Capítulo 51

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Tayla se levanta assustada, em sua volta todos dormem, as fogueiras já não queimam, apenas um conjunto de brasas brilham no chão. O céu ainda estava escuro, o vento gelado da madrugada batia em seu corpo, Tayla começa a caminhar entre os homens que dormiam pesadamente, quando de repente escuta um canto, suave e assustador, sem palavras, apenas um cantar de lábios, sua melodia era calma e suave mas trazia uma sensação ameaçadora. Tayla sente-se estranhamente atraída por aquilo, e segue o som, o ruído que seus pés faziam quando caminhava era o único som que alcançava os ouvidos de Tayla além daquela canção, não sabia para onde estava indo ou porque estar indo naquela direção, mas estava completamente enfeitiçada pelo canto. Quando saiu do transe Tayla olha a sua volta, estava em um campo vazio, uma grama baixa e seca tocava seus pés, uma brisa leve e úmida chegava até a respiração de Tayla, naquele momento sente um tremor na terra, e ao olhar para o horizonte vê um lobo que era maior que qualquer coisa que colocasse em comparação, os dentes que não tinham cobertura da boca estavam cobertos de sangue como se tivesse no meio de uma caça, e ao seu lado uma criatura bípede, seu corpo era coberto de pelos brancos, tinha orelhas pontudas no topo da cabeça e segurava um arco que reluzia um brilho azul. Tayla cai de joelhos no chão e a sua frente consegue ver uma lâmina infincada no chão que lhe era familiar 

- A adaga de Tef?- Tayla sussurra esticando o braço e a tirando do chão 

- Chegou a hora de começar a marcha dos momentos finais.- Aquela criatura de luz diz e mais duas vozes a acompanha como se fosse um eco sombrio 

- A caçada começou.- Diz o lobo com sua voz animalesca e metálica 

- As nossas marcas lhe guiaram.- Os dois disseram fazendo o mundo tremer e Tayla se erguer com a adaga em sua mão

Tayla se levanta puxando o ar que faltava em seus pulmões, Gustav e Talia que estavam perto se levantam com o susto. Tayla olhava para o chão com um olhar perdido, em sua mão se materializava uma adaga com símbolos diferentes e a voz das criaturas de seu sonho se repetia diversas vezes em sua cabeça 

- ...Tayla...?- Gustav pergunta receoso puxando Talia para trás de si 

Tayla se levanta e observa a lâmina, sua cor branca dificultava a leitura dos símbolos, com calma e determinação Tayla passa a lâmina na palma da mão fazendo um corte consideravelmente fundo, com o sangue que escorria de sua mão Tayla passa pela lâmina e principalmente pelos símbolos, que ao entrar em contato com o sangue absorvem e faz sua cor reluzir por toda a lâmina. Tayla olha pra Gustav que tinha um olhar assustado  

- Chame Yohan.- Tayla diz seriamente 

Não precisou dizer duas vezes, Gustav dá uns passos para trás e corre em busca de Yohan  

- Yohan! Yohan!- Gritou Gustav que corria em sua direção 

- Gustav, o que foi???- Perguntou Yohan assustado enquanto se levanta 

- É a Tayla, ela acordou estranha e do nada apareceu a faca da Tef na mão dela e ela pediu pra eu te chamar!- Gustav fala rapidamente e coloca as mãos nos joelhos recuperando o fôlego 

- Hakon, chame Oleg e reúna o exército vamos ter uma longa conversa com ele hoje.- Yohan diz para o homem ao seu lado que corre para fazer o que lhe foi ordenado.- Gustav chame Greeg e diga para reunir o exército e ir até Tayla.

Gustav assim o faz e alguns minutos se passam até que todos estejam em um grande círculo em volta de quatro pessoas. Tayla, Yohan, Greeg e Oleg, sua aparência era mais velha e cansada que os outros do exército de Yohan, seus cabelos castanhos estavam misturados com longos cabelos brancos, em sua barba a cor platinada era a predominante, em seu rosto tem um grande corte que atravessa sua testa passando pelo olho e chegando até o maxilar, seu olho tem uma coloração avermelhada e a íris estava cinza o que demonstrava que era cego daquele olho

Sua voz rouca e falha era a única que se ouvia entre todos - Quando eu era um menino o mundo estava pequeno, meus pais sedentos por aventura e riquezas entravam em seus barcos de madeira e pediam aos Deuses que os guiassem, mas nos templos a oração era refeita em fervor para um Deus em específico. O Deus que levaria a alma dos que morressem em batalha, nós os chamávamos de Deus entre nós, aquele que perambulava entre os humanos e os levavam, homens que os viram não sobreviveram para dar relatos sobre eles, mas gritavam em desespero quando uma das metades o levava "O LOBO IRÁ ME CAÇAR" diziam enquanto se afogavam no próprio sangue, e uma mulher que a chamava de mãe de todos adoeceu da doença e na beira da morte deu o depoimento que faltava "Vejo a flecha sair de suas mãos e as minhas cinzas caírem no pelo macio deste animal!" e simplesmente foi levada deste mundo, suspirou pela última vez e se foi calmamente. Foi aí que percebemos com o que estávamos lidando, aquele deus, um deus em duas partes era responsável pela morte e a travessia das nossas almas. Os anos se passaram e eu me tornei um serviçal dos deuses, mas era e ainda sou fascinado por aquele deus em específico. Um dia nossa vila foi invadida por homens que não acreditavam em nossos deuses e foi quando invadiram o templo, destruindo as estátuas e os sacrifícios de todos, eu me escondi atrás das oferendas para aquele deus, um dos homens me encontrou e eu o apunhalei nas costelas, aquele homem caiu no chão em agonia e foi quando uma penumbra se instalou nos olhos daquele homem e ele se afogou violentamente no próprio sangue no mesmo instante eu escutei a voz deles "ISSO ERA MEU, ELE ROUBOU MINHA PRESA" uma voz animalesca e demoníaca gritou para algo que já não estava no local "Lembraremos deste roubo, que insensatez, ultrapassou o seu limite, esta foi a sua transgressão." uma voz fria, calma e diabólica diz e depois ambos gritam em fúria "AS NOSSAS MARCAS LHE CAÇARÃO" e depois o silêncio reinou minha cabeça, quando foi terminada a batalha eu lhes dediquei todos os corpos dos inimigos e dos meus amigos, no final da oferenda eu dediquei o meu olho a eles para que eu os pudesse ajudar na vingança e para vingar meus amigos, na noite daquele mesmo dia alguns dos meus amigos me visitaram, em seus corpos estavam misturados com os de animais marinhos, monstros, e me disseram que meu sacrifício e minhas preces foram atendidas, e todos recebemos a marca deles.- O homem tira a capa que usava e em seu antebraço tinha a mesma marca que o grupo de Tayla. - Isto é o sinal que não morreremos por mãos de outro ser a não ser as deles, servimos a um propósito, vingança e a destruição do que afronta nossos deuses.- Oleg diz colocando sua capa e olha para Tayla que tinha adaga em mãos -Estes símbolos, consigo ler. Está dizendo "Aquela que é guiada pela marca".

- Eu tive um sonho, onde eles me disseram que a marcha tem que começar e que "as nossas marcas lhe guiarão"- Tayla diz pegando a adaga 

- Vamos seguir, você vai guiar o exército até os lobos voltarem.- Yohan diz se aproximando de Tayla e fazendo um pequeno gesto de reverência 

Tayla olha surpresa e direciona o olhar para Greeg que faz o mesmo que Yohan, os soldados que estavam em volta se ajoelharam em respeito, Talia, Gustav, Alec e os gêmeos também abaixam a cabeça como forma de respeito. Tayla engole em seco e abaixa a cabeça também, concordando com o que Yohan diz

- Arrumem as coisas, vamos marchar!- Tayla diz com um sorriso no rosto 

Gritos animados e encorajados foram ouvidos, instantes depois os homens saem para arrumar as coisas. Quando todos estavam prontos e a postos pra começar a marcha 

Tayla olha para os amigos que a encoraja com olhares 

Tayla se concentra e escuta um sussurrar no vento "para o norte"

- Vamos pro norte.- Tayla diz para Greeg e para Yohan 

-PARA O NORTE!- Ambos gritam com entusiasmo 

A jornada dos companheiros (Vol2)Onde histórias criam vida. Descubra agora