CAPITULO 5

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Como, em todas as coincidências do mundo, esse Deus pode estar na minha frente?
Sentia a Liv puxando a minha saia.
- Vem mamãe, vem ver a mesa de desenho do tio. É enorme! Tem um monte de lápis, e ele disse que me deixa desenhar.
- Filha, não vamos incomodar.
E então, a voz e o sotaque se pronunciam:
- Não é incomodo nenhum, Clarissa.
E ele se afasta da porta, dando passagem para nós. A sala dele era realmente linda, fazia jus ao dono. Liv já subiu na cadeira que dava acesso à mesa de desenho.
- Espero que ela não tenha te atrapalhado.
- De maneira alguma. Ela é muito especial. Conversamos e, praticamente, já sei tudo da sua vida.
- Acredito que sim. A língua dela não cabe nessa boquinha.
- Então, Clarissa, que setor está ocupando?
- Vou trabalhar no marketing digital.
- Então eu crio, e você divulga. Seja bem vinda.
- Obrigada. Começo oficialmente na segunda-feira.
- E como tem se adaptado à cidade?
- Estou adorando.
Lívia então fala entre seus desenhos:
- Mamãe, o nome dele é Matt e não gostosão do avião.
Senti todo o sangue do meu corpo se fixar nas minhas bochechas.
- Sobre isso, Matt, me desculpe.
- Não se explique, fico lisonjeado. E te desculpo completamente se aceitar jantar comigo. Não precisa ser hoje, mas quero a sua palavra que vai permitir te levar em um ótimo restaurante, para comemorar a sua mudança à minha cidade.
- Sua cidade? Achei que era inglês.
- Sou, mas há 10anos estou aqui, e me sinto em casa.
- Tudo bem, vamos combinar.
- Amanhã?
- Não sei, preciso ver se minha prima não tem planos e pode ficar com a Liv.
- Tio? - falou a Lívia- posso ir junto?
Então, ele fez aquele olhar predador para mim, e respondeu sem tirar os olhos dos meus.
- Não querida, dessa vez preciso que seja só eu e sua mamãe.
Escutou o PING? É minha vagina pingando. Não tinha uma reação assim, a um homem, há não sei quanto tempo, se é que já tive.
Nos despedimos, não sem antes lhe passar meu celular, e ter a promessa que ele ligaria amanhã para confirmar o nosso jantar.
No caminho evitei falar no assunto com a Ju, por causa da bicuda da minha filha. Esperei depois que ela dormiu.
- Eu não acredito que o gostoso é o Matt Sommer! Ele é um dos designers mais importantes do mundo. Desde que eu cheguei queria conhecê-lo, mas ele vive viajando. E prima, ele quer jantar com você, sua vaca sortuda!
- Mas, ainda não sei. Nem comecei a trabalhar, e já vou sair com um dos diretores? Parece meio putaria demais.
- Não acho. Vocês se conheceram antes e, Cla, o cara é maravilhoso. Não dá para dispensar, ainda mais nessa seca que você está.
- E coloca seca nisso, o cara fala e fico excitada. Não é normal. E esse é outro medo meu, de cair de boca nele, assim que ele virar a esquina.
- Prima, vai jantar com ele, eu fico com a pequena. E o Alceu, nada?
- Sempre liga e fala com a Lívia no Facetime, mas não quero ficar falando com ele. Sempre com uma cara de coitado.
- Vou te falar uma coisa, que está me intrigando. Ele está muito manso. Nunca vi um divórcio tão light. Ou ele acha que vocês voltam, ou ele vai surtar em algum momento. Não quero te assustar, mas não é normal essa melação toda.
- Espero que continue assim. Você acha que ele pode tentar tirar a Liv de mim?
- Ele que não se atreva.
No sábado estava ansiosa. Checava meu celular a cada cinco minutos, e nada dele. Nem um recado. Estava começando a desistir do jantar quando, quase cinco da tarde, chegou um whats.
"Olá, janta comigo?"
Humm, direto. Gosto disso. Odeio enrolação.
"Não desistiu?"
"Não, e anote ai, não desisto fácil."
"Podemos ir. Que horas?"
"Me passa o endereço."
Dei o endereço
"Passo ai às 18."
Nunca ia me acostumar com essa mania americana de jantar com as galinhas.
"Muito cedo! Pode ser às 19?"
"18:30."
"O que visto? Algo diferente?".
Ele demorou e me arrependi, a frase tinha duplo sentido e fiquei apreensiva.
"Você fica linda de qualquer maneira. Mas, o restaurante não é formal. É um dos meus italianos favoritos."
"Ok, te espero."
"Não vejo a hora."
Sai correndo, parecia uma adolescente, encontrei a Liv e a Ju na cozinha. Minha prima matou a charada na hora.
- Que horas ele vem?
- Quem vem? -pergunta minha filha
- O gostosão! - diz a Ju.
- O nome dele é Matt, e seis e meia.
- Vai tomar um banho que depois nós vamos te deixar lindona, né Liv?
- Vai, mamãe, fica gostosona pro gostosão.
Rimos, e subi para me arrumar,
Às seis e vinte estava em frente ao espelho, um vestido vermelho justo, acima do joelho, cabelo preso de lado, maquiagem que marcava meus olhos e um salto, foda-me, preto. Fechava o visual uma carteira, preta, de mão.
- Mamãe, você está mais linda que a Elza do Frozen.
- Obrigada.
A campainha toca, e a Lívia sai correndo.
- Jesus, essa maluca vai rolar a escada. Devagar!!!
Quando cheguei ao andar de baixo, Matt estava na sala. E era uma visão de tirar o fôlego. Vestia uma calça jeans, camisa para fora da calça, azul clara, e um blazer azul escuro. O cabelo estava perfeitamente despenteado, e o perfume podia-se sentir a quilômetros. E, para quebrar mais meu coração, ele tinha Lívia nos braços. Isso mexeu mais comigo, do que eu esperava. Estava colocando minha filha no meio disso tudo e isso me incomodou muito.
- Vamos? Lívia, vai com a tia Ju.
- Ah mamãe, deixa eu mostrar meu quarto pro tio?
- Não filha, hoje não.
Então ele a colocou no chão e agachado na altura dela disse:
- Vou levar a sua mamãe pra jantar hoje, e outro dia venho com mais tempo e você me mostra, pode ser?
- Tá, tio, pode.
E ela saiu meio cabisbaixa. Ele então se aproximou, deu um beijo no meu rosto e disse:
- Você está deslumbrante, Clarissa.
Trabalho em uma empresa automobilística, então tenho uma certa paixão por carros, e Matt não me decepcionou. Ele tinha um Cadillac ELR híbrido chumbo, carro raro, e que deve ser um luxo da diretoria.
- Lindo carro.
- Obrigado - disse, enquanto abria a porta do passageiro para eu entrar.
No carro, ele me perguntou se eu queria escolher a música, mas deixei à sua escolha. Sarah Brightman dominou o ambiente.
Mesmo com música, havia um silêncio entre nós. Pesado. Não sabia explicar. Não conseguia parar de pensar que estava indo longe demais com isso.
Estava nervosa, e ele também. Então, ele resmunga alguma coisa, e para o carro no acostamento da via rápida.
Olhei para ele com espanto, mas ele não disse nada, apenas colocou a mão no meu pescoço, emaranhou os dedos no meu cabelo e me puxou em direção ao seu rosto.
Nossas bocas colidiram e fogos de artifício estouraram na minha cabeça. Os lábios dele eram macios e quentes. Inconscientemente suspirei, e ele aproveitou a abertura da minha boca para colocar a língua em contato com a minha. E dessa vez foi a vez dele gemer. E o gostosão sabia beijar. Estávamos ofegantes, ele encosta a testa na minha e diz:
- Desculpa o ataque, Clarissa, mas não podia mais esperar. Desejava provar sua boca deliciosa desde que esbarramos no aeroporto e, Deus, é mais deliciosa do que poderia sonhar.
Ele voltou ao acento e conduziu, novamente, na autoestrada, me deixando derretendo no banco.
- Espero que você goste do restaurante - e colocou a mão na minha coxa, apertando levemente. Sim, isso está indo rápido demais.

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⏰ Última atualização: Mar 14, 2015 ⏰

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