CAPITULO 1

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Não foi nada fácil, esse período, até a assinatura do divórcio. Uma separação acomete todas as pessoas envolvidas com um casal, a família é a que mais sente. Meus pais, por exemplo. Minha mãe chorou por dias, dizia que eu estava errada, que um casamento não pode ser destruído assim, que eu deveria ter tentado mais. Não contei a eles sobre a traição, foi uma escolha minha. Eles adoravam o Alceu, e eu nunca destruiria a sua imagem, perante os outros. Ninguém precisava saber o tamanho do meu chifre.
Meu pai ficou ao meu lado o tempo todo, apoio incondicional. No fundo eu acho que, para ele, eu merecia coisa melhor. Coisa de pai.
Meus irmãos tinham meu ex como amigão, aquele que fazia o churrasco e jogava futebol junto. Então, todos sentiram, mas ninguém como ela, Lívia.
Comunicar, a ela, a nossa separação, foi complicado. No início Alceu não queria colaborar, dizia que a decisão tinha sido minha e eu que contasse. O convenci que tínhamos que contar juntos, pois existe ex-marido, mas nunca ex-pai, e ele tinha que estar presente para ela saber que o amor por ela não tinha mudado. Ela já tinha aceitado a ideia de irmos morar nos Estados Unidos, e estava empolgada para morar perto da Disney, porém ela achava que o pai ia junto.
Então, um dia de noite, fiz um jantar e Alceu chegou do trabalho. Depois de comermos, sentamos na sala e falei:
- Liv, minha linda, mamãe e papai têm uma coisa para contar para você. Então, você já sabe que a gente vai mudar e - o Alceu me interrompe e diz:
- O papai não vai poder ir junto. Eu não posso largar o emprego aqui. Mas eu prometo que vamos nos ver, sempre que der.
Os olhinhos dela se encheram de lágrimas, e meu coração quebrou um pouco.
- Mas... você não vai morar com a gente?
- Não, meu docinho, não vou.
- Vocês estão se separando?
Isso me chocou. Nunca imaginei essa pergunta saindo dela, mas achei que mentir era pior.
- Liv, o papai e a mamãe se amam, mas não para morar junto. O amor agora é diferente. Eu amo ele, por ele ter me dado você, e ele me ama porque eu sou sua mãe. Você é a pessoa mais importante na nossa vida, e você virá visitar o papai nas férias.
Ela parou, olhando para nós dois, e perguntou:
- Eu vou ter duas casas? Dois quartos?
- Sim. Um na casa da mamãe e um na casa do papai.
- Pode ser um das Princesas e outro da Barbie?
- Pode, sim.
- Sabia que a Luisa, da minha escola, também tem os papais separados? Ela disse que eles são "divorcivados".
- Divorciados. - eu e Alceu respondemos ao mesmo tempo
- Isso ai, mesmo. E ela disse que o pai dela mora com uma mulher, que a mãe dela chama de periguete.
Rimos e Alceu falou:
- Papai promete não morar com uma periguete.
Duvido, penso, mas não abro minha boca.
Então, ela pegou suas bonecas e foi para o quarto.
Depois de todo o drama, até que não foi tão difícil.
Estou arrumando as malas. Minha mãe insistiu que eu fosse sozinha primeiro, para me estabilizar lá, antes de levar a Lívia. Mas, não abro mão de levar minha filha. Queria que ela participasse de tudo. Ficaríamos no apartamento da minha prima, pois conseguimos trabalhar na mesma sede, até acharmos um lugar para nós.
Estamos no meio de agosto, e como as aulas da Lívia só iniciam em setembro, daria tempo dela se adaptar um pouco.
Na noite anterior a nossa viagem, meu pai bate à porta do meu antigo quarto, onde estamos "morando", desde a venda do meu apartamento.
- Oi, pai.
- Filha, o Alceu está ai.
- Ai pai, fala para a Lívia ir lá, então.
- Ele disse que quer falar com você.
Estranhei, pois na verdade, não tínhamos muito que falar. Divórcio assinado, a liberação para ela ir comigo feita, resolvi ver o que ele queria.
Cheguei à sala e ele estava em pé, andando de um lado para o outro. Percebi que estava meio amarrotado e visivelmente nervoso.
- Oi, Alceu.
- CLA!!.- e veio em minha direção, me abraçando forte. - eu estou desesperado.
- O que aconteceu?
- Aconteceu que percebi que não sei viver sem você. E eu vim te pedir para não ir.
- Alceu...
- Não, não fala nada ainda. Pense comigo, a gente sempre se deu bem, sempre se amou, formamos uma família linda, eu sei que éramos, mas a gente pode consertar.
- Alceu...
E ele veio, de novo, para cima de mim. Pegando no meu rosto, colando seu lábio no meu.
- Lembra como a gente se beijava gostoso, como eu fazia você se sentir com a minha língua, não é possível que você não sinta mais nada por mim. - e ele forçou a entrada da língua na minha boca. Não retribui o beijo, então ele desceu a boca até meu pescoço, lambendo, mordiscando.
Ok, não sou de ferro, estou há quase quatro meses sem sexo, se disser que não fiquei um pouco excitada estaria mentindo, mas não podia dar continuidade.
- Alceu, pare. Pare com isso.
- Não, Cla, vamos tentar de novo. Eu sinto muita saudade de você e da Liv. Minha vida está uma merda, me deixa fazer você relembrar como nós éramos juntos, como nosso encaixe era perfeito, sinto falta do seu gosto, meu amor.
- Mas por que isso agora, Alceu? Vou embora daqui a doze horas.
- Porque eu te amo, e não vou deixar você ir.
- E você descobriu isso agora? Não se lembrou disso quando estava me traindo com a sua secretaria?
- Aquilo foi só sexo, amor. Deixa eu te levar para um lugar, para a gente fazer amor e se lembrar. Eu vou te chupar toda e depois te comer gostoso, como eu sei que você gosta.
- Não é só isso, foram inúmeras coisas que foram desgastando o nosso casamento. Você está confundindo as coisas.
Ele começa a beijar meu queixo, meu maxilar, enquanto sua mão roçava meu seio. Corpo traiçoeiro do caralho, senti minha calcinha ficar molhada, e o filho da mãe desceu sua mão por cima da minha calça jeans, passando a mão bem no ponto certo. Desgraçado, odeio que ele conheça meu corpo tão bem, mas a minha salvação tem um metro de altura, e nesse instante ela entra, como um foguete, na sala.
- Papai!!!
Nos separamos ofegantes.
- Oi, filhota - ela pula no colo dele e, sem querer, bate o pé em seu pau duro, sob a calça. Vejo ele se torcer de dor e ter que sentar para não cair.
- Que foi papai?
- Ai, filha, você chutou o papai.
- Desculpa. Por que seu pipi tá duro papai? Você precisa fazer xixi? Na escola, a tia Silvia falou que quando o pipi do menino esta duro, tem que ir ao banheiro.
Segurei a gargalhada, e agradeci a interferência broxante da minha filha.
- Filha, o seu pai veio te dar tchau - disse olhando nos olhos dele. Queria que ele sentisse que não tinha volta, nem sexo de despedida ou de recordação. O elo estava rompido.
- Papai, você vai me visitar lá nos Estados Unidos? Dai você me leva na Disney?
- Pode ser, filha, vamos ver. Mas nas férias você vem para cá, e vai ficar na casa nova do papai. Seu quarto vai estar pronto e vamos nos divertir muito.
Eles se abraçaram e sai da sala para dar mais liberdade a eles. Se tinha alguma coisa que sentia pela viagem, era afastar eles dois. Sei da importância de um pai na vida de um filho. Meu pai é muito presente na minha vida, e não sei o que seria de mim sem ele.
Depois de algum tempo, volto e vejo que Alceu tem lágrimas nos olhos, enquanto Lívia mostra para ele seu álbum de figurinhas do Frozen. Sei que não vai ser fácil para ninguém, mas sei que vamos superar.
- Alceu, fica a vontade com ela. Preciso acabar de arrumar as coisas.
- Cla, não tem volta?
Olho para a nossa filha que está concentrada em colar figurinhas.
- Não, infelizmente não. Desejo que você seja muito feliz.
- Pois eu desejo que você volte antes do que você imagina.
Sigo em direção ao meu quarto e termino de arrumar as malas. Sinto a presença dele, e olho para ver que ele tem a Liv adormecida no seu colo.
- Deita ela aqui - mostro a cama. Ele a deita e a beija, longamente, na testa, e começa a chorar. Nesse momento, não aguento, e choro também.
Ele me abraça e nos beijamos. Um beijo de despedida, sem rancores, ele me deu o melhor presente da minha vida e por isso lhe serei eternamente grata.
- Promete que vai cuidar da minha pequena?
- Prometo cuidar na nossa menina. Isso ninguém tira dela, Alceu. Ela é sua filha.
- Me desculpa se te fiz sofrer.
- Um casamento não acaba por erro só de um lado. O importante é que pensemos na felicidade dela.
- Eu vou te amar para sempre.
- Eu sei. Eu também.
E então ele se foi.

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