colchão de outra pessoa. A sensação dos lençóis de outra pessoa.

Eu nunca conseguia dormir rapidamente numa cama que não fosse a minha, e normalmente me virava e revirava entre as cobertas até pegar no sono.

Nenhuma dessas coisas, no entanto, foram empecilhos na cama de Christopher. E eu simplesmente sabia que este era o quarto dele, e não um quarto de hóspedes.

O apartamento ficava num andar suficientemente alto para que não houvesse o menor som do tráfego nas ruas, porém havia uma brisa suave do vento batendo contra a janela, que tirava o tom opressor do quarto. Havia cortinas pesadas tapando as janelas, mas não estavam completamente fechadas, permitindo que um feixe de luminosidade entrasse – o bastante para que eu distinguisse as formas do ambiente. O quarto todo cheirava a sabonete, loção pós-barba, e apenas, ele. O colchão e lençóis eram incrivelmente caros, a julgar por quão quentes e confortáveis eles me faziam sentir

Na verdade, eu nunca havia ficado tão confortável em toda a minha vida. Adormeci muito rápido na noite passada, de pura exaustão emocional, abrupta e nada breve. Também me revirei um pouco sob as cobertas, mas não porque estava desconfortável, e sim por causa do cheiro de Christopher me tomando de assalto. Acho que talvez seja aquela coisa que falam de como o aroma natural de uma pessoa é a base da atração.

Quando olhei para o relógio no criado-mudo ao lado da cabeceira da cama, vi que ainda eram cinco horas da manhã. Meus sonhos bastante gráficos haviam me despertado, me deixando suada, latejando e frustrada em meu vestido azul completamente amassado. A choradeira de ontem à noite resultou numa garganta fechada, contraída, olhos inchados e, sem dúvida, deviam estar com os contornos avermelhados.

Eu estava um verdadeiro balaio de gato, e isso sem nem considerar meu estado emocional.

Por que Christopher não podia ter simplesmente me explicado tudo ontem à noite?

Será que ele era tão covarde assim?

O Christopher Uckermann que conheci logo de início era um magnata, homem de negócios, calmo frente a competidores furiosos, lidando com bilhões de dólares sem piscar o olho. Ele era como um dos caras de Mad Men.

O Christopher Uckermann que vi ontem à noite havia se retraído sob meu olhar, tinha se segurado e apoiado em mim como se temesse que eu fosse desaparecer, e havia se recusado a fazer uma simples defesa do seu próprio traseiro. Recordo de histericamente lhe dizer que o odiava, que toda essa confusão emocional era culpa dele, e tudo o que ele fez foi concordar comigo.

E mais importante ainda: eu realmente iria cruzar os céus para ir para outro estado com ele? Eu sabia que ele tinha crescido em Monterrey e que a cidade ainda era a localização do lar da família Uckermann. Eu só não entendia como ele poderia se explicar para mim lá.

Apesar de Christopher não ter desejado que eu fosse para casa, e basicamente ter me ordenado para ir a Monterrey com ele, eu sabia que se fosse persuasiva o suficiente, ele nunca me forçaria a nada. A atitude mais segura a se tomar agora era recuar e esquecer isso tudo, antes que ele tivesse a chance de me magoar ainda mais. A antiga Maite, aquela que jamais acreditaria que tivesse uma remota chance com Christopher tomaria esse rumo. A nova Maite, aquela que havia recentemente testemunhado o quanto Christopher é atraído por ela, decidiu jogar a cautela pelos ares e fazê-lo mostrar suas cartas.

His Personal Assistant (Adaptada)Onde histórias criam vida. Descubra agora