𝕮𝖆𝖕𝖎𝖙𝖚𝖑𝖔 1

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Era monótono. Todos os dias se passavam da mesma forma, e estar na escola não ajudava. Sabe o que ajudava? Lembrar da lasanha incrivelmente saborosa da mamãe me esperando em casa, então chupa essa ensino médio. Jade 1, ensino médio 0!

O sinal tocou no horário de sempre, ao 12:00. Esperei sentada enquanto jovens enlouquecidos se atropelavam na porta minúscula ali presente. Levantei quando vi nenhum perigo eminente e me dirigi à saída, lambendo o lábio inferior. Podia sentir o cheiro da bolonhesa adentrando minhas narinas, indo direto ao meu estômago que roncava. Aparentemente comer dois pães de queijo durante a manhã não me sustentava.
Um passo e eu sairia daquele inferno, um passo e eu estaria de fora...

- Jade!

Suspirei rapidamente e virei meu corpo em direção à Elion. Elion, meu melhor amigo desde criança. E o mesmo que tentava avançar a relação em algo a mais fazia meses. Ofereci um meio sorriso enquanto ele retornava a fala.

- Eu estava pensando em sair hoje. Na verdade, eu pensei em sair com você... Pra tomar um sorvete, sem segundas intenções.

- Desculpa Elion – baguncei seus cabelos loiros – Eu já tinha prometido a mim mesma que estudaria hoje.

É, eu prometi isso a anos, mas nunca cumpri e parece que hoje surgiu a oportunidade perfeita para executar o que  minha falta de vergonha na cara não deixou.

- Entendi... Talvez outro dia então? – seus olhos castanhos se entristeceram e eu me senti péssima.

- Claro – sorri e o abracei antes de sair pelo portão a fora.

Não me considere uma escrota sem coração, não é isso. Eu o amo, Elion é bom, gentil e engraçado. Só que eu o amo de uma forma diferente da qual ele me ama. E vamos ser sinceros, eu tenho 17 anos, nunca me apaixonei e prefiro que continue assim, por que sempre que eu olho nos olhos de Elion, meu coração se quebra um pouco.

Caminhei tão distraída para casa que nem percebi quando cheguei a porta. Deve ser uma das vantagens de morar perto do purgatório. Tirei os sapatos antes de entrar, e encontrei um bilhete no balcão entre a sala e a cozinha.

Filha, tive que voltar para o hospital devido a uma emergência, a lasanha está dentro do micro-ondas. Te amo”

Minha mãe era neurocirurgiã e quase nunca ficava em casa. Eu compreendia sua necessidade de trabalhar, éramos só nós duas, sem papai era tudo mais difícil. Mas eu sentia sua falta, era solitário demais. E egoísta.

Porque nesses momentos eu culpava meu pai. Culpava sua imprudência no trânsito, sua falta de responsabilidade com a família, culpava pelas lágrimas da Jade de 8 anos. E isso era egoísta pra caralho.

Ele não tinha culpa por sua morte. E eu certamente não me lembro de muitas coisas sobre meu pai, mas ele era dócil e carinhoso, eu o amava. Eu o amo muito e sei que minha mãe ainda sente o mesmo.

Engoli o nó que se formava em minha garganta e tratei de abrir o micro-ondas, quase surtando de felicidade ao encontrar a deliciosa lasanha. Era o suficiente para minha felicidade. Por enquanto.

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