Capítulo 2 - Andrew

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Estava estudando as decisões a tomar e em como propor a compra do último terreno que faltava para termos a posse total da jazida petrolífera recém-descoberta. Minha primeira alternativa era ir até lá pessoalmente, oferecer dinheiro e mais dinheiro, assim como os meus homens haviam feito várias vezes ao longo do ano.

Logo me veio uma notícia mais positiva para os meus planos, o antigo proprietário havia falecido, deixando o rancho e todas as suas possíveis dívidas nas mãos da única filha, uma mulher de vinte e dois anos, que provavelmente não iria querer cuidar do local.

Concentrado em outros assuntos da empresa, mandei que o Charles fosse negociar por mim. Ofereceríamos duas vezes o valor que aquele punhado de terra valia sem o petróleo e a garota aceitaria sem questionar. Entretanto o plano não saiu como eu esperava, e Charles foi enxotado do lugar, com uma espingarda velha.

Felizmente, eu tinha um talento particular com as mulheres e estava disposto a colocá-lo em jogo para convencê-la a me dar o que eu queria.

Estava vasculhando sobre o rancho na internet quando vi uma vaga de emprego para ajudar no local e tive uma brilhante ideia. Tudo o que eu precisava era estar perto dela. Após um dia perto de mim, ela iria assinar o documento de venda e mudaria para onde achasse melhor.

— Senhor, tem certeza de que essa é uma boa ideia? — Charles questionou quando paramos alguns metros da entrada do rancho para que eu não fosse visto descendo de um carro sofisticado e caro demais para o papel que eu interpretaria.

— E quando tenho ideias ruins? — Abri um sorriso malicioso ao pegar o chapéu e o colocar na cabeça.

Diferente dos ternos alinhados e de alta costura que eu costumava usar, estava numa calça jeans barata, uma camiseta simples e com o meu cabelo ,sempre tão alinhado, sendo amassado por um chapéu de cowboy.

— Preciso de um dia com ela para que faça o que eu quiser. — Pisquei para o Charles ao complementar.

— Tenha uma boa sorte. — Ele pegou uma mochila no banco de trás e a entregou para mim.

— Obrigado.

Antes de me enveredar naquela aventura, rumo a concretização de um dos negócios mais importantes da história da Global Oils, tinha visto alguns vídeos sobre como era cuidar de uma fazenda e esperava conseguir me virar bem, afinal, deveria ser bem mais simples do que lidar com as cobras e tubarões do meio corporativo.

Ajeitei a mochila nos ombros e segui caminhando pela estrada até que senti o meu pé afundar em algo.

— Eca! — Fiz uma careta ao limpar minha bota na grama.

As pessoas poderiam cuidar melhor do lugar onde seus animais passavam ou levar um saquinho, como os passeadores de cães.

Apesar do pequeno contratempo, não me deixei dissuadir do meu objetivo.

Atravessei a entrada do rancho e segui até a porta da casa. Dei duas batidas e esperei que abrissem. Demorou um pouco, ou só era eu impaciente.

— Oi! — Uma mulher abriu a porta.

Ela era jovem, tinha traços latinos, cabelos e olhos castanhos. O sorriso se alargou quando seus olhos encontraram os meus, mas não foi uma surpresa que ela ficasse contente ao me ver, todas as mulheres ficavam.

— Bom dia! — Toquei na aba do chapéu.

— Você deve ser o Andrew.

— Isso.

Eu poderia informar para ela um nome diferente do meu verdadeiro, mas preferi mudar apenas o sobrenome, já que poderia acabar estranhando caso fosse chamado por outro nome.

Poderiam dizer que não, mas sempre fui muito esperto.

Umedeci os lábios enquanto a encarava e esperei que suspirasse, mas isso não aconteceu.

— Você está atrasado.

— Ah.

— Sei que disse na descrição do anúncio, mas vou avisar de novo. Não posso pagar muito, mas vou oferecer moradia e alimentação.

— Tudo bem.

— Que bom que concorda. Vem comigo. — Fez um gesto para que eu a seguisse e saiu da entrada da casa, fechando a porta atrás de si. — Vou mostrar onde você vai ficar.

Seguimos por uma trilha na grama até um pequeno casebre que ficava nos fundos da casa principal. Ele era menor do que qualquer quarto que eu havia ficado na vida. Apesar de ser feito de alvenaria, parecia quase um trailer, de tão compacto.

Assim que ela abriu a porta, tossi com a nuvem de poeira que saiu do ambiente.

— É, não está muito limpo. — Abriu um sorriso amarelo.

— Você não limpou? — Deixei escapar no meu típico tom rude.

— Estava ocupada com outras coisas. — Ela colocou as mãos na cintura e cerrou os dentes para mim. — Como dar comida para os animais, já que você chegou bem depois do horário combinado. Você pode começar limpando aqui. Trago a janta para você no fim da tarde e amanhã você acorda antes das seis para dar comida aos animais e limpar as baias.

Mal tive tempo de dizer qualquer outra coisa antes dela se afastar e sair pisando duro, desaparecendo na casa principal.

Puxei a alça da mochila e olhei para o ambiente onde precisaria passar a noite. Era precário, empoeirado e não tinha o mínimo de conforto com o qual eu estava acostumado. Nem precisava perguntar quantos fios tinha o lençol manchado na pequena cama de solteiro.

De repente, percebi que a minha ideia genial poderia parecer bem mais complicada de executar do que achei num primeiro momento.

Meu celular começou a tocar no bolso e eu o atendi.

— Charles?

— Está correndo tudo bem, senhor?

— Depende da perspectiva.

— Não entendi.

— Sou o novo empregado do rancho.

— Essa é uma notícia maravilhosa. — Ele deu uma risadinha do outro lado da linha, o que me deixou um pouco mais irritado, entretanto tentei ignorar.

— Preciso que traga algumas coisas para mim.

— Acabei de voltar para o hotel na cidade.

— Dê um jeito.

— O que precisa, senhor? — Ele engoliu em seco.

— Quero uma faxineira, comida e roupa de cama limpa e descente.

— Agora?

— Claro que agora!

— Vou providenciar.

— Ótimo.

Desliguei a chamada e fui para fora do pequeno casebre. Me recusava a permanecer respirando toda aquela poeira, ácaros e mofo.

Depois de sair dali, precisaria de um tempo digno de descanso com todas as mordomias que tinha direito por ser um Campbell e CEO da Global Oils.

Levou algumas horas para que a faxineira que Charles havia mandado aparecesse no horizonte. Fiz um gesto para que ela passasse por detrás das árvores e se escondesse, afinal não queria que a Olivia a visse.

— Boa tarde, senhor.

— Boa tarde.

— Preciso que limpe tudo e troque a roupa de cama.

Ela assentiu, balançando a cabeça em sinal afirmativo ao entrar no receptáculo de poeira.

Meu bebê, minha redenção (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora