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Boa leitura! 💖

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Quinta-feira

— Mãe, pelo amor de deus, eu não quero ir. — Falei com o melhor tom de choro que consegui forçar, porque eu realmente estava desesperada. — Quase vinte anos nas costas e ainda preciso ser forçada a fazer coisas que eu não quero?

— Você paga suas contas? — Mamãe virou dramaticamente. Eu neguei com a cabeça, sem conseguir olhar em seus olhos. — Já está em uma boa faculdade? — Neguei de novo. — Ajuda em casa sem eu ter que pedir?

— Ei! Ajudo sim, você que não vê... — Fui abaixando minha voz gradativamente, sentindo o olhar dela queimando em cima de mim.

— Filha, para de agir como se fosse o fim do mundo. Vão ser só duas semanas na casa da sua avó. — Ela abriu o porta malas do carro, jogando minhas coisas lá sem delicadeza.

— Mas lá nem tem internet! — O desespero é mais que notável, e eu nem tô brincando. Na casa da vovó não tem wi-fi, e a televisão é a cabo.

— É bom que você gasta seu tempo fazendo algo útil. — Ela fechou com força e deu a volta no carro como se eu não estivesse ali. — Vamos, Shuhua, entra nesse carro logo. São duas horas de viagem, e quando eu voltar ainda vou trabalhar.

Engoli minha tristeza, sentindo o gosto amargo de muitas palavras que eu não disse porque eu sei que não vão adiantar de nada.

Sentei no banco de trás em birra, e já fui colocando meus fones de ouvido depois de ajustar o cinto de segurança. Apertei na primeira música que apareceu, e por sorte Mr. Doctor Man do Palaye Royale começou a tocar; ela é barulhenta o suficiente para me fazer esquecer dos meus pensamentos por enquanto. Depois de alguns segundos, fui afundando no banco e deixando meu corpo relaxar, pensando que se duas semanas atrás já passaram rápido, então daqui a duas semanas logo também estarei livre.

Sendo sincera, nem lembro direito a última vez que fui na casa da velha, mas foi péssimo porque não tinha internet e eu era uma adolescente meio amargurada - não que muita coisa tenha mudado. Mas enfim, agora sou uma adulta e tenho maturidade para lidar com isso.

Eu até entendo porque minha mãe quer que eu vá, já que a vó não recebe muitas visitas por conta do trabalho dos filhos e netos, então ela deve se sentir meio sozinha.

Depois de uma hora de viagem, comecei a ficar inquieta enquanto olhava pela janela do carro, sentindo aquela necessidade estranha de perguntar se já estamos chegando a cada dois minutos. Em algum ponto começou a chover, e o cheiro ruim de terra molhada me deixou meio enjoada. Como eu não queria vomitar, apenas aumentei o volume da música e fiz o meu melhor para respirar fundo e tentar dormir. Por sorte, eu consegui sem muito esforço.

Acordei com o barulho singelo - lê-se estridente - da buzina do carro. Tenho certeza que minha mãe fez de propósito, então só me espreguicei e saí do carro com cara de derrotada. Viagens são péssimas quando você não tá com a mínima vontade de chegar.

A rua continua a mesma das minhas lembranças, assim como a casa da minha avó. Ela tem uma cor azulada e parece que foi pintada recentemente, porque não tinha sinal de rachadura e essas coisas que deixam o visual da casa feio. O pequeno jardim que enfeita a frente também é bonito, cheio de flores que parecem bem cuidadas e quase me abaixei para pegar uma, mas o barulho da porta abrindo chamou minha atenção.

— Shuhua, minha netinha! — Era a velha. Ela carrega seu sorriso de sempre, e veio andando até mim com seu vestido florido balançando e seus chinelos fazendo barulhinho no chão. Uma fofa!

— Oi, vó, quanto tempo. — Sorri de volta, retribuindo o abraço caloroso que ela me deu. Eu sou só um pouco maior que ela, o que me deixa feliz, já que posso me sentir um pouco alta.

Estrela No Meu Universo • SooshuOnde histórias criam vida. Descubra agora