Síndrome de Rocky Balboa

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Todos querem aumentar a empregabilidade, mas nem todosestão dispostos a passar pelas atribulações necessárias.

Na hora de escolher um curso de aperfeiçoamento ou uma pós-graduação, muitos profissionaissão acometidos pelo dilema entre fazer algo pelo qual têm genuíno interesse ou algo para atenderuma demanda do mercado de trabalho. No momento de decidir entre uma formação mais ampla emais prazerosa e o atendimento a uma necessidade imediata de carreira, é possível ter equilíbrio?

É preciso, de fato, saber equilibrar, mas não é tão fácil. O pensador alemão Karl Marx falava emreino da liberdade e reino da necessidade. Só é possível chegar ao reino da liberdade quando o reinoda necessidade está absolutamente resolvido. Quando as suas necessidades estão satisfeitas, você vaipara as escolhas livres. Se alguém precisa fazer algo, porque isso permitirá que, adiante, ele dê umpasso para fazer o que gosta, então ele precisa gostar também daquela necessidade. Não adianta irpara algo que é absolutamente necessário com lamentação, dizendo: "Está vendo? Não estou fazendoo que eu queria de fazer". Bom, mas se você sabe que aquilo é apenas uma etapa para uma coisamelhor, então fará.

Um exemplo: pouca gente gosta de dieta (a menos que tenha algum tipo de obsessão); no entanto,quando você faz uma dieta, passa por um desconforto temporário, mas tem clareza de que aquiloservirá para a melhoria da sua saúde, para você disputar uma prova de atletismo, para poderparticipar de um evento mais em forma; aquele desconforto se torna um estímulo. É a chamada, namitologia grega, jornada do herói. O herói é aquele que, antes de chegar ao ápice, apanha, sofre, edepois começa a dar a volta por cima. Existem pessoas que têm "síndrome de Rocky Balboa". Noprimeiro filme da série, Rocky, um lutador (1976), ele precisa lutar no começo da história. Aí eleapanha, apanha e, em seguida, apanha um pouco mais. Depois, ele se prepara. Só que a preparaçãodele, no filme, passa em dois minutos. São as cenas em que ele aparece correndo pelas ruas com seutreinador, pulando corda, socando o saco de areia. A sequência passa rapidamente e aí ele já estápronto. O que é essa "síndrome do Rocky Balboa"? É você imaginar que, como a cena passa rápido,que você rapidamente estará preparado e apto para ir ao ringue derrotar o seu adversário. E não éassim. Há cursos, especializações, atividades que demoram, que exigem trabalho, viagem, perda deuma parte do tempo para lazer e para a família.

A grande questão do equilibro é: vale? A pessoa diz assim: "Não quero misturar a minha vidaprofissional com a minha vida pessoal". Isso é uma bobagem, pois a sua vida profissional faz parteda sua vida pessoal. Dizer que não quer misturar é não saber lidar com o problema. É supor que, emmeio ao tiroteio, se você fechar os olhos não será atingido. Por isso, no curso que você vai fazer ounuma busca de educação continuada, é preciso olhar: "Posso ir agora em direção à liberdade e fazersó aquilo que quero ou preciso antes passar por um treinamento para garantir o patamar e, aí sim, irem direção a esse outro ponto?" Se eu sei que preciso passar por algumas atribulações, mas elas sãoa obtenção do positivo, farei com prazer e alegria. Se eu não conseguir entender por que estoufazendo aquilo e ficar em lamúria de forma contínua, aí o que vou obter é mero sofrimento. 

Vamos retomar: não confunda cansaço com estresse. Você tem cansaço quando uma atividadelhe exige bastante, mas é prazerosa. O estresse se instala quando aquilo que você faz lhe exigebastante, mas você não vê a razão de fazê-lo. Jogar uma hora de futebol cansa, mas não podeestressar. Resolver um problema de geometria cansa, mas não pode estressar. Trabalhar num projetocansa, mas não pode estressar. E você se estressa quando aquilo que faz não tem muito sentido.Estudar segue a mesma lógica. Por que muitos de nós nos estressamos na escola básica? Porque, vezou outra, você perguntava: "Professor, por que eu tenho de estudar isso?" e ele dizia: "Um dia vocêvai saber". E você, aos 14 anos de idade, ficava estudando as leis de Newton, tendo de decorar que"os corpos se atraem na razão direta das suas massas e na razão inversa do quadrado da distânciaentre elas", sem que tivesse conhecimento da finalidade daquilo. Ao fazê-lo, aquilo o estressava. 

O mesmo vale para um curso. Se faço, mas não compreendo a razão, eu não consigo fruí-lo,aproveitá-lo, só vou obter estresse. 

Qual é a tua obra? - Mario Sergio CortellaOnde histórias criam vida. Descubra agora