A tensão da mudança

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A busca da excelência exige ação. Mas sem cautelaimobilizadora nem ímpeto inconsequente.

Se uma empresa procura estabelecer novos paradigmas e quer construir excelência, é necessárioorganizar-se de outro modo. O que é preciso para isso? Que se aja. Quando é preciso agir todas asvezes que é necessário mudar, existem duas atitudes muito comuns no comportamento de algunsfuncionários: a primeira é a pessoa cair na cautela imobilizador

O que é a cautela imobilizadora? É a atitude daquele ou daquela que, ao ouvir que é precisomudar as coisas, dando mais presteza, maior velocidade, maior eficácia, maior segurança, diz:"Vamos esperar mais um pouco, ainda é cedo. Faz tempo que está assim, vamos deixar desse modo.Aqui no Brasil é assim, as coisas demoram um pouco a acontecer". Essa é a cautela que imobiliza,que impede que as coisas aconteçam.

Imaginem uma unidade do Corpo de Bombeiros com uma cautela imobilizadora. Alguém liga porcausa de um sinistro e o bombeiro diz: "Calma, explica pra mim, está chovendo ou não está? Achoque a gente vai daqui a pouco. Conheço esse tipo de incêndio. Apagamos incêndios assim há dezanos. Não é preciso ter pressa não". E nesse tipo de situação há um sentido de urgência fortíssimo.

Cabe aqui Fernando Pessoa, estupendo poeta português, autor de uma das frases mais magníficasque conheço e de que mais gosto na vida e que vale para essas pessoas que, frente à necessidade demudanças, pedem para esperar um pouco, que ainda é muito cedo ou que dá muito trabalho: "Àvéspera de não partir nunca, ao menos não há que arrumar malas". Há pessoas que, para não ter otrabalho de arrumar mala, ficam adiando a partida.

Face à mudança, existe uma outra atitude que é perigosa: o ímpeto inconsequente. O famoso"vamos que vamos". É o caso do time que vai para o vestiário no intervalo do jogo perdendo de 1 a0 e ouve do treinador a seguinte orientação: "Pessoal, a coisa tá feia, o momento é grave. Temos departir para cima do adversário. Vocês estão jogando com cautela imobilizadora. Não dá. Temos departir para cima deles. Perdido por um, perdido por cinco. Vamos com tudo para cima". E o timeperde por 5 a 0 ao fim dos noventa minutos. 

Cuidado! Cautela é necessária e ímpeto também. Mas não pode ser uma cautela que imobilizenem um ímpeto inconsequente. Volto à imagem do soldado do Corpo de Bombeiros. Por queadmiramos as pessoas que integram o Corpo de Bombeiros? Porque doam a vida para que a vida semantenha. Há um dado concreto: a pessoa tem de ser bem preparada para lidar com a cautela e com oímpeto. Um bombeiro é alguém que, ao soar o aviso de um sinistro, mede a qualidade do que faz pelotempo veloz que consegue chegar ao lugar do acidente e por criar uma condição que nos permita sairdo local. Suponhamos que o bombeiro se dirija com velocidade ao local, mas, tomado pela cautelaimobilizadora, diga: "Ah, vamos esperar um pouco. Esta porta está meio quente. Não. Deixa. Quemsabe chove e apaga isso". 

Que outra atitude é perigosa? Ao ser avisado do incêndio, o bombeiro entra de vez no local, semsaber se houve desabamento, sem checar se há vazamento de gases etc. É um perigo. 

É preciso saber equilibrar a tensão da flexibilidade com a rigidez. Existe uma tensão entre o queeu mantenho, que é a rigidez, e o que eu mudo, que é a flexibilidade. Como é que se vive essa tensão?Estamos vivendo a emergência de novos e múltiplos paradigmas. São novos tempos que exigemnovas atitudes. Não dá para fazer a velha edição para as coisas que caminham em direção àexcelência. 

No trajeto até o novo patamar é preciso lidar com uma tensão. Qual é a tensão? A tensão damudança. Toda pessoa que precisa mudar corre um risco: o do desequilíbrio momentâneo. Quandoaprendemos a andar de bicicleta, aprendemos a nos equilibrar lidando com a possibilidade da queda.Nenhum e nenhuma de nós nasceu sabendo andar. Quando alguém sofre um acidente e precisa fazerfisioterapia, há o preparo não apenas do músculo para voltar a andar, mas também do espírito, paraque a pessoa saiba que corre o risco de desequilibrar-se.

Coragem para enfrentar o desequilíbrio momentâneo é garantia de estabilidade mais adiante. 

Qual é a tua obra? - Mario Sergio CortellaOnde histórias criam vida. Descubra agora