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“Meu amor, pequeno, grande amor
Que mora longe, numa branca estrela
Me fará sorrir, Me fará chorar
Quando ele chegar, quero estar aqui”
Papas da Língua — Pequeno Grande Amor
10 de outubro de 2009 — 19h35
Querido Diário,
Já faz três meses que eu e Mau terminamos, três meses que transferi às pressas a faculdade de medicina, três meses que deixei minha casa, meus amigos, minha cidade. A fcha já caiu, mas ainda não entendo como tudo isso aconteceu de maneira tão rápida. Quando nos conhecemos ele era sempre tão gentil e educado — como deixei isso acontecer? Como não percebi antes de me envolver tanto que ele seria assim? Sinto desespero ao sair de casa. Olho para todos os lados quando abro a porta, mesmo a quase mil quilômetros de distância de Belo Horizonte, em outra cidade, outro estado. Sem que ninguém que eu conhecia e convivia sabendo que agora eu moro em Curitiba, no Paraná, eu o sinto por perto, sinto medo.
Com a loucura repentina de tudo que aconteceu, hoje estamos bem instalados. Meu pai estava em um processo de transferência da empresa em que trabalhava, minha mãe havia pedido a conta no dia em que tudo aconteceu e se dedicou a apenas cuidar de mim. Mau enganou a todos. Todos os meus amigos gostavam dele, minha mãe dizia que ele era o genro dos sonhos, meu pai saía para pescar, e faziam também o mercado do churrasco para o almoço de domingo, que acontecia toda semana na nossa casa. Ainda sinto por ele, apesar de tudo o que aconteceu, o mesmo que senti quando o vi pela primeira vez naquele corredor cheio, mas que parecia vazio como se estivéssemos somente nós dois ali, trocando olhares, e eu fngindo que não tinha ouvido ele me chamando. Lembro-me do frio na barriga que senti ao ouvir aquela voz grossa e um pouco rouca chamando pelo meu nome. Se eu soubesse que o garoto doce com sorriso encantador era na verdade uma pessoa totalmente diferente da que eu conheci, sem dúvida nenhuma eu jamais teria me envolvido. Preferia não descobrir o que era o amor, o que era ser amada, do que amar alguém assim, e depois de um tempo ver que amei uma pessoa que se mostrou tão diferente do que realmente era.
Era surreal a maneira como ele me tratava, sempre com apelidos carinhosos, de forma gentil, me tocando, fazendo elogios. Apoiava tudo que eu decidia fazer, esteve ao meu lado nos piores momentos dos dois primeiros anos da faculdade, me ajudava a estudar para as provas, tomava matéria. Uma vez até fez um resumo de quatro capítulos do meu livro de anatomia para eu estudar, enquanto eu lia a mesma matéria pelas anotações do caderno. Fazíamos planos futuros, casaríamos, teríamos dois flhos, um casal. A menina, mais velha, se chamaria Ayala, e o menino, que viria uns dois anos depois, seria Artur. Eles cresceriam, casariam, teriam flhos e assim nos tornaríamos avós babões que estragam a educação que os pais dão aos seus flhos. No fm, iríamos caminhar de mãos dadas pelo calçadão de Florianópolis, onde queríamos morar, até que a morte nos separasse...
Até que o pior aconteceu. Não me sinto preparada para escrever o dia de tormenta e angústia que vivi quando decidi me separar de Mau. Um dia vou escrever aqui, para que eu lembre e não cometa os mesmos erros em meus próximos relacionamentos (se é que eles vão existir um dia novamente), mas por enquanto não quero reviver nenhum daqueles momentos, mesmo que seja apenas em lembranças tristes.
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Relato de Nós Dois
RomansaEsta obra está registrada na biblioteca nacional, protegida pela lei dos direitos autorais. Qualquer reprodução da mesma sem os créditos de autoria, pode acarretar em punição de acordo com a lei. SINOPSE Melissa, 17 anos e uma delicadeza sem fim...